quarta-feira, 26 de março de 2008

O bufo

Acabei de chegar de um casamento e, confesso, perante a intimação mais recente da Direcção Geral das Contribuições e Impostos, apelando a que cada cidadão seja um fiscal, sinto-me obrigado a delatar aqui as quantias que os noivos gastaram, o número de convidados, o restaurante do copo de água, o número de fotos que o fotógrafo tirou e a quantidade de vestidos super chiques que se cruzavam ante o olhar de desdém das suas donas.
E tenho que ser eu a tratar desta delação para fazer um favor aos meus amigos noivos. É que no meio de tantas coisas interessantes que, enfim, teriam que fazer hoje à noite, não teriam tempo para preencher o questionário. E talvez nem se tivessem dado conta se lá no restaurante havia outras festas, ou não. Bem, festas, festas devem estar eles a ter pelo corpo todo. Claro que só estão nisso, porque eu me encarreguei de fazer de bufo. Sou amigo. Deles e do fisco. E do país. Que patriótico me sinto!
Deparo-me, no entanto com uma dificuldade: pergunta aqui quantos preservativos é que foram usados na noite de núpcias… (deve ser para apanharem as farmácias, também).
Telefonei e fiquei a saber que não compraram preservativos. Apenas Aspirina, por causa das dores de cabeça da minha amiga.
O questionário do fisco falha nesta questão. É grave! Não pensaram em tudo.
Amanhã vou a um funeral. Consta-se que já intimaram o defunto a preencher um questionário sobre as despesas com o funeral. E se não responder vai pagar uma coima.
Enfim, a vida não está nada fácil. Nem a morte, pelos vistos.

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19 Comentário(s):

Blogger José Miguel Marques disse:

carissimo, creio que te deixaste ir pelo caminho mais fácil, que foi o traçado pelos jornais, televisões, etc.
nem os noivos deixam de ter intimidade da vida privada, nem deixam de ter lua de mel (ou fel), nem nada disso.
afinal o que se pretende e que vem a ser feito a todos os que deram o nó desde 2004, não foi agora descoberta a pólvora, é apenas que cumpram um dever civico de colaboração com o fisco.
e ninguém, como tu e eu que pagamos impostos, pode ficar indiferente quando se ouve num casamento os valores envolvidos muitas vezes apenas para reserva do espaço fisico onde ocorre a boda, se nesses valores estiver no minimo uma gorjeta de 21% que ninguém controla.
basta ver o exemplo de um qualquer trabalhador contratado a recibos verdes que receba brutos cerca de €650,00/mês, descontando 20% para IRS, ao fim do primeiro ano ainda tem de pagar por mês mais cerca de €140,00 para a segurança social, para além de ter de pagar, do seu bolso, seguro de acidentes de trabalho, etc.
facilmente se verifica que no final do mês tal pessoa fica com um rendimento liquido de €380,00!!!
ou o que dizer de quem recebe o salário minimo nacional?
não era preferivel que todos pagassem para que todos pagassem menos?
eu continuo a acreditar que assim será, não percebi foi o folhetim e alarido que fizeram com esta situação.

quarta-feira, 26 março, 2008  
Blogger Amaral disse:

JL
Com humor traças aqui um retrato caricato. Certamente fazes de propósito em exagerá-lo em alguns aspectos, mas não deixa de ser uma realidade que nos deve envergonhar.
Ao que estamos a chegar só para nos mostrarmos bons alunos da europa. O humanismo ficou nas gavetas, pois o que interessa é números...
No meu blog coloquei um post sobre um livro de Miguel Real "A Morte de Portugal" que aborda este tema; o país que perde a sua identidade.
Abraço

quarta-feira, 26 março, 2008  
Blogger Neoarqueo disse:

Eu concordo que se faça um controlo deste tipo de situações, afinal de contas eu sou parte activa neste tipo de economia e pelas quantias que recebo passo sempre recibo, logo pago impostos. Porque é que outros que participam activamente nesta actividade económica não se colectam ou se o fazem insistem em não passar recibos?
Onde todos pagam, todos pagam menos.

quarta-feira, 26 março, 2008  
Blogger Vica disse:

Este teu post tá algo!! Engraçadíssimo!

quarta-feira, 26 março, 2008  
Anonymous Anónimo disse:

Vai o cidadão comum levar com uma multa devido ao, possível, imcumprimento de outros.
Se as despesas do casamento dessem para, por exemplo, o IRS ainda se compreenderia.
Já não basta o estado depenar o pobre contribuinte e este ainda tem que trabalhar e fazer a obrigação do estado que é controlar e fiscalizar quem realmente ludibria ou tem apetência para ludibriar a DGI.
O cidadão faz o papel do estado sem contrapartidas, está bem!
A inoperância do estado seria, desta forma, atenuada à custa do cidadão.
Que trabalhem, que sejam pro- activos e que tenham mão pesada para quem não cumpre.
Para não falar de outros veja-se os clubes de futebol que pagam ordenados de milhões e não pagam as suas obrigações fiscais.
Tenham coragem para afrontar os grandes e os incumpridores e deixem o simples cidadão que apenas deseja paz e tranquilidade.

quinta-feira, 27 março, 2008  
Anonymous Anónimo disse:

Enfim, cá entre nós foi uma noticia caricata, não pela dissonância da atitude ou medida. Um pouco de controle não faz mal nenhum, mas que as várias instituições entenderam o “pedido” de uma forma estranha lá isso… e não é que Viseu foi o distrito onde as finanças fizeram perguntas mais intrometidas, ridículas e sem nexo?
Um besito

sábado, 29 março, 2008  
Blogger Al Cardoso disse:

O que e de estranhar e isto vir de um governo socialista, ou se calhar ate nem e de estranhar!!!

Parabens pelo seu novo "trabalho"!

Um abraco amigo e dalgodrense.

domingo, 30 março, 2008  
Blogger Maria Cota disse:

Olá João!
Mais um texto notável, percorrido pela mais corrosiva e apurada ironia que, de facto, é adequada perante o ridículo da situação exposta. O nosso país é profícuo em anedotas deste tipo! Tal como dizia José Cardoso Pires: "Portugal não é um país, é um sítio mal frequentado"...

Beijinhos e "aquele abraço"
Ana Cota

domingo, 30 março, 2008  
Anonymous Anónimo disse:

Acho que toda a gente que teve ou não o gosto de se casar, sabe muito bem o que é que teve que pagar, a toda essa malta (copo agua,florista,fotografo,aluguer al pavilhão,al carro ect). E agora pergunto eu quantas facturas receberam(nepia).Acham justo para um cidadão deste Pais que paga todos os seus impostos na integra, senão está FFFFF, deixar ou pactuar, que os outros não paguem o seus impostos? Já que se fala em tantas fugas ao fisco, a mim não me incomudaria mesmo nada se tivesse que responder a esse questionario. ze

domingo, 30 março, 2008  
Blogger Rui Quental disse:

jl
acho os noivos te enganaram, porque eu também foi a esse casamento e o noivo (que também é meu amigo) disse-me que não tinha comprado aspirinas (porque nestas alturas ainda não há dores de cabeça)mas sim 4 caixas de preservativos dos chineses (que são mais baratos)para não correr o risco de ser pai logo na "primeira "noite.
temos que acabar com só levas factura se pedires devia ser obrigatório a emissão de factura mesmo quando não é solicitada. um abraço

segunda-feira, 31 março, 2008  
Blogger Alex disse:

JL, imagina com seria se o teu amigo fosse cigano e o casamento dele durasse três dias. Como é que o poderias ajudar a apurar o IVA?
...
Mas que raio. Não haverá outras maneiras de o estado fazer bem o seu trabalho de pôr essa malta a pagar impostos, sem ter que se recorrer a métodos “pidescos”?
Não tarada nada anda por aí outra vez a malta de lápis azul e vermelho no bolso.

terça-feira, 01 abril, 2008  
Blogger CMatos disse:

Pois não te bufes mais, e não confundir bufo com bufa, e passa lá pelo cantinho, para chorares um bocadinho...
É só ver e ouvir!

:-) Boa semana.

sábado, 12 abril, 2008  
Anonymous Anónimo disse:

Lucky Lucke tinha os irmãos Dalton. Nós, que me lembre, nos últimos anos, com alguma notoriedade, temos tido os irmãos Cavaco, os irmãos Portas, os irmãos Pinto e, agora, num afã permanente, os irmãos Pedroso. O seu último alvo é o António Caldeira, do Portugal Profundo. Nos interstícios de flagelarem o próprio Estado e respectivo erário, estão a molestá-lo em tribunal, ao desvalido António, a pretexto de 43 crimes de difamação.
Estou em crer que há duas infelizes coincidências que convergem nesta sombria encruzilhada: por um lado a deficiente fulanoscopia do António Caldeira; por outro, a cara de caso do Pedroso que é Paulo. Dupla e problemática deficiência, portanto. Do Caldeira que, com os olhos que tem na cara, não reparou nas asas penugentas que o outro, bem amochiladinhas, carrega nas costas; do Pedroso que, com a cara que tem à volta dos olhos e a falta de barba para lá pôr, lembra mais cu que fronha de homem e induz em erro o transeunte. Resultou disto incriminado o António por via dos olhos que traz na cara, como incriminante é no outro a falta de cara onde traz os olhos.
Falta apenas dizer que, mais que tudo isto, o que me deixa perplexo é como é que se pode ainda processar alguém por difamação neste país. Especifico: como é que se pode julgar como crime algo que já alcançou foros de costume? Em que os eleitos existem para difamar, mais por acções que por palavras, aqueles que os elegem; e os eleitores existem para difamar, mais por palavras que actos, aqueles que acabam de eleger... Pelo que, vista friamente a coisa, difamar tornou-se um crime impraticável, equivalente ao homicídio dum cadáver.
Não; crime, agora, só se for falar verdade.

domingo, 13 abril, 2008  
Anonymous Anónimo disse:

Portugal Profundo: Outro a contas com a «justiça» de Abril...

«Começa amanhã, 10 de Abril de 2008, pelas 9:30 da manhã, no Tribunal da Boa-Hora, 3.ª Vara Criminal, em Lisboa, o meu julgamento, por tribunal colectivo, no qual sou acusado de 49 crimes de difamação a Paulo Pedroso, por queixa intentada por este, relativamente a posts que escrevi neste blogue Do Portugal Profundo. (...) O adiamento não alivia, suspende. Costas moídas por quatro processos políticos de alegados delitos de informação política e de opinião política em três anos e meio de blogue, os músculos retesam-se, habituados ao sacrifício pessoal, e a moral prepara-se para honrar os princípios que seguimos e a responsabilidade de cidadania que nos impõem. Nesta hora, e nas outras todas, que são as do combate pelo desenvolvimento social, lembro todos aqueles que sofrem perseguição e injustiça por causa da expressão das suas ideias, em especial aqueles que padecem processos judiciais por esse motivo. Muito mal vai uma sociedade que prefere a protecção daqueles que são poderosos em detrimento da liberdade de expressão dos simples cidadãos. A democracia representativa em Portugal chegou ao nadir do seu percurso: a opressão dos cidadãos pelo poder que os deveria representar e defender.(...)»

Retirado do blogue Do Portugal Profundo.

De qualquer forma «teve sorte», pois não ficou em prisão preventiva, a aguardar julgamento por causa daquilo que pensa ou diz. A tal treta que o Adelino Caldeira falava, em Abril de 74

segunda-feira, 14 abril, 2008  
Anonymous Anónimo disse:

Estranhamente, esta notícia não passou na comunicação social, normalmente tão ávida de "julgamentos mediáticos":
"Começa amanhã, 10 de Abril de 2008, pelas 9:30 da manhã, no Tribunal da Boa-Hora, 3.ª Vara Criminal, em Lisboa, o meu julgamento, por tribunal colectivo, no qual sou acusado de 49 crimes de difamação a Paulo Pedroso, por queixa intentada por este, relativamente a posts que escrevi neste blogue Do Portugal Profundo.»(...)
"O adiamento não alivia, suspende. Costas moídas por quatro processos políticos de alegados delitos de informação política e de opinião política em três anos e meio de blogue, os músculos retesam-se, habituados ao sacrifício pessoal, e a moral prepara-se para honrar os princípios que seguimos e a responsabilidade de cidadania que nos impõem. Nesta hora, e nas outras todas, que são as do combate pelo desenvolvimento social, lembro todos aqueles que sofrem perseguição e injustiça por causa da expressão das suas ideias, em especial aqueles que padecem processos judiciais por esse motivo." (...)
"Muito mal vai uma sociedade que prefere a protecção daqueles que são poderosos em detrimento da liberdade de expressão dos simples cidadãos."

quarta-feira, 16 abril, 2008  
Blogger Maria Cota disse:

Querido João,

Adorei a visita inesperada de hoje e peço desde já desculpa pelo escasso tempo que te pude dedicar, mas já se sabe como é: "Patrão dentro, dia profano na loja"!! eh eh eh!
Temos de combinar um almocinho o quanto antes para pôr a (já extensa) conversa em dia!

Beijinhos e "aquele abraço"
Ana

quarta-feira, 16 abril, 2008  
Anonymous Anónimo disse:

Faz hoje um mês que está aqui este "bufo".
Estou farto de bufos ...
Vamos lá a dar ao pedal, mr. Lopes!

sábado, 26 abril, 2008  
Anonymous Anónimo disse:

Dia da Carochinha (rep)



Nem reparei, mas parece que ontem foi Dia da Carochinha...
Cantemos, pois:

Da Nação fizeram Nacinha.
Por via de Revolução?
Não,
por via de revolucinha.

Do farão ficou farinha.
Cabe dentro dum caixão?
Não,
cabe dentro duma caixinha.

Da intenção restou sentencinha.
Trataram do povão?
Não,
trataram da vidinha.

E a Grande Marcha (do Pogresso) ficou murchinha.
Perderam a tesão?
Não,
perderam a espinha.

Salvou-se a corrupção agora rainha.
Venderam-se em leilão?
Sim,
e mais à puta da alminha.

segunda-feira, 28 abril, 2008  
Blogger Mia Pierrèt disse:

Depois de algum tempo desaparecida em combates academicos, tou de volta!
Primeira paragem, foi no teu blog. :)
Neste assunto delicado, já tenho uma opinião formada:
1- Agr é que n me caso mesmo! Ainda aparece o Fisco com o formulário no meio do copo d'água...
2- Tou decidida a n contribuir para os impostos. Tou a meses de me tornar mais um elemento da geração "IMIGRA" ou "Europeia"...
3- Aprendi algo com o BPN (e apoio os gato fedorento): a pedir emprestado ao banco... é pedir ao milhões... assim os portugueses sao solidários e ajudam-me a pagar o que devo.
Quanto todos pagam, pouco me custa ! :P

bacci bacci

sexta-feira, 05 dezembro, 2008  

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