quinta-feira, 30 de março de 2006

O cromo no barbeiro

Há dias estava no barbeiro e, enquanto um dos ouvidos, escutava o zurzir das tesouras à espera que a pontaria milimétrica do barbeiro fizesse uma sangria desatada, o outro mantinha-se fiel aos bons costumes e escutava, atentamente, um dos cromos cá da terra. Sim, porque terra que se preze não tem só um. Tem uma colecção.
E dizia num tom jocoso e fanfarrão: "Virei-me para ele e perguntei-lhe: O senhor professor diga-me lá em que dia e em que ano se deu o terramoto de Lisboa? Claro que ele não sabia, uma vergonha para um professor. Quer dizer, disse-me o ano. Eu tive que lhe dizer o resto: Foi em 1 de Novembro de 1755, homem. Enfim, como é que o nosso ensino não há-de estar como está." Um dos ouvintes, a medo, ainda sugeriu: "Se calhar não era professor de história, já pensou nisso? Sei lá, podia ser de matemática". O cromo respondeu-lhe: "Não importa, tinha que saber. Olhe que eu tenho cá uma memória. Lembro-me de tudo o que estudei no meu tempo".
De certa forma deixei-me, também, impressionar pela memória do nosso herói. Mas, os tempos são outros e as actuais exigências são vorazes demais para se compadecerem com o nosso cérebro que apenas guarda, por simpatia, o que julga importante.
Saí a pensar que uso daria o cauteleiro àquela informação que tinha gravada a ferro e fogo na massa encefálica. É que o poder da informação reside justamente aí: o que se faz dela. Um pouco ao jeito da sabedoria popular: "Diz-me o que sabes e o que fazes com isso".
Em todo o caso, pensei, a memória do homem era impressionante. Já não se fazem memórias assim. Nem se estimam. Há, curiosamente, quem diga por ironia que a própria indústria farmacêutica está mais vocacionada para a saúde do sexo do que do cérebro. De tal modo que, dizem, no futuro vamos ter todos sexos maiores e mais potentes mas não nos lembraremos, exactamente, para que servirão e o que fazer com eles.

32 Comentário(s):

Blogger Eduardo Leal disse:

Ainda eu não era nascido e o meu Pai (Professor Primário ajuramentado pelo regime de então) distribuía palmatoadas, reguadas e varadas nas orelhas a todos os seus alunos que se atrevessem a desconhecer os rios e afluentes das colónias (mais tarde províncias ultramarinas) e as linhas dos caminhos de ferro, ramais, estações e apeadeiros de toda a vasta rede de transportes ferroviários do império.
Não sabíamos nada de política, nem interessava porque o povo queria-se ignorante.

Mas se algum de nós se perdesse no império, sempre saberia de que rio era a água que bebia e qual o comboio de regresso a casa...

sexta-feira, 31 março, 2006  
Blogger Vica disse:

Hahahaha, adorei esta... sexos maiores e mais potentes... e zurzir!! Zurzir!!! Essa palavra eu não escuto desde... bah, nem lembro mais!! Beijos.

sexta-feira, 31 março, 2006  
Blogger Vica disse:

Espero que tenhas sobrevivido ao zurzir das tesouras!

sexta-feira, 31 março, 2006  
Blogger Aladdin Sane disse:

Acerca da última frase... descuraste o importantíssimo pormenor do "world famous" desenrascanço português.

Ah! Ah! Ah! Ah! Aaaaaaaaaaaaahhhhhhhhh....
:P

sexta-feira, 31 março, 2006  
Blogger Unknown disse:

Olha JL, podias perguntar ao senhor a quanto o PSI20 tinha fechado, no dia anterior. Perguntar qual n numero da cautela que nos vendeu em 2000 e que não estava premiada! Assim, apanhavas o Homem desprevenido … se te respondesse, entregavas ao “Cabeça de memória” 10 euros se não te respondesse, nesse caso o “ cabeça de memória” não podia ser cauteleiro!
E retiravas-lhe, logo ali, o poder de vender a sorte grande.
Irra … que eles andem aí!!!!!!!!!

Abraços

sexta-feira, 31 março, 2006  
Blogger José Miguel Marques disse:

pois se o futuro da industria farmacêutica é esse, declaro já que vou deixar de tomar qualquer tipo de medicamente, é que também preso o cérebro e quero continuar a saber para que serve cada parte do meu corpo, no caso em apreço, o sexo e o que fazer com ele. tê-lo(a) maior sem saber o que fazer com ele não obrigado.
quanto ao caso que contas, é o tipico português que critica só por criticar sem se aperceber da evolução dos tempos ou para que serve a critica

sexta-feira, 31 março, 2006  
Blogger Tilangtang disse:

ó João, belo texto!
não sou nada a favor de decorar muitos nomes, datas, etc...então para que servem os livros, registos e afins? o que interessa mesmo é a mensagem que se tira dos acontecimentos e são importantes por isso, pelo que podemos aprender com eles.
e se me perder no Império, olha, entro no primeiro comboio que aparecer e deixo-me ir...

sexta-feira, 31 março, 2006  
Blogger Al Cardoso disse:

Sera que o cavalheiro ainda se lembra de tudo, o que lhe meteram na cabeca, a reguada e vara de marmeleiro? Eu felizmente tive uma professora que nos meus primeiros anos escolares nao nos deixava decorar nada, tinhamos que esplicar tudo pelas nossas proprias palavras. E ate hoje lhe estou agradecido, senao ainda estaria hoje a fazer figura de "cromo". Ou estarei?

sexta-feira, 31 março, 2006  
Blogger rafaela disse:

Muito bem apanhado esse cromo, é dos mais dificeis.

=)

sexta-feira, 31 março, 2006  
Blogger Era uma vez um Girassol disse:

Já me fizeste rir...Bem preciso!!!
Bjinho

sexta-feira, 31 março, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

esplica lá cardoso se foi a tua professora quem ensinou o saramago a escrever e a pontuar,esplica.

sexta-feira, 31 março, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

Faço minhas as words do amigo Eduardo Leal !
De resto, o post está um mimo...hilariante mesmo :-)

Beijinho

sexta-feira, 31 março, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

Gargalhadas!Qt ao futuro, espero bem que não seja como dizes:))

sexta-feira, 31 março, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

Votos de um bom fim de semana.
Beijo JL

sexta-feira, 31 março, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

mas levando o assunto a sério.. um dos problemas do nosso sistema de ensino foi eliminar a memorização. condenar a memorização. Caiu-se no outro extremo.
Ora a memorização é importante, treina-se e uma das fases da aprendizagem. A verdade é que hoje nenhum aluno do 12º ano sabe a tabuada.Poucos alunos sabem calcular 15% de qualquer coisa. Asistam de vez em quando no cabo àqueles programas em que perguntam aos americanos coisas como:onde está a austrália no mapa, ou a itália.....ficam arrepiados.

sexta-feira, 31 março, 2006  
Blogger Neoarqueo disse:

o problema da memória é a falta dela...

sexta-feira, 31 março, 2006  
Blogger teresa.com disse:

admiro as pessoas com memória, mas admiro ainda mais o bom uso dela... quanto mais não seja para entreter clientes! BFS

sábado, 01 abril, 2006  
Blogger MS disse:

Escreves com uma ironia provocante, esta sem fazer mal a ninguém! E sabes a q me refiro :)

Divertido e bombastico!
Os cromos deste país não pairam só pelas pequenas localidades do nosso país! Existem a nível nacional e alguns mt "badalados"!!

Bom f-s!

Ah! A minha gata iria adorar conhecer o gato pacientemente sentado!!

sábado, 01 abril, 2006  
Blogger Nina disse:

Uma questão de memorização... o facto é k se calhar o poder de raciocinio nesse senhor n existe ou n foi desenvolvido...para k memorizar se mtas das vezes n se percebe o k se diz? :S

Beijinhosss :)

sábado, 01 abril, 2006  
Blogger Unknown disse:

O meu cão, que não tenho, memoriza, á base da porrada, que se fizer as necessidades fisiológicas, de carácter líquido ou sólido, no chão leva nas trombas. Como vês também ele tem uma excelente memória, - mas é um ser vivo – dizem os defensor da bicharada! No entanto, posso deixar-te um exemplo de ser inanimado, que vive á minha frente, alimentando-se de corrente eléctrica a 220Volts (caríssima) e que dentem mais informação que o amigo das cautelas, mas não lhe serve para nada se eu não orientar essa informação, bem este não mija no tapete nem c_ _a fora do penico.

Boa semana

domingo, 02 abril, 2006  
Blogger Aprendiz de Viajante disse:

Quem quer tem!!!

Vou "roubar" um dos teus poemas que se encontra no teu outro blog e fazer o mesmo...

Aguarda esta semana... és dos primeiros na lista de espera!!!

Um bjo e obrigada pela tua visita!
Boa semana!

domingo, 02 abril, 2006  
Blogger Vostradong disse:

Uma noite as minhas barbatanas desapareceram

segunda-feira, 03 abril, 2006  
Blogger Fornense disse:

ehehe esta esta boa..
o homem decorou esta que é dificil e pouca gente se lembra para mostrar a sua memoria.. mas ficamos é sem saber se a memoria dele nao se restringe so a essa data :)

segunda-feira, 03 abril, 2006  
Blogger LUA DE LOBOS disse:

completamente de acordo e sabes que mais? arroz com pardais!!!
não faço ideia a que propósito... esqueci-me... mas se calhar é mais importante saber as linhas férreas de há 300 mil anos que corriam Portugal de lés a lés.
Ai como tu tens razão... e sabes pessoas com a tua lucidez, a minha e de mais uns quantos, são taxadas de maradas... maradas, graças a Deus!!!!
xi
maria de são pedro

segunda-feira, 03 abril, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

Olá João..
Obrigada pela visita ao meu cantinho.
Como estás certo no que escreves, é triste mas a memória hoje, já não lhe dão o valor que davam a uns anos atráz. Nas escolas são os próprios professores que pedem aos alunos para trazerem máquinas de calcular!!Imagina. E se dizes que está errado, dizem logo que estás ultrapassado. Modernices.
Gostei do teu post e do que escreves.
Tem uma boa semana cheia de luz.
Beijos

segunda-feira, 03 abril, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

Oi João,

adorei receber seu comentário e sua visita. Obrigada também por me mostrar o caminho para os seus textos. Muito bons... espertos, ironicos, inteligentíssimos. Um beijo brasileiro pra vc.

segunda-feira, 03 abril, 2006  
Blogger Mia Pierrèt disse:

Mudam-se os tempos, mudam-se os ventos!
Se antigamente a escola tinha como base a memória, o "decorar factos", hoje em dia a nossa educação está mais virada para o raciocínio!
Dos meus tempos de primária, lembro-me de passar tardes e tarde a fio a tentar decorar coisas que não tinham qualquer utilizade prática e que apenas me deixavam frustada pela perda de tempo! Alguém me explique: qual a importância, e para que serve, saber de côr as linhas de caminhos de ferro de Portugal?
Sempre achei que, no momento de uma possível viagem de comboio por estas belas terras lusas, iria até à estação de comboios e pediria os horários para o destino!(Devo dizer que a minha professora não concordou muito com esta teoria!Gostava de saber se ela continua a saber todos os trajectos que a CP realiza!).
Infelizmente,existiam (e continuam a existir)outras coisas absolutamente despromovidas de aplicação que tinhamos de decorar!
Hoje em dia estamos no extremos oposto!Ninguém sabe fazer contas de cabeça!Ninguém sabe as capitais europeias!Ninguém sabe nada sobre cultura! Já ninguém lê!
Só sabemos buscar informação e, alguns, pensar sobre ela.
Perante tanta informação, torna-se quase impossível decorar todos os factos.
Se Leonardo DaVinci, GAllileu, Platão e outros tantos conseguiram ser génios em diversas àreas é porque a informação que havia em cada uma delas, nessa altura, era muito reduzida! Ainda havia imenso por desvendar!
Queira ver um desses génios nos dia de hoje ou mesmo o caloteiro a decorar tudo e mais alguma coisa que aprendemos durante a nossa formação académica!?

segunda-feira, 03 abril, 2006  
Blogger Bel disse:

Tenho que confessar que o dia hoje está um pouco cinzento e este texto fe lo ficar bem mais claro.
Mas o que têm as pessoas contra os professore sde matemática por acaso é suposto so percebermos de números. Cultura diz se fundamental.

domingo, 09 abril, 2006  
Blogger Bel disse:

Esqueci me de acrescentar

Adorei a foto. Excelente.

jinhos e boa semana

domingo, 09 abril, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

Gostei... sinceramente que gosto do teu modo de escrever... do encadeamento que dás. A partir da visão de um gato aparentemente resignado com a "morte" que o espera (não passam desapercebidos a imobilização na cadeira e o torturador eléctrico na mão do "casrrasco" que levam a minha memória à infância, até ao castigo mensal que eu também sofria)passas pelo verdadeiro terramoto das conversas tidas e ouvidas no barbeiro (aqui só teria faltado a bola) e entusiasmando-nos cada vez mais levas-nos ao êxtase falando-nos de sexo mais potente... bom parece que há o problema da memória, mas como precaução talvez seja de congelar alguns neurónios para mais tarde poder usar.
Abraço. Boa Páscoa.
(o gajo também sabia que o Terramoto foi de manhã,que o pessoal estava a assistir à Missa de Todos-os-Santos e que se formaram ondas de 30 metros? rs)

sábado, 15 abril, 2006  
Blogger Rosalina Simão Nunes disse:

ahahahahahhaahahahhhahahahahhahahahahahahahahahahhahahhahaha...

adorei;)

domingo, 16 abril, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

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quinta-feira, 01 março, 2007  

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