quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

Um ano à experiência?

Os inícios de ano reservam-nos, quase sempre, notícias pouco motivadoras para enfrentar com esperança o ano civil que, ano após ano, nos é oferecido de bandeja. Ou não. Muitos nem terão merecido passar de ano mas, tal como na escola, também se pode passar com negativas.
Mas dá vontade, logo nos primeiros dias, de devolver este e pedir outro porque o que recebemos agora novinho em folha parece longe das nossas expectativas e cheio de defeitos de fabrico. Se, como nos produtos, tivéssemos 15 dias para poder devolver ou dois anos de garantia…
Enfatizam as notícias a fraca robustez da nossa economia, ensombrando o início de 2006 com a real possibilidade de aumento do desemprego, engrossando as fileiras das estatísticas de que ninguém quer fazer parte.
Os motivos apresentados pelas empresas que fecham as suas portas aqui, atirando centenas de pessoas para as ruas da amargura, são quase sempre os mesmos.
No concelho da Feira a Ecco parte à procura de mão de obra mais barata lá para o leste ou para o oriente. Fica, repentinamente, a ideia que em Portugal os salários são elevados. Paradoxalmente, as unidades de produção que a marca tem noutros países da Europa onde a mão de obra é mais cara, permanecerão em actividade.
A Auto Europa surge com a mesma ameaça, deixando a pairar no ar a insegurança que persegue a península de Setúbal, deixando-a permanentemente assombrada. Também aqui os salários serão os mais baixos da Europa Ocidental (ou Acidental, não sei) mas, nem por isso, aquela unidade conseguiu arrebatar para si a produção do novo SUV da marca alemã, tendo sido escolhida precisamente a Alemanha onde o preço do trabalho é, incomparavelmente, mais elevado (não digo caro, propositadamente) que na unidade lusa. Os trabalhadores de lá aceitaram baixar os seus salários para garantir a produção do novo modelo por menos 800 euros que cá, por unidade, garantido, desta forma, o seu posto de trabalho. Vale a pena lembrar que a Auto Europa assegura cerca de 1% do PIB e uma fatia relevante das nossas exportações. E, mais importante que isso, que se pense também nas questões sociais que o desemprego trará àquela região.
Enquanto isso, cá vamos andando todos, cantando e rindo atrás de um qualquer dos candidatos presidenciais, distraídos com o barulho das luzes da campanha eleitoral.
Enquanto isso, a Espanha (que inveja, ou pena de não ser espanhol, já não sei, ou será raiva do 1 de Dezembro de 1640?), é o país da Europa que mais cresce, com melhores salários que os nossos e onde o desemprego baixou, nos últimos 15 anos, dos 20% para os 8%. E prepara-se para, brevemente, ultrapassar o Canadá, um dos G8 (sim, isso mesmo: um dos oito países mais ricos do mundo) no valor da riqueza gerada anualmente, o PIB.
Longe ficam os tempos em que íamos a Espanha comprar caramelos e exibíamos um aspecto de ricos saudáveis, com os bolsos avezados de notas de mil.

27 Comentário(s):

Blogger Vica disse:

Essa rivalidade parece Brasil x Argentina. Os argentinos estão sempre mal, mas sempre melhores que nós... heheehhe... se a coisa está feia aí, vem pro Brasil, tu vais ver, ainda seremos o 2o. país mais rico do mundo (com a vênia americana, of course). Bjs.

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

excelente texto João, e se me permites resumir direi que 2006 começou mal e não sinais de melhora, mesmo que se apregoa a vinda do cavaco salvador da pátria ou talvez não. deixa, ando um bocado pessimista que este país deixa-me de rastos

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

Hein, o quê?...um ano à experiência...que exploração! e o contrato??..isto só pode ser defeito de fabrico!...depois dizem que o desemprego não cresce, pois sim...vai 'tudo' para o Leste, pagar salários ainda mais baixos e aqui povinho que se lixe pois...que raio de desgovernos que temos sempre! 'porca miséria'!!
...e outras eleições aí vêm e nada vai mudar...aliás, até pode piorar ainda mais!...ai ai quem me dera ter nascido espanholita...agora pelo menos, sempre podia comprar caramelos e ter um aspecto de rica saudável ;-D

Ganda post João Lopes. Um bocado negro mas real.

Beijitos

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Blogger Unknown disse:

Amigo, um post em grande, a ver vamos. Bj

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Blogger nunofigueiredo disse:

Boas!

Pois, a realidade ás vezes bate!
Mas daí a querer ser espanhol!?

A proxima geração vai colocar o nosso pais outra vez na frente!

Fomos inovadores, exploradores, abrimos horizontes ao mundo, haveremos de voltar a fazer o mesmo!

Não seja tão pessimista! ano novo vida nova! Esperanças renovadas!

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Blogger Al Cardoso disse:

Por essas e por outras e que sou monarquico convicto, mas com rei portugues,(lembrem-se de Espanha nem bom vento nem bom casamento).
Sempre poupavamos uns milhoeszitos de cinco em cinco anos.

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

João, se quiseres podes sempre dar um salto aqui para outros planetas.

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

thanks lá pelo comentário ;-D
balé, balé!

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Blogger Neoarqueo disse:

E ainda estamos no início do amo. A F Publica está bem, desemprego não terão, a produtividade não é medida nem avaliada, logo continua tudo igual. Quanto à privada é o que se sabe: objectivos cumpridos emprego gantido até à nova reunião de discussão de objectivos, and so on, objectivos não cumpridos há sempre o tal mês de todas as contas. As fábricas, é o que se sabe. O segredo está em emigrar para Espanha. Aplaudo e nunca se sabe se um dia não me baterá à porta ter que ir buscar o sustento ali ao lado...mas ...vamos ter esperança...

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Blogger Agnelo Figueiredo disse:

Pois é João, é assim.
Só que os governos de Espanha tiveram "tomates" para aguentar políticas de estruturação que implicaram 20% de desempregados - uma brutalidade. Enquanto isso, à custa do emprego artificial, nós tínhamos aqui um "oásis".
Todos nos lembramos muito bem disto.
Hoje ... é assim ...

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

tás perdoado!

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Blogger Blogexiste disse:

Pois é, todos os anos me esforço por não mudar de ano mas não me deixam...
Agora a sério, esta reflexão diz tudo... como é que a Espanha é como é, e está como está?

Eu também não gostava de Espanha e dos espanhóis até a (os) conhecer melhor... agora, tenho de reconhecer que não há qualquer comparação entre o nível de vida actual deles e o nosso.

Naquela altura decisiva, em que a Europa distribuiu fundos de coesão e modernização, eles tinham um Filipe Gonzalez... nós tínhamos Cavaco Silva! (peço desculpa mas não resisti... bem sei que esta referência a Cavaco era desnecessária e é de mau tom mas é superior às minhas forças... para a próxima prometo que me vou esforçar mais...)

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Blogger Mónica disse:

boa! adorei a ideia dos 15 dias à experiência!

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

É uma questão de mentalidades.
Em Portugal governa-se a pensar nas reeleições e não nos interesses do país.
Veja-se a competitividade e a agressividade, no bom sentido, dos espanhois.
Estes atributos, na maioria das vezes, são alicerçados num comportamento governativo que transmita confiança, motivação e segurança aos cidadãos e empresas.

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Blogger Zel disse:

Grande post João, eu infelizmente já sinto na "pele " e na alma , esta instabilidade...sinceramente quem decidiu e decide os destinos do País não nos dá...a confiança que precisamos......em vez de darmos vida aos nossos dias acrescentamos dias à vida.....

quinta-feira, 12 janeiro, 2006  
Blogger Unknown disse:

Comprar caramelos... e a pressão de ar! Colocada pelo motorista por baixo do motor, só retirada uns Km's mais à frente, quando já não se avistava Espanha!

Tempos ricos esses!

Abraços

sexta-feira, 13 janeiro, 2006  
Blogger Estrela do mar disse:

...podes crer João...vê lá que ás vezes até penso porque será que D. Afonso Henriques teve logo que vencer a batalha contra a sua mãe?...pelo menos estaríamos agora num país com uma qualidade de vida muito superior à nossa...


Beijinhossss e bfs.

sexta-feira, 13 janeiro, 2006  
Blogger Cerejinha disse:

Muito por culpa de muitos que ainda hoje vivem na sombra e na lembrança de um certo navegador de nome Henrique...Os tempos áureos já lá vão, mas há quem não perceba.
:-)

sexta-feira, 13 janeiro, 2006  
Blogger Alex disse:

Feliz 2006 e boa Sexta-Feira 13
O Ano não vai ser assim tão negro. Pelo menos para alguns. A avaliar pelo que vejo daqui da minha janela, na rua há cada vez mais carros de alta cilindrada (topo de gama). É com cada bomba!...
Ainda dizem que há crise.
Eu é que já me tramei. Funcionário público, com fama de calão e sem objectivos para cumprir, congelado no salário e na progressão, 1,5% de aumento, um carro velho com 14 anos e 200.000km. Vai ter que fazer 300.000 de certeza.
Mas espanhol é que não!... por favor...
Sim. Por lá algumas das bombas arrebentam. É gente mafiosa meia maluca.
Vamos ter fé para os anos que se seguem.
Primeiro foi a Irlanda e depois a Espanha. A seguir vai ser Portugal a crescer.
(estás cá com uma sorte...)

sexta-feira, 13 janeiro, 2006  
Blogger Alberto Oliveira disse:

O problema da economia portuguesa é muito simples?!, não é de hoje, e TODOS os governos não lhe tem sabido dar resposta. O de Sócrates, está a tentar (tímidamente) dar alguns passos numa área em que ninguém gosta de mexer (quem mais tem, mais benesses pretende, inclusivé, a melodramática fuga às responsabilidades fiscais. Isso já lhe valeu "queixas do outro lado da bipolarização". Só por isso, ainda dou o benefício da dúvida ao governo PS. E Sócrates na última sondagem da Católica (de 12/1) tem uma vantagem (aumentou-a mesmo) confortavel sobre os seus opositores.
Sobre a Espanha já tudo se disse. Nós semeámos ventos, colhemos tempestades; não se utilizaram os dinheiros da comunidade devidamente (com responsabilidades divididas pelos dois maiores partidos) não havia outro cenário a esperar. Sou frequentador assíduo do país vizinho e tirava-lhes o chapéu se o usasse.
Ontem estive na inauguração da exposição de arte na Assembleia da República (Serralves em Lisboa...). Pelos sorrisos, pelo vestuário, ninguém diria que estamos em crise. "Estamos"??... Todos??

sexta-feira, 13 janeiro, 2006  
Blogger Alberto Oliveira disse:

... Tão simples de resolver como em Espanha e na Irlanda...

sexta-feira, 13 janeiro, 2006  
Blogger Neoarqueo disse:

O Professor Lopes Porto, da cadeira de Economia Política da Faculdade de Direito de Coimbra ensina como a Irlanda se tornou no que é, ensina como a Espanha se tornou o que é; mais ensina a uma série de alunos do curso de Direito. Das duas umas ou o Professor não é bem entendido ou os alunos esquecem depressa; pudera esta cadeira é do 1º ano e o curso são 5.

sexta-feira, 13 janeiro, 2006  
Blogger Unknown disse:

joão, pego logo ali em algumas palavras no primeiro paragrafo :"na escola, também se pode passar com negativas."
sim mas isso não é sistema... e por sistema no inicio do ano começam os aumento, nunca percebi bem porquê! nunca ouvi falar de baixas, quer dizer em janeiro há promoções, não seria também bom fazer todos os anos um referendo aos governos?

sexta-feira, 13 janeiro, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

essa do oásis .. deve ser lapso de
memória.

os espanhois tiveram franco.. nós salazar
Tiveram gonzalez nós cavaco
é simples..

sexta-feira, 13 janeiro, 2006  
Blogger nunofigueiredo disse:

espero que tenha recebido.
abraço.

sexta-feira, 13 janeiro, 2006  
Blogger Mónica disse:

Bem que posso eu dizer...

Vivo no na Feira e conheço muitos que trabalham na ECCO...

É o país que temos, é a agonia em que muitos vivem...

:)

sábado, 14 janeiro, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

Ao ler tantos e bons comentários fico com a ideia, que nós somos do piorío, mas não, o trabalhador Portuga, é exemplar, educado, sacrificado, produtivo, etc., e não me venham dizer que não, podem é dizer que sim mas que isso é lá fora, e então eu tenho de concordar, e teço o meu comentário, Este belo jardim tem sido o paraíso de uma classe governativa, acabada a politica, gestora de empresas públicas, e politica outra vez e por ai adiante, que se tém banqueteado com todas as mordomias, favores cunhas, e reformas de fazer lembrar o tesouro dos templários, e que competência , 0 , nada , como é que o país pode andar quando alguém como o Dr. Cavaco Silva anuncia em plena " época da caça" que se devem aumentar os vencimentos dos politicos, quando já são dos mais elevados da Europa,e o Dr. Mário Soares afirma a pés juntos que é um politico profissional , sinceramente, assim não dá, estas coisas de guiar homens não é para todos, escolham os dirigentes por mérito, avaliem-se as capacidades e responsabilize-se o erro, ou então importe-se ( Caso TAP ).
Resumindo, todos conhecemos casos, até localmente de chefes colocados por cunha, compadrio ou cor politica, que depois verificamos que não passam de inergumes.

quarta-feira, 18 janeiro, 2006  

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