Guerra dos mundos
Não é fácil escrever e opinar sobre questões actuais e polémicas, como a recente onda de violência provocada por uns cartoons publicados em Setembro. Isso mesmo: Setembro de 2005. Pensava eu que vivia numa aldeia global. Ou então há quem funcione em retardatário. Uma espécie de bomba relógio – colocada agora para explodir mais tarde.
Começo pela liberdade de expressão. É dos valores que mais suor e lágrimas custou, porventura, à humanidade. No entanto, isso não nos deve dar o direito de a usar levianamente e no desrespeito pelo outro. Em todo o caso não vejo que um cartoon como os que vi publicados possa ferir o credo religioso de alguém.
Já vi vários cartoons brincando e troçando do meu Deus e nem por isso me senti ofendido. Com alguns até me ri e achei piada. Ou então não tinha bandeiras para queimar não me restando outra alternativa senão rir-me...
Também é verdade que alguns dos cartoons “dão” de Alá a imagem de um terrorista. Há aqui um exagero. Mas não é essa a imagem que o mundo islâmico tem dado? Refiro-me, naturalmente, àqueles que têm o poder da palavra e por essa via o difundem e não, como é bom de ver, aos milhões de seguidores que buscam em Meca a sua felicidade.
É de um extremismo absurdo o que nos vai chegando dessas ameaças de se fazerem explodir numa qualquer paragem de autocarro à hora de ponta.
Não quero com isto dizer que o mundo cristão é melhor. Mas, seguramente, já ultrapassámos essa fase há muitos anos e ainda hoje a recordamos - e no-la recordam a todo o instante - para não mais voltarmos a infligir os mesmos pesadelos. Dá a ideia que a evolução e a capacidade de encaixe se tem feito a várias velocidades. Não é alheia a este facto a menor alfabetização e menor acesso à cultura por parte desses povos. É, de resto, estratégia déja vu por estas bandas. Quanto mais ignorante melhor. E assim vão sobrevivendo os regimes.
Porém, há questões de natureza humana que em nada têm a ver com a alfabetização. E é por isso que os mesmos que se sentem ultrajados pela publicação de um cartoon mais ousado, usam e abusam daqueles que, no seu seio, são considerados seres de menor importância: mulheres e crianças.
Espancam-se mulheres até à morte e queimam-se vivas só porque ousaram gostar de alguém. Castigam-se, violentamente, crianças de palmo e meio porque ousaram roubar pão para matar a fome.
Alá não é, não pode ser, isto! Fico com vontade de queimar umas bandeiras…
30 Comentário(s):
João,
Antes de tudo a minha ternura toda para a escolha desta imagem que diz tanto tanto.
Depois o meu abraço forte muito forte pelo olhar que tens, a maturidade, a sabedoria. É com um prazer infinito que te leio, que penso contigo, que em silêncio te digo o quanto me entristeço com este mundo de contrastes, de tanta miséria intelectual, material, afectiva.
Como é possível vermos seres humanos como nós tão longe do que deveria ser o básico, no respeito, na possibilidade de aceder ao que deveria ser um direito adquirido como seres humanos? Como?
Resta-me ler-te, pensar contigo, e se por vezes me recuso a escrever como tu o fazes tão bem, verbalizando o que todos deveríamos, buscando respostas, alertando, é porque há muito me remeti a este silêncio que se traduz em gestos no dia à dia.
Gosto de ti.
E tu sabes
Continua João, por mim, por todos nós.
Um beijo maior que a ternura e a inteligência que tens, que é infinita
É verdade... imagens como estas são verdadeiramente repugnantes... Também eu tenho vontade de queimar umas quantas bandeiras.
João, por acaso também recebi por mail essa imagem e as restantes três que compõem o figurino e também como tu não percebo como se podem queixar e fazer tanto mal por causa de uma simples caricaturas, quando depois são os mesmos que fazem atrocidades destas.
tenho pena de não poder colocar debaixo dos meus pneus a cabeça dos idiotas que fizeram isso ao garoto que com gosto lhes passava por cima!
joão... se não fossem os cartoons seria outra coisa qualquer..
ontem por exemplo o embaixador iraniano dizia..que não ouve holocausto é uma farsa... e segundo as contas...tem razão...mas o que eu digo é que são dois mundos e duas realidades...mt diferente...até a pouco ter televisão no irão dava pena de morte...
aqui não ter televisão dá pena.
abraço
Não se deve discutir com pessoas, para quem a vida de alguém não tem significado.
Confesso que a mim apetecia-me algo mais que queimar bandeiras.
A civilização moderna é que tem que se vergar? Pedir Desculpas?
Para onde vamos?
Pois aí está o problema...pelos comentários se vê que para o ser humano comum a resposta continua a ser o ódio, ou queimar bandeiras...assim não somos tão diferentes ,pois não??!!
...curiosas observações ao teu texto, tambem ele 'um pau de dois bicos'...guardo-me como observadora/leitora...por ora...
BeijOcas
João Lopes,
A propósito deste tema
quando puderes, vai aqui:
http://ovelhodamontanha.blogs.sapo.pt
para ler isto:
SAGRADO OU NÃO SAGRADO… EIS A GRANDE QUESTÃO.
"O poder de uma imagem e a liberdade de expressão", acho que devia ser assim designado o episódio da nossa actualidade.
Julguei que tivessemos já delineado as fronteiras de liberdade de expressão, quando combatemos nessa luta. Mas pelos vistos, não. Há sempre quem tente ir mais ao longe (uma idiossincrasia humana, penso). A nossa liberdade termina quando começa a dos outros. Deve-nos ter isso sempre em mente quando nos expressamos. Afinal, temos deveres e obrigações (estas últimas, sempre confortavelmente esquecidas).
A religião é sempre uma problemática, mas quando associada à analfabetização e ignorância dos mais oprimidos torna-se um verdadeiro quebra-cabeças.
Quem está na rua a lutar, a viver momentos de horror, viu as imagens? sabe o que ideias e ideais estão impregnados nas bandeiras que apregoam? Parece-me que os verdadeiros "opinion-makers" estão sentados confortavelmente no seu sofá a ver as imagens na TV digital.
Talvez por me terem tentado impinguir uma religião sem pensar (à verdadeira moda antiga, usando métodos de "fortelecimento" de ideias que podiam ter sido retirado d'Os Maias), aprendi a ver a RELIGIÃO, na sua forma pura e dura, a ver onde reside o verdadeiro poder da religião no controlo das mentes e acções humanas.
Não há religiões perfeitas! Dentro as religiões, há pessoas mais e menos eruditas... há sempre a verdade e o falso... o certo e o errado..
O islamismo não é diferente. Conheço, ao de leve, o Corão: histórias muito bem contadas, com uma riqueza de escrita que se perde na tradução e com uma moral (devemos ser bons, ajudar os outros... tal e qual o que diz a Biblía). Tal como a Bíblia, tem apenas um problema: A leitura subjectiva das entre-linhas deixa largas à imaginação humana... Eis onde os desentendimentos começam: quem lê e interpreta os Livros Sagrados? Não sao as crianças nem as mulheres analfabetas. Quem está na rua a lutar?Parece-me que são estas mm pessoas.
Tenho o previlégio de conversar numa perpectiva moderna e inteligente das religiões com pessoas de outras religiões, nomeadamente muçulmanos ocidentalizados. Eles próprios não concordam com os actos terroristas, Alá não se expressa assim e o Corão não diz nada dessa "violência santa".
Gostava de conhecer um Deus, que, fosse adorado e venerado, dissesse: Façam guerra, lutem, magoem-se.. é tudo Santo! Não me pareçe que fosse muito popular.
Estamos a ter uma ideia um pouco destorcida das religiões africadas. Culpa dos americanos e de nós, que nos achamos no direito de "nós é que temos a verdade e nós é que somos perfeitos", "Nós, os salvadores"!
Sim, os direitos humanos são muitas vezes esquecidos, aí pecam e sou a primeira a levantar-me contra eles. No caso das mulheres, confesso que me custa a vida que levam por eu própria ser mulher e achar que não conseguia viver segundo aqueles padrões.Se tivesse sido educada assim e todos à minha volta vivessem assim... será que me custaria assim tanto? Sei que há mulheres cujos homens deixam guiar, ter uma educação universitária e usam o véu porque querem, escolha pessoal. É como estar na moda! A nossa moda tem um toque de paris, londres, a delas tem um toque iraquiano, egipcio...
Sejamos suficientemenre razoáveis e inteligentes para não nos deixarmos levar por ideas pré-concebidas e preconceitos de cabeçinhas taralhoucas. Sejamos inteligentes o suficiente para parar para pensar por nós próprios.
Bjinhos, Mia
P.s: sei que está longo... estes assuntos "mexem" comigo.
Gostei da foto. Foto-josnalismo no seu auge :)
gostei de ler-te
jocas maradas
No comments...
disseste tudo...
és lindo!!!
um abraço
Chocado!
Li o texto.
Passo um olhar sobre a foto.
E avanço para os comentários. Leio um. Leio dois. Não percebo.
Volto á imagem.
Grandes filhos da mãe. Como é possivel fazer aquilo a uma criança.
Sou pai e por nenhum deus deixaria fazer algo tão bárbaro a ninguém.
Muito menos ao meu filho.
Grandes filhos da mãe!
Só não lhes chamo outro insulto por respeito ao nosso amigo JL.
Grandes filhos da mãe.
A liberdade de expressão responsavel não pode ser posta em causa. Coartá-la, é voltar atrás nos caminhos da evolução do homem.
O direito à crítica responsável não deve ser negado a ninguém.
A Europa, não deve fugir às suas responsabilidades; a livre opinião responsavel é um dos suportes dos estados democráticos.
A Europa, não pode (mesmo invocando graves problemas políticos internacionais) fazer o jogo de paises onde o direito à liberdade de expressão não é consignado oficialmente.
déja vu de manipulação de massas ... direi eu, que a CIA existe e os seus especialistas do conhecimento da reacção humana dita ocidental ...
muito estranho para mim, que tudo isto tenha partido de um jornal fascista! ingénuos?
Eu prefiro seguir os raciocinios do Xavier Solana
Nunca deveremos julgar uma parte pelo todo.
Quando recebi a série de fotografias onde esta criança está a ser castigada, também me apeteceu dar uma bofetadas em alguém.
Assim como me apeteceu dar uns murros aos soldados norte-americanos que ontem apareceram nas fotos de um jornal australiano a torturar prisioneiros iraquianos em 2004.
Quanto a mim isto não se trata de questão religiosa, apesar da religião ser utilizada muitas vezes para justificar determinados actos.
Isto trata-se de uma questão de manipulação de massas que tanto o ocidente como o oriente fazem com muita frequência, cada um à sua maneira!
Estas situações só nos mostram o lado mais horrível do ser humano.
João
Respondi-te no meu espaço...
Beijo grande
Ó João, como sabes ando a ler "Queimada Viva", todos os dias um bocadinho, porque a repulsa e a indignação deixam-me nervoso e tenho de parar... esta imagem retrata uma roda a passar por um braço, mas também o fazem com cabeças de mulheres, percebes,...
Ontem vi as imagens que as TVs passam incessantemente, e aqui me confesso, condeno-as, porque de violência se trata, mas já não olho para elas com indignação, não consigo, também "não acho normal" como se diz, mas no fundo tento compreender aqueles homens, que vivem e vêm os horrores que a toda a hora são cometidos por "aqueles" homens. Faço-vos um repto: Quando visionarem imagens de manifestações, ajuntamentos, confrontos, ou de qualquer outro tipo num país Árabe, contem as mulheres que vêem!
Porquê esta minha opinião? Cliquem aqui
Aquele abraço.
Eu perdi há pouco tempo o meu Pai, e a dor ainda é tão recente, que DÓI só em pensar.
Como seria ver um filho assim?
Apesar de ser uma pessoa nada dada a violências e extremamente tolerante, tal como dizes, às vezes até me apetece também, queimar umas bandeiras...
Um abraço
Li o teu texto e não sei se és contra ou a favor dos pedidos de desculpa pelos brilhantes cartoons publicados em Setembro, dizes a certa altura “No entanto, isso não nos deve dar o direito de a usar levianamente e no desrespeito pelo outro”. Gostava de ser assim, ter uma balança para saber quem passa ou fica na fronteira da liberdade de expressão. Já entendi, pelo texto, que não concordas com mutilações de mulheres e crianças, mas não entendi o que tinha isso a ver com uns rabiscos de um Maomé explosivo. Os mesmos que não concordam com as caricaturas porque são ofensivas destroem lojas e símbolos de outros países sem perguntarem se isso fere alguém mais sensível ás suas bandeiras, não são esses mesmos que não têm respeito pela vida (nem a deles) e se explodem independente de haver inocentes á sua volta? Eu, na minha modesta opinião de radical anti-tudo o que é proibido, ignorava todo esse chinfrim que fazem á volta disso e publicava mais uns cromos do Alá do Buda de Jesus e de outras figuras publicas religiosas (sim podia ser o Pastor Alemão), talvez assim houvesse a tão desejada guerra santa que o mundo árabe procura e de uma vez por todas acabava-se o medo do terrorismo. Tu sabes que eu não gosto de violência, portanto a parte da guerra era ficção, tenho sempre um programa a cozinhar, e neste caso faria o mesmo, se não lhes tivessem dado ouvidos ninguém lhes ligava, só temos políticos borrados com medo de perder o tachito.
Um abraço
Tb me questiono mts vezes sobre os deuses que nós temos, ou dizem que temos.
Deixo-te um abraço
Como é difícil ser politicamente correcto em situações como estas! Dizer que não há civilizações / culturas "atrasadas" e "evoluídas", mas sim "culturalmente distintas". Por isso se nos afigura tão estranho que o preceito religioso se torne lei, aplicada pelas classes dominantes que pelo medo e repressão subjugam as "massas iletradas" . Não se pode generalizar (há vários tipos de regime nos diversos "mundos" muçulmanos, como disse, e muito bem, C. Tavares n`"O Micróbio"). Mas neste país podemos discutir abertamente esses assuntos, enquanto que em muitos países do Terceiro Mundo (e em economias emergentes, como a China) a liberdade de expressão é letra morta! À limitação de carácter económico que impede a difusão da internet nesses países, junta-se a proibição pura e simples de aceder a este meio que utilizamos numa base regular, para fins tão distintos! Temos essa possibilidade (não obstante, temos mecanismos de controle para que não se contorne a legislação). Felizmente, a "comunidade cibernática ocidental" (o que quer que isso seja) pode facilmente ver, a uma distância segura, o "exotismo" do Terceiro Mundo e pode opinar no conforto do seu lar. (excepto eu, que tenho de comprar uma cadeira nova, mas isso são outras pernilladas).
E como a língua pode estar morta, mas não é malcriada, resta-me dar os parabéns a este espaço virtual e ao seu administrador, senhor Jornal de Letras, pelo olhar aquilino (???) sobre o mundo que, bem vistas as coisas, somos nós. E agora já chega, tenho de voltar para o consultório, o Sr. Dr. vai mostrar-me uns desenhos esquisitos - a tinta da China - e perguntar-me o que eles me fazem lembrar. E já as mãos me doem...
Há uns anos atrás utilizava-se o termo “subdesenvolvido”, quando nos referíamos a um povo, pais, estado ou nação, que detinha fracos indicadores económicos e sociais de desenvolvimento. Isto no que se refere aos nossos padrões (ocidentais).
Com o correr dos tempos, essa expressão caiu em desuso. Sendo o conceito de desenvolvimento considerado relativo, passou a utilizar-se a expressão “em vias de desenvolvimento”. Havia uma certa conotação racista e imperialista do termo, e assim, arranjou-se uma forma mais simpática de dizer o mesmo.
Pois eu acho que se deve voltar a utilizar a expressão subdesenvolvido a todos os povos, países, estados e nações onde se praticam actos como este que o JL mostra na foto.
Em vez de se avançar para o desenvolvimento está-se a retroceder. Indivíduos que atacam embaixadas, que não sabem respeitar os mais elementares princípios convivência entre povos, que não sabem tolerar a liberdade de expressão, não merecem qualquer respeito e tolerância. São animais selvagens e sem escrúpulos que na sua ignorância se deixam levar por líderes espirituais e políticos piores que bárbaros.
Alexandre (Abrunhosa)
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Eu, cá para mim, devíamos convocar uma futebolada com os àrabes e a maltosa da Abrunhosa para a inauguração do novo complexo desportivo-lúdico-académico. Claro que teríamos que deixar ganhar os sarracenos, caso contrário ainda íam para a "Matilde" ou para o "Baselgas" fazer-se explodir. Outra solução é convidarmos os políticos Nacionais, Regionais e Locais para numa posição de culto a Alá (vulgo de rabo para o ar)se submeterm a uma sodomização que desculpe qualquer resultado menos conveniente.
Abaixo o politicamente correcto...Quem não gosta come só as batatas, neste caso, leia-se "couscous".
ehehehe...aproveito a ausência momentânea para deixar aqui uma bombinha...de mau cheiro :-)
Beijinho
Já lá está o logo João Lopes!!
Obrigada :-)
Com uma imagem tão expressiva, poucos podemos acrescentar, mas a verdade é que comportamento gera comportamento e parece que esta aldeia global em que vivemos está a tornar-se numa cadeia de comportamentos pouco geniais, infantis, egoístas, narcisístas...
Enfim se continuasse, nunca mais parava
Bom fim de semana
:)
E já disse Adolfo Luxúria Canibal: "Desde pequeno fui aprendendo / Que a violência tem um crescendo! / Começa do nada, acaba por tudo / E o que era lógico fica absurdo! E quem paga é o sangue civil" (Orgia Scherzo em Fá, álbum "Vénus em Chamas", o tal que esteve para se chamar "Fátima Radical".
Já agora, radical é andarmos a rastejar na passerelle de Fátima para pagarmos as nossas promessas e ganharmos o ticket que nos conduzirá ao céu que nunca vimos... Claro que só faz isso quem quer, mas lá que é radical... Religião (ainda) é submissão.
não sei quem é alá, tá lá?
recebi essas imagens por mail mas bastou-me a primeira pra deitar fora o mail, estou a agora a ver q eu não queria. assim mostrado por ti custa menos
sou uma piegas
não comento
O seu Deus?! É diferente do deles?
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