Insuportável leveza da hipocrisia
O “mundo” ficou indignado, incomodado e hipocritamente chocado pelas revelações do Nobel da literatura, o alemão Gunter Grass, na sua biografia, revelando ter pertencido aos Serviços Secretos hitlerianos.
Logo de rajada os pseudo intelectuais da praça se apressaram a atirar a primeira pedra, como se se tratasse de uma tentativa de limpar o seu pecado pelas leituras dos livros do “pecador”. Salvaguardo, aqui, a opinião pouco publicada de resto, de José Saramago - autor de quem não sou estimado apreciador – que desprezou o facto dizendo, e bem a meu ver, que não se podia crucificar Grass pela sua opção aos 17 anos, quando o que estava em causa era a sua obra literária e toda uma vida.
Não sei qual a intenção de Gunter Grass na revelação da sua opção na juventude. Impulsionar vendas? Partilhar um segredo que lhe atormenta a consciência? Procurar o perdão do mundo? Pouco importará, porém, se atentarmos nas nossas próprias opções de vida. E não teremos, nós, direito a uma segunda oportunidade? Não me parece, em todo o caso, que o pecado de Grass seja tão grave quanto os “edílicos” nos querem fazer crer. Estranho, contudo, que muitas das vozes que se ergueram contra o escritor premiado sejam as que se encontram na linha da frente a defender os direitos humanos de terroristas e dos mais vis assassinos, capazes de cometer as maiores atrocidades em nome não sei de quem ou de quê.
20 Comentário(s):
Confesso te que estou me nas tintas para as suas convicções aos 17 anos, sei que escreveu romances fantásticos e que merece o reconhecimento da comunidade. " Uma longa vida" é um dos melhores livros que já li e sinceramente nem sequer percebi o alarido uma vez que há muito era conhecido o facto de ter pertencido a juventude hitleriana.
Mas claro, como agora foi assumido é que virou noticia.
Sim talvez hajam motivos comerciais nessa atitude.
Quanto a José Saramago, bem é de dificil leitura mas até que tem melhorado. O seu último livro, intermitências da morte, está escrito de uma forma sublime e aborda a morte e a sua necessidade de uma tal forma que acho que irias gostar de ler.
beijo
Eu também acho estranho...
E por outro lado, onde andavam os ditos aquando da "subida ao trono" deste Papa? É que se é para apedrejar um mais vale apedrejar logo todos... Senão, cresçam duma vez!! Não me digam que temem ser fulminados por um raio divino!!! É que não é por um ser Papa e o outro escritor, que se livram da Responsabilidade. É mesmo esta a maior epidemia da Humanidade: A HIPOCRISIA
Fique bem e continue a "bater" em quem merece...
E quem nos verdes anos da juventude, nao fez escolhas de que mais tarde se arrependeu?
Eu pessoalmente fiz algumas, mas ate nem nao arrependo, pois tudo isso contribuiu para a minha formacao.
A meu ver as opcoes politicas da nossa juventude, nada tem que ver com a nossa vida adulta, nessas alturas existe muito mais idealismo, que a vida nos ensina nao passa de pura utopia.
Alem disso uma escolha politica nunca pode ser como uma escolha de um club de futebol.
Ja a opcao de agora divulgar o que de outra forma talvez nunca se viesse a saber, como o Joao sugere deve ter algo por detraz.
Um abraco fornense de amizade.
Na minha opinião nunca devemos julgar uma pessoa pelos erros cometidos no passado... pois esses já foram pagos... ou pela justiça ou pela consciência... e se lermos com Atenção os livros de Grass saberiamos que todos denotam que aquele ser humano aprendeu com as prórpias loucuras de juventude uma lição dolorosa... os seus livros e actividade política são um testemunho disso", é preciso apenas tomar conhecimento antes de enchermos as bocarras a falarmos mal do que desconhecemos.
Acho o teu post fantástico Saramago mas tb concordo com a Bel... o ultimo livro é um estouro.
o teu texto diz tudo: a hipocrisia no seu melhor.
por acaso sobre alguns que acusaram Grass agora que ele decidiu revelar tal segredo, gostava de saber o seu passado, não se vá dar o caso de terem sido companheiros de Grass em serviços parecidos.
Deixo-te um beijo ao sabor do vento a partir do meu novo espaço.
À excepção da última frase, concordo plenamente com o texto.
Relativamente aos direitos humanos dos terrorista (sejam terroristas ou outros malfeitores – assassinos, etc.) não vejo porque não devam ser respeitados. É verdade que esses terroristas e assassinos não respeitam direitos humanos. Mas afinal, se calhar é isso que os distingue dos restantes cidadãos. E as sociedades não podem descer ao seu nível. No mundo civilizado já não encaixa o “dente por dente...” isso é mais lá para os lados dos talibãs... e nós queremos fazer a diferença, ou não?
Aliás, estranho mesmo que haja sociedades civilizadas (é aqui que entra a bordoada aos EUA – já se percebeu que sempre que vejo uma aberta não perco a oportunidade) onde se está permanentemente a citar o nome de Deus e da Bíblia por tudo e por nada, ao mesmo tempo que se cometem atrocidades brutais e completamente desumanas... isso sim, parece-me alguma falta de coerência.
Em todo o caso, repito, está - como sempre - um post muito oportuno.
Aqueles que não tardaram a atirar as ditas pedras não estariam,eles sim, á procura de protagonismo? Porque quanto a Grass, não me parece, de todo, que ele necessite.
Em relação a José Saramago,não me surpreendeu nada, pois ele também,provávelmente, não se sentirá muito bem com algumas das suas opções do passado.
Saudações!
"Les Miserables"... Uma vida vivida a tentar fazer o bem depois de um erro...
:-*
ih! escrevi sobre um Gunter Grass também... que conincidência.
Günter Grass não é o "mais recente Nobel da literatura"; tal distinção foi-lhe conferida em 1999. O mais recente laureado é harold Pinter, eminente dramaturgo britânico.
Obrigado, língua morta pela correcção feita!
Se quieseres saber a minha opinião lê o meu post de 20 de agosto
Eis porque este blog é um Observatório, e não um Conservatório!
:-)
...é o progresso, o que isto chegou!!!! Beijoca*
talvez porque ha pessoas que nao sabem ficar caladas e por ha pessoas que precisam de falar!
&
e bom estar de volta aqui! Actual como sempre ;)
bjinho
nos mudamos sempre. e ainda bem que mudamos. nem para pior nem para melhor mas para diferente. e como tal e disseste muito bem, nao merecemos nos uma segunda oportunidade?
por amor de deus!claro que sim.
abraço da leonoreta
Nós somos nós e as nossas circunstâncias com disse Ortega y Gasset.
Cumps
Deixo um beijo e um desejo de bom fim de semana
Há sp um momento para reflectir...
Bom f-s!
Enviar um comentário
<< Home