segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Cavaco Presidente

No rescaldo das eleições presidenciais ficam, sobretudo, os discursos da noite - o do novo Presidente da República, o do Primeiro Ministro e, ainda, o de Marques Mendes. Houve uma consonância nos dois primeiros que me agradou e, na sua maioria, os analistas políticos se encarregaram de salientar. Do terceiro fica a sobriedade de atribuir a vitória ao candidato e aos portugueses que lhe deram o voto de confiança. Ficou-lhe, bem não ter bramido o argumento, que muitos esperavam, da mostragem de um qualquer cartão ao governo. Gostei.
Os que ainda insistem nessa falácia não se deram conta, provavelmente, do atestado de incompetência e de insanidade intelectual e mental que, com ela, insistem em passar ao eleitorado português. É que este pode ter muitos defeitos mas sabe, claramente, distinguir o que é uma eleição legislativa, de uma eleição autárquica e de uma eleição presidencial. E tem mostrado com maior ou menor determinação, e até pertinácia, essa clareza através do seu sentido de voto em cada momento eleitoral. E os que ontem deram a vitória a Cavaco Silva são os mesmos que a deram a Sócrates há um ano, que elegeram Guterres em 1995 ou Barroso em 2002. É um eleitorado transversal a todos os partidos e que, mais do que mostrar um cartão, quis eleger um Presidente para os próximos cinco anos. Porque, também sabe, que o Governo que elegeu há um ano está legitimado para um mandato de quatro. Como sabe, igualmente, que votar num partido diferente do do Governo, como protesto, para uma eleição autárquica é um voto contra o candidato e não contra o governo. O cartão, o tal cartão, mantêm-no guardado para a altura própria.
Destas eleições fica a lição que Manuel Alegre deu com a sua candidatura. Dela se concluem duas coisas: a eleição presidencial é uninominal e supra partidária; e que há um milhão de eleitores cansados de ouvir e ver sempre as mesmas caras e os mesmos discursos políticos. Esta última levará a que Alegre não caia na patetice de criar um novo partido.
Aliás, o Secretário Geral do PS, José Sócrates, retirou daí as devidas ilações e, ao invés dos ressaibiados pela derrota infligida a Soares, não lançou uma "caça as bruxas" chamando de novo a si todos os que neste acto se desviaram da estratégia do partido. Por duas razões fulcrais: a primeira é de índole democrática. Se a eleição presidencial é uninominal significa que, do mesmo partido, pode surgir mais do que uma candidatura. Por essa razão, perseguir Alegre seria antidemocrático. A segunda, talvez mais imperiosa que a primeira, é a da expressão que a candidatura de Alegre teve. Maior do que aquela que o poeta tem tido nas suas hostes partidárias. E o momento não é para divisões. Sócrates precisa dos eleitores de Alegre. Hostilizá-lo, agora, criaria uma onda de solidariedade para com a vítima. Sócrates mostra, por isso, uma inteligência política de longe superior à dos que o rodeiam e lhe pediram a cabeça de Alegre.
A Soares fica reservado o pior e o melhor da campanha eleitoral. O pior pela pouca elevação com que encetou este combate, envolvendo-se em ataques ferozes e constantes a Cavaco Silva. O melhor pela lição de inconformismo (terá sido?), de agilidade, de combatividade, de dinamismo e energia que, aos 81 anos, nos revelou. O mp3 (que alguns, ironicamente, apelidam de movimento para o 3º lugar) foi castigado pelo pior e, simultaneamente, premiado pelo melhor. Não fora este prémio e, à conta do castigo, Jerónimo teria ultrapassado, pela esquerda, Mário Soares.

17 Comentário(s):

Anonymous Anónimo disse:

Bela análise.

O vencedor fez transparecer, no momento da vitória, a personalidade, o respeito pelos outros candidatos, a vontade de um Portugal melhor e o sentido de responsabilidade que demonstrou em toda a campanha.

Mais uma vez refiro que o PS perdeu, não porque Cavaco Silva ganhou, mas sim porque Manuel Alegre conseguiu o segundo lugar.

Os candidatos que se demarcaram dos partidos obtiveram os dois primeiros lugares, o que não deixa de ser curioso.

Uns, em tempo de campanha, referiram-se a Cavaco Silva como o Sr. Silva, eu como costumo ser bem educado, digo: Viva o Sr. Professor Doutor Anibal Cavaco Silva, futuro Presidente de Portugal.

segunda-feira, 23 janeiro, 2006  
Blogger Agnelo Figueiredo disse:

Concordo globalmente. Exceptuo a referência ao "melhor" de Mário Soares. Na minha análise não houve esse tal melhor. Foi tudo mau de mais.

segunda-feira, 23 janeiro, 2006  
Blogger Eduardo Leal disse:

Começo por comentar os comentários...
Cavaco Silva é o nosso Presidente... seja.
O PS não perdeu porque Alegre ficou em segundo lugar... perdeu porque escolheu ajudar a eleger Cavaco, com determinação e astúcia política de José Sócrates.
Os dois primeiros candidatos demarcaram-se dos partidos... não me parece. Cavaco Silva foi o candidato do PSD e de um PP envergonhado.
Não é crime. É normal... faz parte do sistema.

Mário Soares não teve melhor?! Claro que teve... sob o ponto de vista caricatural a candidatura até que correu bem.
Vimos muitos homens do aparelho a posicionarem-se para as fotos circunstanciais... e depois... com um ar de envergonhado conformismo a darem as condolências ao candidato derrotado em todas as linhas do acto eleitoral.

Adiante!
A tua análise, Amigo João, faz sentido para mim.
Focalizo-me fundamentalmente no impacto que estes resultados poderão ter para o meu Partido Socialista.
Como é evidente, ser militante tem vantagens e desvantagens. As segundas serão tanto maiores quanto não saibamos compreender que cada momento político tem significados diferentes.
Disse-o sempre. Uma eleição presidencial é a votação num Homem ou Mulher, em alguém que, individualmente se proponha representar-nos no mais alto cargo da Nação.
Os partidos têm outras esferas de influência vitais para o país.
Nestas eleições, como nas autárquicas, alguns podem sofrer da tentação do poder pelo poder e não pelo prazer de construir, pela vocação de trabalhar para o bem público, independentemente de cada concepção de bem.

O Partido Socialista tem em si uma característica que admiro. Do seu seio têm saído muitas candidaturas, umas mais e outras menos alinhadas com a estratégia do momento.
Foi assim com Salgado Zenha contra Soares e na mesma área de intervenção, no mesmo acto eleitoral, Pintasilgo contra Soares.
Foi assim quando Sampaio se lançou na corrida eleitoral, contra a vontade inicial de Guterres.
Foi assim, agora, com Manuel Alegre, um histórico do PS a concorrer contra um fundador do partido.
Isto é mau?!
Mau seria seguirmos o caminho que outros seguiram no passado e expulsar os militantes mais críticos.
Isso não vai acontecer, porque acredito que no PS não se tiram quadros da parede.

Por mais autocrático que seja o nosso actual dirigente... há vida no PS para além da direcção do Partido.

segunda-feira, 23 janeiro, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

Engraçada essa análise de "ajudar a eleger Cavaco com determinação e astúcia política de José Sócrates", ou será que foi por falta de "determinação" e falta de "astúcia política de José Sócrates"?.

Mas o mais importante é que Portugal precisa de um PS forte e determinado e também de um PSD ainda mais forte e mais determinado.

Os restantes partidos à sua dimensão, também vão sendo importantes, quanto mais não seja para o debate de ideias e convicções.

Acima de tudo VIVA PORTUGAL!

segunda-feira, 23 janeiro, 2006  
Blogger Neoarqueo disse:

Vamos lá pegasr apenas nalguns pontso, já que foi algumas vezes acusado de me elongar:"E os que ontem deram a vitória a Cavaco Silva são os mesmos que a deram a Sócrates há um ano, que elegeram Guterres em 1995 ou Barroso em 2002." Não concordo, não é o mesmo, só uma franja flutuante o é.Sócrates precisa dos eleitores de Alegre.
"Hostilizá-lo, agora, criaria uma onda de solidariedade para com a vítima. Sócrates mostra, por isso, uma inteligência política de longe superior à dos que o rodeiam e lhe pediram a cabeça de Alegre." Concordo plenamente.
"A Soares fica reservado o pior e o melhor da campanha eleitoral. O pior pela pouca elevação com que encetou este combate, envolvendo-se em ataques ferozes e constantes a Cavaco Silva." Concordo. Globalmente está uma boa análise, ao teu estilo. Só ainda não respondes-te à questão que te tenho colocado...continuo à espera...

segunda-feira, 23 janeiro, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

Afinal o José Sócrates não é gay !!!
Foi visto a andar com duas canadianas...

Ainda me estou a rir

segunda-feira, 23 janeiro, 2006  
Blogger Fornense disse:

tambem ainda me estou a rir da piada no anonimo.. bem:
sim coitado, o soares ainda fez uns kms valentes ha que salientar isso.. para um idoso,esforçou-se ! e isso valeu-lhe o ultimo lugar do podio.nada mau!
acho que fez uma boa analise, no geral estou de acordo consigo.. um abraço

segunda-feira, 23 janeiro, 2006  
Blogger Unknown disse:

Uma noite com tão pouco para dar, não sei como consegues espremer tanto o tema.

Estou descontente, não gosto do Cavaco é um Homem em quem não confio, mas … espero mais tarde conjecturar com todos vocês a razão da minha desconfiança, com ou sem razão… a ver vamos.

terça-feira, 24 janeiro, 2006  
Blogger sattelite disse:

Infelizmente Cavaco foi eleito...desengane-se quem votou no sr a pensar que era o salvador. Concordo com o terreiro, o homem não me inspira nenhuma confiança, é arrogante e prepotente.

Já agora existe neste magnifico universo dos blogs, que eu tanto aprecio, um determinado auto intitulado provocador que não gosta de ser provocado e sente-se enjoado com opiniões discordantes da sua pelo que decidiu impedir os meus comentários nos seus blogs, para um sr. vereador da CMM que se diz democrata teve uma atitude facista...

terça-feira, 24 janeiro, 2006  
Blogger Alberto Oliveira disse:

... subscrevo as palavras de Eduardo Leal; "há vida no PS para além da direcção do partido". Democracia é isso mesmo; ter opinião própria contrária á do próprio aparelho partidário. Não fosse assim, para que teria servido o 25 de Abril?!

Não gosto do homem. Porque representa o português que imagina que quem sorri, não bate bem da tola. O que vem na linha do pensamento anti-cultural, cultivado (mesmo com secas), durante anos e anos a fio pela inteligência salazarista. Independentemente dos gostos partidários, Portugal tem de modernizar-se; não só científica, técnica e económicamente. Também mentalmente. Também por isso, aguardo que os próximos candidatos presidenciais se apresentem na sua melhor condição física e mental; trocado por miudos: mais novos que estes.

terça-feira, 24 janeiro, 2006  
Anonymous Anónimo disse:

Subscrevo os comentários de...enfim, esquece João Lopes...já foi quase tudo dito aqui...Sim, porque a mim, ninguem me cala! ehehehehe

Beijinhos Grandes :-)

terça-feira, 24 janeiro, 2006  
Blogger Unknown disse:

Viva o Nosso Cavaquinho

terça-feira, 24 janeiro, 2006  
Blogger Vica disse:

Vi que estás inspirado neste post.

terça-feira, 24 janeiro, 2006  
Blogger Alex disse:

VIVA Cavaco Silva

Para mim é um herói. Teve uma tripla vitória. Para além de ter sido eleito presidente, conseguiu colocar no lugar certo, para a história, a figura de Mário Soares, e ainda, mostrou a nódoa que é este governo do PS.
Quanto ao Manuel Alegre, Jerónimo de Sousa e Garcia Pereira, dou os meus parabéns – estiveram à altura e com dignidade.
Já no que respeita ao Francisco Louça, mal empregados os 5,2% de votos.
Mal empregadinho dinheirinho da subvenção do Estado que nos vai sair dos bolsos e vai direita aos cofres do BE.

VIVA Cavaco Silva

PS. João comestes sopa de letras?
Também ouvi dizer que andas a votar em branco. Que estranho!...

terça-feira, 24 janeiro, 2006  
Blogger Al Cardoso disse:

Real, real por D. Anibal, rei de Portugal e Algarve. Ou Algarves? Lembrem-se "Portugal Maior", que se cuidem os Algarves de Alem Mar = Marrocos.

terça-feira, 24 janeiro, 2006  
Blogger Estrela do mar disse:

...gostei do teu post...aliás penso mesmo que haver duas vertentes diferentes à frente da política activa portuguesa...o país só tem a ganhar...


Jinhosssssssss

quarta-feira, 25 janeiro, 2006  
Blogger Mónica disse:

ganhou tá ganho parabéns para ele e pra quem não foi votar

sábado, 28 janeiro, 2006  

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