Ignorantes para obedecer?
A democracia é um privilégio de povos instruídos e despidos de valores egoístas e individualistas.
Os 48 anos de ditadura “unipessoal” e fundada em “ignorantes para serem obedientes” tem dado, no caso do nosso querido, país frutos amargos e difíceis de digerir. As recentes eleições autárquicas foram pródigas em matéria para análises políticas, proporcionando leituras variadas e interpretações bem interessantes.
O exemplo de Castelo de Paiva é interessantíssimo: um concelho pequeno, pobre, esvaído das suas gentes produtivas (leia-se dos que produzem para outros), ligado a uma agricultura de subsistência (fraca subsistência) para os que ficam, sem vias de acesso que funcionem cabalmente (numa era em que qualquer pequena vila tem via rápida), foi a votos com apenas duas listas concorrentes (as do costume!).
O PSD apresentou como candidato o Presidente em exercício, que se desdobrou nos últimos anos em realizar obras de qualidade discutível mas de contentamento fácil de quem vota, sem a mínima preocupação em apresentar projectos interligados ou que contribuam para solucionar problemas base do concelho.
O PS lançou no combate autárquico o número dois da Câmara PSD (não é engano!).
Prova-se assim que o que importa não são projectos... colectivos, entenda-se, mas sim projectos individuais, ou na menos má das hipóteses, de pequenos grupos(neste caso, bem pequenos, por sinal).
A democracia (o tal poder do povo) em Castelo de Paiva é como os antigos gelados de chocolate com Baunilha, bons numa primeira ou segunda prova, mas absolutamente entediantes quando no uso continuado. O resultado foi notável – uma diferença de apenas 64 votos – o que equivale a dizer que bastaria que 33 eleitores tivessem alterado o seu sentido de voto, que o sentido se manteria exactamente o mesmo mas com uma mudança de cadeiras...
Lembro-me de Platão que dizia que todos nós intuímos na realidade triste que vivemos a memória escondida das verdades que antes contemplámos, nas suas sombras, quando presos na caverna e de costas voltadas para a luz .
Pobres de nós, que muito provavelmente, não só estávamos de costas voltadas para a luz, como também estávamos vendados pela máxima de Salazar “ignorantes para obedecer”.
Pôr em questão, duvidar, é a atitude mais sábia e o nosso património mais valioso.
Eduardo Leal
7 Comentário(s):
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Na época em que o “Botas” cá esteve a mandar, proliferaram ditaduras por toda a Europa. Actualmente o sistema democrático está em todos esses países. E os ditadores, que longe da Europa, conseguiram sobreviver, têm os dias contados.
Não compreendi bem o artigo, talvez por não ser “do tempo da outra senhora”.
Em Castelo de Paiva, podem concorrer ás eleições os candidatos que quiserem, são livres. Se não querem exercer esse direito, não exercem, são livres para isso. Podem boicotar as eleições, continuam livres. Hoje em dia, podem concorrer em listas sem partidos por trás, mais liberdade.
Relativamente aos votos, foram 64, podia ser só 1. Em democracia as maiorias “governam”, tem que haver um método, e este das maiorias, parece-me o mais justo.
Quando terminam o mandato vão a sufrágio, se não cumprirem, o povo, troca-os por outros. Quem não estiver satisfeitos, concorre, vota em branco ou nem votam. Não é preso por isso.
Para não haver viciados em poder, actualmente, existe um número limitado de mandatos para os presidentes de câmara. Mais uma vez, foi a democracia a actuar.
Cumprimentos
Caro "greensky":
O artigo não tem intenções subentendíveis, trata apenas de um problema básico do nosso povo que é a dificuldade de compreender a diversidade e participar.
O que me parece mais triste na realidade de Castelo de Paiva é esta espécia de concepção meramente dualista, quando na realidade deveríamos ser capazes de compreender que não há nunca apenas duas perspectivas (e note que em cast. paiva os dois candidatos provinham do mesmo partido, mas em listas diferentes).
Como é evidente, não ponho em causa os resultados. quem ganhou, ganhou. Ponho em causa as motivações, dos candidatos e dos eleitores , fundamentalmente, a nossa capacidade, como povo, de mobilização em torno de causas e a nossa própria capacidade para acreditar em causas.
É legítimo pensar-se então, da leitura do texto, que, primeiro: o povo de Castelo de Paiva é estúpido e ignorante. Segundo: os dois candadtos são os tais que em terra de cegos quem tem um olho é rei. Terceiro: este exemplo ou é único e por isso constitui motivo para análise, não deixando por isso de ser uma curiosidade, ou então é uma situação que amiúde acontece no nosso país, e então, por silogismo, todos os eleitores deste país são estúpidos e iignorantes e todos os políticos são os tais que vêem. No entanto, existe uma determinada "elite" que é instruida e por conseguinte tem o privilégio da Democracia. São estas as conclusões do texto? A Democracia, muito antes de ser o conceito "científico" que só alguns teóricos parecem dominar na perfeição e, consequentemente de uma forma melhor que os outros, começou por ser um simples sistema de administração da Pólis grega. E quando o GreensKy diz que a Democracia é isto mesmo: a possibilidade do povo escolher quem livremente quiser, desde que se candidate, conpreende também a possibilidade de nas eleições seguintes poder tirar do poder quem anteriormente elegeu. Na antiga Grécia, quando o poder era abusado usava-se a figura de "votar ao ostracismo", que consistia em enviar para o "degredo" o abusador. Foi o povo, enquanto "massa", com fraca instrução que desenvolveu este sistema, pondo-o em prática. O povo pode deixar-se enganar pelos "xicos-espertos", pelos políticos que não merecem esse nome, mas inevitavelmente não se deixam enganar para sempre. E é esta a grande virtude da Democracia, tem a capacidade de se regenerar, umas vezes mais tarde outras mais cedo.
Não é por acaso que ganham os incompetentes!
Analisem:
As últimas inaugurações
A imagem de um presidente de câmara a cortar uma fita numa nova escola ou jardim é já um ícone da democracia.
No dia das eleições locais, a ‘Domingo’ quis saber quantas e quais as obras que o País ganhou nos últimos três meses e pediu aos municípios a lista de inaugurações feitas nesse período. Das 308 câmaras responderam 90, ou seja, 30%. As restantes preferiram ignorar o pedido, talvez com receio de juízos de valor. Mas a ‘Domingo’ não os faz, limita-se a publicar factos. Até porque quem inaugura mais nem sempre governa melhor e vice-versa. Fica a estatística.
CASTELO DE PAIVA: 13 inaugurações (2 Arranjos urbanísticos, 1 Zona de Lazer, 1 Parque de Merendas, 1 Acesso, 1 Escola de 1.º ciclo, 1 Rua, 3 Caminhos, 1 Estrada municipal)
Meus amigos, cada um tem aquilo que merece. Pena tenho eu de todos aqueles que querem a mudança, e não a conseguem. As coisas são assim.
Viva a democracia!!!!!!! Ou vivam os ignorantes para obedecer?
Não me parece legítimo dizer que um povo ignorante seja estúpido.
O problema é que se continuarmos a negligenciar a educação, continuaremos a ter um país atrasado. E quanto mais atrasado mais se negligenciará a educação.
Não seremos necessariamente estúpidos, até porque, fora do nosso contexto nacional somos um povo capaz de proezas extraordinárias.
Quando um povo não é estimulado pela educação, torna-se um povo preocupado em demasia com os seus problemas individuais e, como consequência natural, pouco preocupado com as causas colectivas, com a participação.
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