segunda-feira, 9 de abril de 2007

Páscoa

E pronto, mais um ano e cumpriu-se a tradição. Na aldeia é assim, ano após ano, no dia de Páscoa as portas das casas abrem-se e assim ficam, toda a tarde, até que a Cruz de Cristo lhes irrompa, anunciando a Ressurreição.
O aroma dos soalhos lavados durante a semana ou o cheiro a cera fresca, colocada de véspera, rejuvenesce o velho casario que se espalha de uma ponta à outra da aldeia a contrastar com as casas de construção recente, de materiais modernos e de fácil manutenção e limpeza.
Nas ruas nem a chuva que chegou a ameaçar uma forte tempestade foi suficiente para impedir que as pessoas se aglomerassem à frente das casas, aguardando, impacientemente a sua vez. Algumas das casas, as mais antigas, com o tradicional pátio à portuguesa coberto de giestas floridas de onde emana um fresco e agradável perfume que nos faz regressar aos sonhos de miúdos quando as aldeias ficavam completamente cobertas dessa planta, de lés a lés, para que a procissão não sujasse os pés na lama das ruas ainda por calcetar, ou na velha calçada à antiga portuguesa enfeitada por uma passadeira de um verde e branco intenso.
As famílias reúnem-se. Os filhos da terra regressam à sua aldeia natal para o beijar da Cruz em cada casa.
Aqui se nota um avolumar de pessoas que transmite o verdadeiro êxodo que a aldeia tem sofrido nos últimos anos. Algumas das casas com um casal de velhos, de olhos lacrimejantes e doridos pela solidão, vestidos a rigor, ajoelhados para receber a Cruz de Cristo. E os que, sós, depois de uma perda irreparável de um dos cônjuges e com a família longe, no estrangeiro, quase pedem desculpa por estarem tão sós a receber a Cruz, numa casa onde já viveram cinco, seis, oito, dez pessoas. Como se fosse sua a culpa da solidão.
Numa casa portuguesa, com certeza, pão-de-ló, queijo e vinho sobre a mesa para arregalar os olhos da comitiva. E amêndoas para a pequenada. E o folar para o senhor prior. E a alegria, a alegria de ter uma aldeia cheia de gente, ainda que algumas casas estejam quase vazias.
É a maldita desertificação. Aquela que nós vamos fazendo dia a dia quando saímos à procura de melhor trabalho e da promessa de dias melhores para os nossos.

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8 Comentário(s):

Blogger Unknown disse:

cumprimentos
espero que tenham tido uma feliz e santa páscoa
um abraço desde terrasdetavares.blogspot.com

segunda-feira, 09 abril, 2007  
Blogger Al Cardoso disse:

Como eu gostaria de estar nesse dia a fazer companhia a minha mae, que este ano teve que receber a cruz sozinha.

Gostei de ver a juventude da sua terra envolvida nesta tradicao tao nossa, parabens a eles e a voce por esta entrada.

Boas festas de Pascoa, que o "pior" ca do sitio disse continuam ate ao proximo domingo.

Um abraco do amigo d'Algodres.

terça-feira, 10 abril, 2007  
Blogger Al Cardoso disse:

Queria ter escrito: o "Prior"!

terça-feira, 10 abril, 2007  
Blogger Carla disse:

Passei por aki e deixo votos de uma boa semana.
Beijos

terça-feira, 10 abril, 2007  
Blogger Amaral disse:

JL
espero que a sua Páscoa e a dos seus tenha sido boa. A tradição ainda é o que era, pelo menos nas aldeias, daí que o compasso ainda seja importante para muitos.
Boa semana
Abraço

terça-feira, 10 abril, 2007  
Anonymous Anónimo disse:

Quero dar os meus parabêns a essa malta que fez chegar a cruz ,a ressurreição a cada uma das casas. Nem a chuva lhes fez baixar os braços, pelo contrario mais motivação lhes deu, Parabens.
ze

terça-feira, 10 abril, 2007  
Anonymous Anónimo disse:

o prior é que já lá não anda. mas também neste caso a idade já é muita.

Mas acho que se perde um pouco a piada quando vão apenas uns miúdos alguns dos quais levam a coisa um bocado a brincar( não estou a falar da tua terra)mas tinha um bocado mais de dignidade se fosse um adulto com alguma respeitabilidade

terça-feira, 10 abril, 2007  
Blogger Carla disse:

Beijokas........

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quarta-feira, 11 abril, 2007  

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