terça-feira, 30 de outubro de 2007

Público ou privado?

O presidente francês, Nicolas Sarkosy, seguiu os passos de Santana Lopes e durante uma entrevista conduzida por uma “cusca” levantou-se, despediu-se e abandonou a sala ante a estupefacção da entrevistadora.
Quem entrevista deve ter o bom senso de perceber o limite da razoabilidade e, sobretudo, onde é que se deve situar a fronteira do público e do privado. É certo que falamos de figuras públicas que aceitaram com a sua exposição a limitar e a reduzir o espaço que lhes é consagrado para a vida privada. Mas, em rigor, o que importa se Sarkosy tem ou não dormido na mesma cama com a mulher a não ser para o secreto prazer de ver a vida do senhor devassada? O que importa se tem, ou não, satisfeito os prazeres da sua companheira e os seus próprios prazeres, a menos que seja para nossa auto-satisfação por verificarmos que não somos os únicos?
É claro que, também aqui, há uma fronteira que pode ser ultrapassada se o interesse público se sobrepuser à privacidade das figuras públicas. Em que casos? Imagine-se que, durante a campanha ou em qualquer discurso circunstancial, Nicolas se revela contra o aborto, ou contra o consumo de estupefacientes. É, então, legitimo que os jornalistas, conhecendo antecedentes que coloquem em causa estas convicções o confrontem com esses factos. Mas até nessas circunstâncias deve imperar o cuidado na exposição dos mesmos.
Imagine-se, ainda, que em casa Sarkosy é violento e maltrata a companheira. Aqui, como está bom de ver, o caso muda de figura e fará todo o sentido que a comunicação social explore essa faceta do presidente. Porquê? Porque sendo a mais alta figura da nação deve ser exemplar no que concerne ao uso e abuso da força. Tratando-se de uma senhora maior cuidado deverá ter.
São alguns exemplos de situações privadas que devem ser tornadas públicas. Não são, contudo, estes os casos que a comunicação social habitualmente explora. Tem optado pela devassa, pela intriga e pela exploração e mediatização da privacidade a que, até as figuras públicas, têm direito.
O privado só deve ser tornado público se houver interesse público. Caso contrário, não. Haja respeito!

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