A nacional parolice dos "anti"
Não sei o que foi a ditadura apesar de ter vivido os últimos 4 anos da sua existência. Em todo o caso sei, pelo que ouço e leio, que não é um regime em que gostasse de viver.
Aprecio uma boa troca de ideias e opiniões. Não me parece que fosse possível fazê-lo aos olhos do regime salazarista.
A ideia da Câmara de Santa Comba Dão em recuperar a casa do velho ditador para aí fazer um museu, ou outro qualquer lugar de exposição do espólio do anterior regime e do velho ditador, não me oferece qualquer tipo de resistência. Nem acho, sequer, que seja má ideia fazê-lo. Pelo contrário, não sou dos que perfilham a teoria que transforma esse projecto num perigo para a democracia. Acho, até, que talvez servisse para explicar melhor o que é a democracia e recordar os aspectos negativos de que o anterior regime enfermava.
Por isso acho de um parolíssimo mau tom aqueles que, não sendo a favor de nada só existem porque são “anti-qualquer-coisa”, erguerem o tom de voz e jurarem a pés juntos que a construção desse espaço é o retrocesso ao antigo regime e será, tão só, um espaço de idolatria ao velho “Botas”.
Visitei, o ano passado, o Vale dos Caídos na vizinha Espanha, onde se encontra o túmulo do “muito pior ditador” - se é possível defini-los em escala - Franco. E fiquei admirado com o que vi: um profundo respeito. Por um lado os que o amaram - e ainda o amarão – na sua romaria idólatra; por outro os que o odiaram – e odiarão – no seu desfile de eternos vencedores de um regime atroz que a memória colectiva não pode, nem deve, esquecer. Apeteceu, sem dúvida, no auge da memória que as narrativas odiosas que toldam a visão nos trazem, calcar aquele túmulo em posição triunfalista. Ou até, no limite, o escarro de desprezo por tão vis restos mortais. Mas ninguém o faz. Impera o bom senso, o civismo e a democracia.
Talvez valesse a pena que os movimentos, anti facista e anti democracia, fizessem aí uma visita e retirassem os devidos ensinamentos.
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