sexta-feira, 18 de maio de 2007

A nacional parolice dos "anti"

Não sei o que foi a ditadura apesar de ter vivido os últimos 4 anos da sua existência. Em todo o caso sei, pelo que ouço e leio, que não é um regime em que gostasse de viver.
Aprecio uma boa troca de ideias e opiniões. Não me parece que fosse possível fazê-lo aos olhos do regime salazarista.
A ideia da Câmara de Santa Comba Dão em recuperar a casa do velho ditador para aí fazer um museu, ou outro qualquer lugar de exposição do espólio do anterior regime e do velho ditador, não me oferece qualquer tipo de resistência. Nem acho, sequer, que seja má ideia fazê-lo. Pelo contrário, não sou dos que perfilham a teoria que transforma esse projecto num perigo para a democracia. Acho, até, que talvez servisse para explicar melhor o que é a democracia e recordar os aspectos negativos de que o anterior regime enfermava.
Por isso acho de um parolíssimo mau tom aqueles que, não sendo a favor de nada só existem porque são “anti-qualquer-coisa”, erguerem o tom de voz e jurarem a pés juntos que a construção desse espaço é o retrocesso ao antigo regime e será, tão só, um espaço de idolatria ao velho “Botas”.
Visitei, o ano passado, o Vale dos Caídos na vizinha Espanha, onde se encontra o túmulo do “muito pior ditador” - se é possível defini-los em escala - Franco. E fiquei admirado com o que vi: um profundo respeito. Por um lado os que o amaram - e ainda o amarão – na sua romaria idólatra; por outro os que o odiaram – e odiarão – no seu desfile de eternos vencedores de um regime atroz que a memória colectiva não pode, nem deve, esquecer. Apeteceu, sem dúvida, no auge da memória que as narrativas odiosas que toldam a visão nos trazem, calcar aquele túmulo em posição triunfalista. Ou até, no limite, o escarro de desprezo por tão vis restos mortais. Mas ninguém o faz. Impera o bom senso, o civismo e a democracia.
Talvez valesse a pena que os movimentos, anti facista e anti democracia, fizessem aí uma visita e retirassem os devidos ensinamentos.

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quinta-feira, 10 de maio de 2007

Amarrados?

Há uma petição na internet e fortemente publicitada na rádio a exigir a abertura dos hipermercados aos domingos e feriados no período da tarde.
A publicidade “vende-nos” a ideia que estamos amarrados e assinando a petição damos um passo na quebra dessas amarras. “Vende-nos”, ainda, a ideia de ser um direito nosso de consumidores, esse de ter o comércio aberto naqueles dias.
Muito bem! E no meio de tantos direitos onde é que entram os nossos deveres, as nossas obrigações?
Sou a favor do liberalismo mas nem tanto ao mar nem tanto à terra. Sinceramente, dos doze argumentos que são apresentados na petição a maioria é falaciosa e pode iludir os mais incautos.
É verdade que não podemos, hoje em que tudo é vivido a mil à hora e 365 dias no ano, invocar o domingo como dia de descanso por natureza. São muitos os que trabalham ao domingo para garantir a sustentabilidade de sectores com os quais se torna inimaginável viver. Abrir uma torneira ou ligar um interruptor são pequenos gestos, hoje tão banais, que obrigam a que por trás deles haja toda uma dinâmica e logística que, quase sempre, nos passam despercebidas.
Mas fazer compras não é, decididamente, um desses casos. Vivo bem sem fazer compras ao domingo à tarde. Há tantas coisas bem mais interessantes para fazer… Por isso não assino a petição. Porque não me sinto amarrado. Porque não quero amarrar os funcionários dos hipermercados por mero capricho meu!

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quinta-feira, 3 de maio de 2007

Ascenção e queda de um anjo...

A queda da Câmara de Lisboa é, para Marques Mendes, uma faca de dois gumes. Se por um lado dá uma imagem de coerência na atitude e no discurso, por outro fica maculado pelo facto de ter impedido Pedro Santana Lopes de ser o candidato nas últimas eleições.
Santana, sempre acusado de ser trapalhão, torna-se assim um anjo ao lado das trapalhadas de Carmona. Dizer, no entanto, que com PSL nada disto teria sucedido é, também um mero exercício de retórica e de fácil conjectura. Acredito, porém, que assim fosse.
Mas esta decisão de Marques Mendes enferma no risco de se meter no mesmo saco Carmona, Valentim Loureiro, Isaltino Morais e outros do mesmo jaez. De facto o presidente da Câmara de Lisboa foi constituído arguido tão somente para depor num processo. Nada mais, por enquanto. O risco que corre é de ser julgado na praça pública sem que, no entanto, haja matéria para julgamento. Ser constituído arguido não é, até prova em contrário, atestado de criminoso ou corrupto.
Por isso, Carmona, é empurrado e para a porta mais pequena do edifício da edilidade.
Apressou-se a oposição, nomeadamente os suspeitos do costume, PCP e Bloco, a apregoar que esta posição de Marques Mendes surge atrasada e que eles próprios já tinham há muito avançado com essa solução publicamente. No fundo menosprezando a atitude e, presunçosamente, arrebatando a si a condição de paradigma, de exemplo a seguir.
Até poderiam ser, não fosse o facto de terem telhados de vidro. Ou melhor de porcelana fina. O PCP tem o exemplo da Câmara de Setúbal onde a sua presidente é arguida num processo de despedimento colectivo. Logo uma presidente do PCP a ser acusada de praticar a antítese do marxismo. E o Bloco tem o exemplo na única autarquia conquistada, a de Salvaterra de Magos, onde todos os seus vereadores e presidente estão envolvidos numa acusação de corrupção. Até hoje não lhes ouvi um “pio” sobre a matéria. E vocês?
Entretanto Carmona não renuncia e diz que será o último a abandonar o navio. Não, não é, seguramente, o exemplo de timoneiro. Tampouco vai ao leme de alguma barcaça de fazer inveja ao Titanic. Sabe é que a glória é vã e o poder é efémero. E que amanhã, o mais certo, é que ninguém o reconheça e fique no “desemprego”. Porque é independente e não tem amigos na política!
E Santana? Deve rebolar-se de contente!

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