terça-feira, 31 de janeiro de 2006

O milagre

Fiquei impressionado com o autêntico milagre que salvou a menina de dois meses de uma morte por asfixia ou afogamento, no Brasil. Julguei que Rómulo e Remo eram, apenas, personagens de uma fábula. Uma fábula que, mais do que justificar o nascimento da antiga Roma, nos mostrava como os animais podem ser mais "humanos" que os homens e estes mais animais que aqueles.
Fiquei sem saber, ontem, a que se devia aquele nó na garganta. Não sei se de felicidade pelo milagre, se pela raiva que se sente quando tomamos conhecimento da capacidade de crueza e atrocidades que o cérebro é capaz de engendrar.
A menina ficará, para o resto da vida, acorrentada a uma história hedionda que termina com um milagre só possível pela protecção de um Anjo da Guarda à moda antiga. Daqueles que não cerra o olho para dormitar.
A minha fé faz-me acreditar que maior que a maldade adulta de quem tomou a iniciativa macabra foi a força de vontade de uma criança que se bateu pela vida, não desistindo de nadar, mesmo sem saber, por ora, o que é nadar e o que é a vida.
Quando acreditamos nada nos faz desistir. E a menina, sem saber, acreditou com uma alma maior que a sua. Maior que a nossa. Há-de ser uma vencedora.

domingo, 29 de janeiro de 2006

Sim senhor, Primeiro Ministro!

Reconheço que o início do ano, a fazer fé no primeiro mês, foi produtivo para o Governo da Nação e, também, para esta.
Não é com frequência que atraímos, de uma assentada, oito importantes investimentos de empresas estrangeiras, algumas de tecnologia de ponta, convencendo-as a lançarem âncora no rectângulo da Europa Ocidental.
Com tudo de bom que isso significa: emprego; criação de riqueza; competitividade; diminuição do deficit da balança comercial e por aí adiante.
E, com o mês a terminar, foram, de uma assentada, anunciadas pelo Primeiro Ministro 10 medidas que contribuirão para a diminuição da burocracia em Portugal e, consequentemente, pouparão às empresas e aos cidadãos cerca de 125 milhões de euros em cada ano.
Começa, assim, a tornar-se menos frequente a rábula dos Gato Fedorento sobre o papel, “que papel?, o papel, que papel?”, que sempre falta.
A ausência, a partir de 2008, de entrega de IRS, por exemplo, constitui um reconhecimento da postura sobranceira com que o Estado trata os cidadãos, solicitando a cada um informação que, por princípio, já detém em seu poder. Não esqueçamos que a Segurança Social, por exemplo, recebe das empresas toda a informação sobre os vencimentos e descontos dos seus funcionários.
Reconheço, porém, que a satisfação de uns não é proporcional à de outros. Os notários, por exemplo, a esta altura do campeonato devem estar a pensar que receberam o ano passado um presente envenenado. Primeiro foram incentivados à criação do seu próprio negócio com os Notários privados. Agora esvaziam-se de conteúdo com o fim do reconhecimento das assinaturas e de outros actos como a celebração de certas escrituras.
São, contudo, medidas que nos satisfazem a nós, cidadãos.
Janeiro foi, desta forma, muito frutífero para o governo. Há quem diga, inclusive, que Sócrates conseguiu eleger um Presidente da República que o deixa trabalhar. Dizem outros que estas boas notícias foram influências das duas canadianas que o Primeiro Ministro tem como assessoras, desde que veio de férias na Suíça. Seja como for, fica o meu aplauso. Imagem retirada daqui

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Menino e menina Guerreiro

Santana Lopes perdeu as eleições legislativas com o "Menino Guerreiro". Cavaco mostrou como se faz e venceu as presidenciais com a menina Guerreiro (Kátia). Definitivamente, as mulheres continuam a ser as preferidas do eleitorado. Santana deveria ter presumido essa preferência. Mormente quando todos sabemos, também, das preferências de Santana.
Não se cumpriu o sonho de Sá Carneiro e o culpado é Santana Lopes. "Menino Guerreiro"... Enfim!
O que me deixa mais preocupado, muito mais, é que eu fui ver o "Menino Guerreiro" e não fui ver a menina Guerreiro. Quem explicaria isto muito bem, melhor que eu - o que não é difícil diga-se em abono da verdade - era Freud.
Assim, como assim, ainda bem que ele já está a “fazer tijolo”, não fosse meter-me “macaquinhos” na cabeça. É que, nessas coisas, eu nunca tenho dúvidas e raramente me engano. A menos que a escolha passe entre um "Menino Guerreiro" e uma menina Guerreiro, como está bom de ver.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

A explicação

Está explicado porque foi Cavaco e não um dos outros candidatos, excepção feita a Soares e este por razões óbvias que me isento de repetir, a ganhar as presidenciais.
A resposta está em Maria Cavaco Silva. Todas as primeiras damas de que há memória (falo da minha fraca memória evidentemente) são Marias.
Dizem, e eu concordo, que o mundo é das mulheres. Eu acrescento: E Portugal é das Marias! Quem não tem uma que a arranje. Têm cinco anos. Começou a contar.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Violação...

Dizem as más línguas que Soares não violou a lei eleitoral no último domingo, como o fez por outras vezes invocando o voto no candidato do PS, pela simples razão que… ficou confuso e não se lembrou quem é que o PS apoiava nas presidenciais. Ele há coisas…

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Cavaco Presidente

No rescaldo das eleições presidenciais ficam, sobretudo, os discursos da noite - o do novo Presidente da República, o do Primeiro Ministro e, ainda, o de Marques Mendes. Houve uma consonância nos dois primeiros que me agradou e, na sua maioria, os analistas políticos se encarregaram de salientar. Do terceiro fica a sobriedade de atribuir a vitória ao candidato e aos portugueses que lhe deram o voto de confiança. Ficou-lhe, bem não ter bramido o argumento, que muitos esperavam, da mostragem de um qualquer cartão ao governo. Gostei.
Os que ainda insistem nessa falácia não se deram conta, provavelmente, do atestado de incompetência e de insanidade intelectual e mental que, com ela, insistem em passar ao eleitorado português. É que este pode ter muitos defeitos mas sabe, claramente, distinguir o que é uma eleição legislativa, de uma eleição autárquica e de uma eleição presidencial. E tem mostrado com maior ou menor determinação, e até pertinácia, essa clareza através do seu sentido de voto em cada momento eleitoral. E os que ontem deram a vitória a Cavaco Silva são os mesmos que a deram a Sócrates há um ano, que elegeram Guterres em 1995 ou Barroso em 2002. É um eleitorado transversal a todos os partidos e que, mais do que mostrar um cartão, quis eleger um Presidente para os próximos cinco anos. Porque, também sabe, que o Governo que elegeu há um ano está legitimado para um mandato de quatro. Como sabe, igualmente, que votar num partido diferente do do Governo, como protesto, para uma eleição autárquica é um voto contra o candidato e não contra o governo. O cartão, o tal cartão, mantêm-no guardado para a altura própria.
Destas eleições fica a lição que Manuel Alegre deu com a sua candidatura. Dela se concluem duas coisas: a eleição presidencial é uninominal e supra partidária; e que há um milhão de eleitores cansados de ouvir e ver sempre as mesmas caras e os mesmos discursos políticos. Esta última levará a que Alegre não caia na patetice de criar um novo partido.
Aliás, o Secretário Geral do PS, José Sócrates, retirou daí as devidas ilações e, ao invés dos ressaibiados pela derrota infligida a Soares, não lançou uma "caça as bruxas" chamando de novo a si todos os que neste acto se desviaram da estratégia do partido. Por duas razões fulcrais: a primeira é de índole democrática. Se a eleição presidencial é uninominal significa que, do mesmo partido, pode surgir mais do que uma candidatura. Por essa razão, perseguir Alegre seria antidemocrático. A segunda, talvez mais imperiosa que a primeira, é a da expressão que a candidatura de Alegre teve. Maior do que aquela que o poeta tem tido nas suas hostes partidárias. E o momento não é para divisões. Sócrates precisa dos eleitores de Alegre. Hostilizá-lo, agora, criaria uma onda de solidariedade para com a vítima. Sócrates mostra, por isso, uma inteligência política de longe superior à dos que o rodeiam e lhe pediram a cabeça de Alegre.
A Soares fica reservado o pior e o melhor da campanha eleitoral. O pior pela pouca elevação com que encetou este combate, envolvendo-se em ataques ferozes e constantes a Cavaco Silva. O melhor pela lição de inconformismo (terá sido?), de agilidade, de combatividade, de dinamismo e energia que, aos 81 anos, nos revelou. O mp3 (que alguns, ironicamente, apelidam de movimento para o 3º lugar) foi castigado pelo pior e, simultaneamente, premiado pelo melhor. Não fora este prémio e, à conta do castigo, Jerónimo teria ultrapassado, pela esquerda, Mário Soares.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Mundo cão?

A propósito de um comentário do Nuno Figueiredo aqui e porque este assunto já me andava a corroer por dentro à espera de uma boa oportunidade, hoje decidi-me a fazê-lo ao sentir que o gatilho foi premido.
É de facto estranha a nossa sociedade. Chega, até, a ser carrasca na sua forma de pensar e de actuar. E não me excluo. Sou dela uma parte. Ínfima. Mas sou.
Tendemos, com alguma facilidade, a achar ultrapassados os profissionais que completaram já 50 anos de vida. E o próprio sistema concede aos de 65 anos, umas vezes mais cedo, outras mais tarde, a possibilidade da reforma.
Mais: aos 70 anos se ainda não se está reformado nos serviços públicos, a reforma acontece compulsivamente.
Por outro lado, a mesma sociedade, não concebe a ideia de ter um Presidente da República com, menos de 35 anos. Por o considerar imaturo ou pouco responsável, talvez. Ou, talvez, por nenhuma destas razões.
A nossa Constituição consagra nela essa idade a partir da qual se está apto para exercer tal magistratura. Antes não.
Mas, curiosamente também, não se fomentam candidaturas com personagens nessa idade. Não. E creio que se aparecessem seriam, porventura, cilindradas.
É, contudo, interessante o putativo paradoxo que existe na forma de pensar e agir da nossa mente colectiva. Hoje, é quase aceite e generalizado no mercado de trabalho que um indivíduo com 35 anos está a ficar fora de moda e de prazo. As portas que se abrem para quem quer mudar de vida nessa idade são muito poucas. Mas é a partir desta idade que o mesmo cidadão é considerado apto para o cargo de Presidente da República.
Todavia, apesar da aptidão constitucional, como ainda é muito jovem estimulam-se as candidaturas daqueles que o mercado de trabalho considera já definitivamente ultrapassados e, por isso, bons para reformar.
E não deixa de ser estranho que, enquanto a nossa classe política - procurando o eterno elixir da juventude ou umas boas pilhas cujo efeito dure e dure para garantir a permanência no poder - aposta no passado, nos grandes grupos económicos, aqueles que são o verdadeiro motor do país, prepara-se o caminho da sucessão.
A lei da vida lá vai, entretanto, funcionando com uns e com outros. Para estes e para aqueles. De repente fica a ideia que a faixa etária entre os 35 e os 65 está completamente anacrónica. São válidos antes disso, pelo seu dinamismo e energia. Depois disso para garantir a existência de candidaturas presidenciais ou a subsistência do mercado farmacêutico.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

Galhetas e galheteiros

Soube há pouco, através do telejornal, que alguns dos candidatos presidenciais tinham sido brindados com galheteiros. Tudo muda. Costuma dizer um amigo meu que "até a surda, muda". Há vinte anos davam galhetas. Hoje dão galheteiros. O que darão daqui a vinte anos?
Mas junto a minha voz à voz dos oferecedores de galheteiros. Quem fez a lei merecia umas valentes galhetas e quem a quer fazer cumprir, também.
Tudo se proíbe, a bem da saúde pública. E tudo, ou quase tudo, por cá se cumpre. Cumpre-se o que se não devia. Não se cumpre o que era imperioso cumprir. Em pleno coração de Paris ainda se faz uma feira típica onde os comerciantes expõem a carne e o peixe à moda antiga. Por cá, quem quis continuar o negócio pelas feiras teve que adquirir talhos ambulantes. Talvez a Europa não seja a mesma. Na verdade, sempre ouvi falar numa Europa a duas velocidades.
Vai um caldo verde com um "olho" de azeite do puro, servido em galheteiro?

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Mau negócio e uma boa causa

Em Oliveira do Hospital a fábrica de têxteis Carrera está na iminência de arrastar consigo 87 pessoas para a falência.
Em causa está uma dívida antiga, entre 1999 e 2001, à Segurança Social. Na falta de regularização desta dívida o tribunal levou a empresa a hasta pública. Na ausência de investidores interessados, a direcção da empresa solicita a insolvência que pode atirar 87 pessoas para o desemprego.
Ora, aqui, vale a pena recordar as palavras do Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, no programa da RTP Prós e Contras, que a nossa Segurança Social estará falida daqui a dez anos, a manter-se o actual cenário deixando antever que, nessa altura, não haverá, jamais, reformados.
Talvez fosse, então, melhor negócio, no curto e no médio prazo, perdoar a dívida da empresa de forma a garantir que estes 87 trabalhadores continuem a descontar e a contribuir para a Segurança Social.
É que, provavelmente, sairá mais caro às finanças, já de si depauperadas, da S.S. subsidiar o desemprego do que perdoar essa dívida. Com regras, bem entendido.
Talvez valesse a pena fazer as contas.
Bem sei que a abertura deste precedente poderia tornar-se perigoso no futuro. Mas, não é menos verdade, que já tantas dívidas ficaram por pagar neste país, muitas por prescrição, que, em boa hora, era só mais uma entre tantas. E esta, pelo menos, seria por uma boa e justa razão.


Tinha este artigo há uns dias na "gaveta". Decidi-me a publicá-lo hoje, já em risco de perder a validade. Em boa verdade apetecia-me escrever sobre o IKEA. Manda o bom senso que o não faça a quente.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Fantasmas, espíritos e múmias

Soares disse, por necessidade justificativa da ausência corpórea, que Sócrates tem estado presente em espírito na campanha eleitoral. Terá ele, Soares, deixado de ser Laico? É que espírito é coisa de quem acredita que o ser humano é um misto desta dualidade entre matéria e alma. Entre o que se toca e o que não é palpável. E isso é muito mais corrente em quem professa um credo religioso já que, na sua generalidade e génese até, as religiões alicerçam a sua fé nesta dualidade.
A menos que Soares tenha usado a expressão, de forma terrorista, com o intuito de arrasar com a vida política de Sócrates tentando, desta forma, passar o seu atestado de óbito político.
Em todo o caso não é de causar grande estranheza tal afirmação. Se repararmos Soares é republicano mas com laivos e tiques de monarca. A sua vida política tem sido uma autêntica dinastia. Não estranhemos, por isso, que a sua laicidade assente em postura semelhante.
Ou terá sido, esta referência ao espírito mor, um apelo aos mais de 600 mil eleitores fantasma, portanto em espírito, que ainda figuram nos cadernos eleitorais? Faz sentido, agora que a diferença para Alegre aumentou substancialmente.

domingo, 15 de janeiro de 2006

O clube dos poetas...

A Visão publica as respostas que 5 dos candidatos – Cavaco não respondeu – dão a um conjunto de questões de resposta rápida.
Cavaco não deu cavaco. Nem resposta.
É certo que as perguntas são pouco relevantes para podermos avaliar o que pensa cada um dos entrevistados em matérias fulcrais para a nação. Podem, contudo e apenas, revelar-nos a parte humana do futuro presidente.
Isso não justifica, porém, o desprezo que Cavaco lhe deu. Desceu uns pontos na minha consideração e pode ter contribuído para alterar o meu sentido de voto. Nenhuma das duas coisas é preocupante para o candidato para quem eu não passaria de “mais um eleitor” apesar da simpatia que nutro por ele. Um voto em branco a mais passará, por certo, absolutamente despercebido.
Há, dos outros candidatos, algumas respostas curiosas e que merecem alguma atenção. Relevo que li respostas que me impressionaram pela positiva. A de Louçã sobre a imagem de um político com um filho drogado, por exemplo, e de ficar a saber que todos os inquiridos, excepto Soares, já choraram de emoção a ver um filme.
À pergunta – “Qual a sua cor preferida?” – Soares responde: “Não uma, mas duas: o vermelho e o verde da bandeira portuguesa.” Não seja bajulador, senhor doutor. Não ganhas mais votos com isso. Gostava de o ver assim vestido, ou com um carro assim pintado.
À pergunta – “Qual é o prato que lhe enche as medidas?” – Francisco Louçã respondeu: “Cracas (um molusco qeu vive nas rochas).” Tal como o mexilhão, vulgo povo, não é senhor Louçã? E o caviar? Vá lá, seja mais franco que a gente gosta!
À pergunta – “E o programa de televisão indispensável?” – Soares responde: “Neste momento, os telejornais e os debates políticos. E insisto que devia haver mais debates, sobretudo entre os candidatos a Presidente da República.” Será que não percebeu a pergunta? Por este andar daqui por um ano ainda há-de andar a perguntar: Quando é que se fazem mais debates onde eu possa estar presente?
À mesma pergunta, Alegre responde: “O que ainda não há” Esperava-se outra coisa? Que poético! Estou mesmo a ver, se lhe perguntassem - A que povo gostaria de presidir? – a resposta seria: O que ainda não existe! Faça-o, então!
À pergunta – “Qual a viagem que não esquece?” – Louçã responde: “A última, Rússia e Finlândia – até à próxima.” Mas que fino. Não compreendo porque é que passa a vida a falar das viagens que outros políticos fazem, particularmente. Será mal de inveja?
À pergunta - “E o maior defeito?” – Soares responde: “Dizem-me que os ataques de ‘mau génio’ são o meu maior defeito. Talvez seja o defeito de uma qualidade: a frontalidade.” Soares não sabe, já, a diferença entre mau génio e frontalidade. Conheço pessoas frontais e que não têm mau génio e pessoas com mau génio não são frontais.
À pergunta – “Qual o seu lema de vida?” – Louçã responde: “Tudo o que existe não é verdade.” Quis, provavelmente, dar uma de poeta. Só pode.
À pergunta – “Costuma ultrapassar os limites de velocidade na estrada?” – Soares diz: “Quando conduzo, o que acontece raras vezes, nunca ultrapasso esses limites.” É por conduzir poucas vezes, por certo, já que em matéria de regras todos sabemos que Soares adora furá-las.
À mesma pergunta Jerónimo de Sousa diz: “Bom… Quer dizer…” Parece que ainda se virou para o lado para saber o que diz o manual do Comité sobre o assunto. Meteu a cassete mas a fita enrolou.
À pergunta – “Se não vivesse em Portugal que país escolheria?” – Francisco Louçã responde: “Estados Unidos.” Assim, tal e qual! É de ficar boquiaberto. Então não é que o maior dos anti-americanos escolhe a terra do “Tio Sam” para viver? Viver na América é, bem sei, o sonho de qualquer terrorista para invadir “por dentro”. Mas não se conhece esta actividade a Louçã. Assim como assim o melhor, caso essa vontade se realize, é não passarem a carta de pesados, sobretudo de Boeing, a este senhor. Dormiremos mais descansados.

sábado, 14 de janeiro de 2006

As escutas, outra vez!

“Os escutados terão de ser, claramente, arguidos ou suspeitos.”
Alberto Costa, Ministro da Justiça, sobre as alterações legais que pretende efectuar à lei das escutas

Tem havido muita leviandade no tratamento de informações que deveriam permanecer bem guardadas e usadas com parcimónia, sensatez e sentido de estado.
A notícia das escutas telefónicas efectuadas a pessoas que ocupam cargos de relevância na nação é bem a prova disso.
Todos os cidadãos, em matéria de justiça, devem ser tratados de igual forma. Todos. Mas o uso das escutas não parece estar a obedecer ao princípio que defende Alberto Costa, Ministro da Justiça, e que eu defendo também. Mais parece que o objectivo das mesmas não passa da devassa da vida privada de quem está na vida pública.
Fica, repentinamente, a ideia que é um hobby fazer escutas telefónicas, actualmente, aos nossos governantes, como um qualquer outro entretenimento usado para passar o tempo.
Já estou mesmo a imaginar o diálogo entre dois agentes:

Agente X – Vou ver mais um episódio da telenovela “Morangos com Açúcar”, não queres vir?
Agente Y – Hoje não, pá. Vou escutar a série de telefonemas de Jorge Sampaio à Maria José antes da hora do jantar. Aquilo está interessante, pá. O gajo não gosta de alheiras de Mirandela. Hoje vou escutar o que é que ele vai pedir de jantar à Maria José.

Isto é a roçar o ridículo, bem sei. Mas, não é, igualmente, ridículo o que se está a passar?

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

Um ano à experiência?

Os inícios de ano reservam-nos, quase sempre, notícias pouco motivadoras para enfrentar com esperança o ano civil que, ano após ano, nos é oferecido de bandeja. Ou não. Muitos nem terão merecido passar de ano mas, tal como na escola, também se pode passar com negativas.
Mas dá vontade, logo nos primeiros dias, de devolver este e pedir outro porque o que recebemos agora novinho em folha parece longe das nossas expectativas e cheio de defeitos de fabrico. Se, como nos produtos, tivéssemos 15 dias para poder devolver ou dois anos de garantia…
Enfatizam as notícias a fraca robustez da nossa economia, ensombrando o início de 2006 com a real possibilidade de aumento do desemprego, engrossando as fileiras das estatísticas de que ninguém quer fazer parte.
Os motivos apresentados pelas empresas que fecham as suas portas aqui, atirando centenas de pessoas para as ruas da amargura, são quase sempre os mesmos.
No concelho da Feira a Ecco parte à procura de mão de obra mais barata lá para o leste ou para o oriente. Fica, repentinamente, a ideia que em Portugal os salários são elevados. Paradoxalmente, as unidades de produção que a marca tem noutros países da Europa onde a mão de obra é mais cara, permanecerão em actividade.
A Auto Europa surge com a mesma ameaça, deixando a pairar no ar a insegurança que persegue a península de Setúbal, deixando-a permanentemente assombrada. Também aqui os salários serão os mais baixos da Europa Ocidental (ou Acidental, não sei) mas, nem por isso, aquela unidade conseguiu arrebatar para si a produção do novo SUV da marca alemã, tendo sido escolhida precisamente a Alemanha onde o preço do trabalho é, incomparavelmente, mais elevado (não digo caro, propositadamente) que na unidade lusa. Os trabalhadores de lá aceitaram baixar os seus salários para garantir a produção do novo modelo por menos 800 euros que cá, por unidade, garantido, desta forma, o seu posto de trabalho. Vale a pena lembrar que a Auto Europa assegura cerca de 1% do PIB e uma fatia relevante das nossas exportações. E, mais importante que isso, que se pense também nas questões sociais que o desemprego trará àquela região.
Enquanto isso, cá vamos andando todos, cantando e rindo atrás de um qualquer dos candidatos presidenciais, distraídos com o barulho das luzes da campanha eleitoral.
Enquanto isso, a Espanha (que inveja, ou pena de não ser espanhol, já não sei, ou será raiva do 1 de Dezembro de 1640?), é o país da Europa que mais cresce, com melhores salários que os nossos e onde o desemprego baixou, nos últimos 15 anos, dos 20% para os 8%. E prepara-se para, brevemente, ultrapassar o Canadá, um dos G8 (sim, isso mesmo: um dos oito países mais ricos do mundo) no valor da riqueza gerada anualmente, o PIB.
Longe ficam os tempos em que íamos a Espanha comprar caramelos e exibíamos um aspecto de ricos saudáveis, com os bolsos avezados de notas de mil.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Escutas telefónicas

É só para avisar que:

1 - Se fui um dos contemplados digam-me, por favor, se as gravações ficaram boas e com voz límpida. Não quero ficar mal na fotografia... quer dizer na gravação.

2 - Se a minha respiração, em algum momento, era ofegante e me ouviram a arfar não era nada disso que imaginavam. Era a minha sinusite que, de vez em quando, me põe nesse estado.

Nota: Sinusite é uma doença do tracto respiratório superior. Não é nenhum nome de mulher.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Crime, disse ela!

No programa da Rádio Renascença “Diga Lá Excelência”, que aos domingos à noite tem repetição na Dois, a conversa era com Inês Fontinha da Associação Ninho e versava se a prostituição deveria ou não ser legalizada em Portugal.
Confesso que não tenho, ainda, opinião formada sobre matéria tão delicada. Por egoísmo, talvez. Embora, também por egoísmo colectivo, pense que a legalização nos pudesse, quiçá, defender da maior disseminação do vírus da SIDA e outras doenças venéreas.
Mas fiquei a perceber que, na opinião de Inês Fontinha, legalizar não é solução e, citando vários exemplos de países europeus onde a prostituição é legal e considerada uma profissão, defendeu com argumentos de peso a sua posição contrária.
Até aqui nada de extraordinário. Mas, a dada altura, a propósito da entrevistada defender a criação de medidas que acabassem com o tráfico de mulheres e com a humilhação a que são sujeitas, a entrevistadora perguntou-lhe se “não considerava igualmente humilhante e agressivo aos direitos humanos, a situação de muitas mulheres de leste com o curso de medicina, por exemplo, a trabalharem ilegalmente no nosso país como mulheres a dias”. À pergunta Inês Fontinha respondeu: “Está a confundir duas coisas distintas: uma refere-se às políticas de imigração do país; a outra trata-se de tráfico de mulheres e isso é crime aos olhos da lei”.
E eu ouvi e corroborei.

domingo, 8 de janeiro de 2006

Amor e amizade

O Observatório é, também, um espaço de reflexão. Para fugir à rotina das coisas da vida que nos atormentam, vale a pena fazer uma pausa, respirar e olhar pensativamente para as coisas que nos fazem viver.
Aqui estão dois sentimentos que, não raramente, se confundem, se misturam e co-habitam . Onde começa um e acaba o outro? Ou a amizade não é, senão, uma versão "soft" do amor? Ah, como canta Bethânia: "É o amor que mexe com a minha cabeça e me deixa assim".

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Campanhas e IRS

Despertou-me a atenção, hoje, a notícia que narrava o facto de os donativos particulares e empresariais para financiamento partidário ou de campanhas eleitorais, não serem dedutíveis em sede de IRS ou IRC.
Eu pergunto: E deviam? Gostava de ouvir uma boa razão para tal. E, já agora, que me expliquem, ainda, a razão pela qual um depósito a prazo, constituído com o propósito de aquisição de habitação própria ou beneficiação da mesma, não pode, já, ser usado para abatimento fiscal.
No meu ponto de vista, o financiamento dos partidos e das campanhas deve sair única e exclusivamente do Orçamento Geral do Estado.
Parece-me bem que sejamos nós, todos os contribuintes, a financiar a democracia.
Até porque é obrigação do Estado tratar todos os cidadãos de forma equitativa, garantindo a igualdade de oportunidades. Aos particulares não. Financiam, muitas vezes ou quase sempre, em função das sondagens e de interesses.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

Durão, very British!

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, foi eleito a «personalidade mais influente da Grã-Bretanha» pelos ouvintes da BBC, com três vezes mais votos que o próprio primeiro-ministro, Tony Blair. O resultado, considerado «espantoso» por alguns comentadores ingleses, surge na sequência de uma sondagem realizada pelo programa de informação Today que no dia 12 de Dezembro pediu aos ouvintes que elegessem «Quem realmente manda na Grã-Bretanha».

E esta, heim?
Santos da casa, confirma-se, não fazem mesmo milagres!

terça-feira, 3 de janeiro de 2006

Neologismos bacocos

Fiquei absolutamente obtuso. E fico sempre que ouço estes disparates.
Se fosse só uma vez de vez em quando. Mas não. Até parece de propósito. Quase todos os dias ouço o mesmo disparate. E dito pelos mais altos dignitários da nação. Pior: pelos próprios que deveriam pugnar para que esse disparate fosse banido porque, sendo do seu “metier “ e dito por altos profissionais, macula toda a classe.
Ainda não há meia hora que, a propósito da morte desse grande repórter de seu nome Cáceres Monteiro, se dizia que “foi um grande vulto da Imprensa Escrita”. Digam-me: mas há imprensa falada? Sei que há quem o diga, também. Mas diz mal. Muito mal. Mas também sei que, para evitar estes erros de palmatória, em vez de o corrigirem até à exaustão optaram pelo mais fácil – “se não podes vencê-los...” – de tal modo que alguns dicionários já admitem essa expressão.
No entanto, hão-de reparar, que só os jornalistas que gostam de “armar ao fino” é que a usam. Os de craveira evitam-na.
É que, meus amigos, ou é impressa e, por esta óbvia razão, é escrita, ou é falada e trata-se de um órgão de comunicação social falado ou, inglesando, de um “media”.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

Novo ano, preços novos

E cá estamos num novo ano, com um misto de esperança em melhores dias e algumas certezas naquilo que nos espera.
De hoje em diante podemos contar com aumentos significativos em produtos essenciais para o nosso quotidiano.
O vencimento, quanto muito, aumentará uns magros 3%. E já estamos a falar na mais sorridente das hipóteses. O pão e os combustíveis, por exemplo, têm já o seu custo final inflacionado em cerca de 10%. Grosso modo, isto significa que perderemos poder de compra.
Mas se há aumentos que compreendemos, até porque o ditado também aqui se aplica – “ano novo, preços novos” – outros há que são absolutamente incompreensíveis. O dos combustíveis é um deles.
Até agora era a desculpa da guerra do Iraque, primeiro, e das catástrofes naturais, depois, para justificar o disparo dos preços. Era a lei da oferta e da procura a funcionar.
Mas o aumento deste início de ano deve-se, apenas, à subida do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos, já que o preço do crude tem permanecido estável nos últimos 3 meses.
Este é um dos impostos que os sucessivos governos têm usado para aumentar as receitas. Todos têm usado da mesma criatividade: Se as receitas e as despesas andam desencontradas e a balança pende para estas, a solução mais prática é aumentar as primeiras por via de aumento de impostos. Sobretudo através do IVA e do ISP.
E é nestes dois impostos que encontramos a razão pela qual em Portugal necessitamos de 70 € para atestar o depósito de um automóvel, enquanto que no país vizinho só precisamos de 55 €. É que os governos dos dois países compram a matéria prima ao mesmo preço. Têm, contudo, políticas diferentes na aplicação dos impostos.