domingo, 30 de abril de 2006

Não sei!

Na véspera do dia do trabalhador, surge-me no e-mail um cardápio de áreas profissionais alvitradas por Max Gehnringer através da sugestão de respostas a uma simples pergunta: “será que vai chover hoje?”. De acordo com o autor a resposta pode determinar a área com a qual se identifica melhor o nosso perfil profissional. Trata-se de uma brincadeira para descontrair neste fim de semana prolongado.

Se tu ainda não sabes qual é a tua verdadeira vocação, imagina a seguinte cena: Estás a olhar pela janela, não há nada de especial no céu, somente algumas nuvens aqui e ali... aí chega alguém que também não tem nada para fazer e pergunta: - "Será que vai chover hoje?"
Se responderes "com certeza..." - a tua área é Vendas: o pessoal de Vendas é o único que tem sempre a certeza de tudo.

Se a resposta for "sei lá, estou a pensar noutra coisa..." então a tua área é Marketing: o pessoal de Marketing está sempre a pensar naquilo em que os outros não estão a pensar.
Se responderes "sim, há uma boa probabilidade..." És da área de Engenharia: o pessoal da Engenharia está sempre disposto a transformar o universo em números.
Se a resposta for "depende..." nasceste para Recursos Humanos: uma área em que qualquer facto estará sempre na dependência de outros factos.
Se responderes "ah, a meteorologia diz que não..." Então és da área de Contabilidade: o pessoal da Contabilidade confia mais nos dados no que nos próprios olhos.
Se a resposta for "sei lá, mas por via das dúvidas eu trouxe um guarda-chuva": então o teu lugar é na área Financeira que deve estar sempre bem preparada para qualquer mudança de tempo.
Agora, se responderes "não sei"... há uma boa chance de teres uma carreira de sucesso e chegares a Director da empresa.

De cada 100 pessoas, só uma tem a coragem de responder "não sei" quando não sabe. Os outros 99 acham sempre que precisam de ter uma resposta pronta, seja ela qual for, para qualquer situação.
"Não sei" é sempre uma resposta que economiza o tempo de toda a gente e predispõe os envolvidos a conseguir dados mais concretos antes de uma tomada de decisão.
Parece simples, mas responder "não sei" é uma das coisas mais difíceis de se aprender na vida corporativa. Porquê? Eu, sinceramente, "não sei".

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Obrigado!

Os dias de aniversário são para mim um misto de depressão e satisfação. A primeira surge porque, de acordo com a nossa condição humana, me faz sentir que me aproximo mais daquilo que mais certo e garantido temos. A segunda, por sentir que ao passar mais um ano acumulei conhecimento, experiência, sentindo simultaneamente que está cumprido com empenho e entusiasmo mais um ano de vida.
Por isso, no dia de aniversário me sinto pensativo e, posso mesmo dizê-lo, menos aberto e expansivo do que é normal. Mais sorumbático. Menos sorridente.
Pode parecer, então, que não gosto que os amigos se lembrem de mim nesse dia com os desejos de "Feliz Aniversário". Claro que me "babo" ao sentir que não fico esquecido no coração daqueles que me acompanham mais de perto.
Por isso ontem fiquei contente por ver muitos dos meus leitores e amigos expressarem aqui os seus votos de um dia feliz.
A todos os que se lembraram de mim, quer tivesse sido pessoalmente, pelo telemóvel, por carta, e-mail ou através do Blog, quero deixar o meu público e sentido: Obrigado!

terça-feira, 25 de abril de 2006

O falso Judas

Um pouco antes da Páscoa foi divulgado pela National Geographic que, afinal, Judas não terá entregue o Mestre por desígnio divino mas porque ele próprio fazia parte da estratégia “maquinada” por Jesus para a sua crucificação.
Ora, isto põe em causa, assim de repente, três verdades cristãs até aos dias de hoje: Judas não terá sido um traidor e, pelo contrário, era um íntimo e fiel seguidor de Jesus; João, o denominado nos Evangelhos por discípulo amado, como sendo o preferido de Jesus, não teria sido tão amado assim; Pedro, o eleito, para pedra de suporte à Igreja de Cristo, terá sido um eleito menor, face a esta nova revelação.
Diz Mega Ferreira, agnóstico, na sua crónica semanal na Visão, que esta revelação nesta altura cheira a campanha de marketing de apoio ao lançamento mundial do filme “O código da Vinci”, para fazer do filme um êxito tão grande ou ainda maior do que a obra que o originou. Apesar disso, Mega Ferreira diz que sempre suspeitou que Judas não seria tão mau como o pintaram os seus companheiros de jornada.
Fanatismos à parte, costumo dizer por brincadeira que se Jesus não era Filho de Deus e não foi o Homem que conhecemos através das narrativas dos Evangelhos, então foi a maior e mais bem sucedida operação de Marketing de todos os tempos e de que há memória.
Angariou milhões de “fãs” e seguidores pelos quatro cantos do mundo, sobreviveu a dois mil anos de História e continua a convencer novos “consumidores” todos os dias.
É obra. Nem a Coca Cola com os seus anúncios marcantes e com a “construção” da história do Pai Natal, conseguiu ir tão longe.
Duvido, por isso, que se tenha tratado de puro Marketing. Se o fosse seria, com toda a certeza, objecto de referência num dos “Mercator” e eu não me lembro de ter visto esta história por lá.
Não será esta revelação, portanto, que abalará aquilo que eu penso acerca de Jesus de Nazaré. Muitas vezes me interrogo acerca da sua condição divina. Não tenho dúvidas, porém, que não era um Homem qualquer. Era mais que isso. Era um Homem bem à frente do seu tempo. Posso mudar de opinião, mas estou em crer que ainda não será desta.

domingo, 23 de abril de 2006

O discurso de Abril

Manuel Alegre considera que se Cavaco Silva “puxar as orelhas” aos deputados da Assembleia da República, no seu discurso no dia da Liberdade, estará a ter um mau começo.
Compreendo as razões de Manuel Alegre, quando justifica a sua opinião com base na divisão de poderes. O Presidente da República não tem e não deve usar qualquer poder sobre outro órgão de soberania como o é a Assembleia da República. Razão pela qual entendo a posição de Alegre. Razão pela qual não haverá lugar a “puxão de orelhas”.
Todavia, isso não invalida que, no seu discurso de Abril, o Presidente da República denuncie e condene os episódios que ultimamente têm acontecido em catadupa com os deputados da nação.
É isso que espero dele. Os políticos não podem, não devem, estar acima do comum dos cidadãos. Não são intocáveis.
São estes episódios que contribuem para o descrédito e afastamento da política e dos políticos.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Vida e audiências

Fiquei desapontado com José Eduardo Moniz numa entrevista a um repórter da TVI sobre a morte trágica do jovem actor da série “Morangos com Açucar”. Cedeu à pressão do jornalista e à pergunta sobre se a série iria sofrer alterações ou se pensava que poderia sofrer uma quebra de audiências, respondeu que os produtores já estavam atentos a esse problema e que os jovens actores, companheiros do “Dino”, saberiam dar a volta por cima honrando a sua memória. Mais ou menos palavra foi isto que ficou dito.
Esteve, na minha opinião, mal, muito mal, ao ceder à pressão do jornalista. Tanto mais que José Eduardo Moniz conhece todas as artimanhas da arte. Ficar-lhe-ia melhor se, num momento em que o país infanto-juvenil ainda estava incrédulo e em estado de choque, tivesse dito que essa não era a sua preocupação quando estava em causa a dor dos familiares e amigos pela perda de uma vida humana. E mais importante que as audiências é a VIDA.
Este José bem pode aprender com o outro, o Mourinho, que confrontado por um jornalista sobre o problema que representaria a derrota do jogo daquela tarde, respondeu: “Mais importante que um jogo, uma derrota, ou uma vitória, é a vida das pessoas. Por isso o que me preocupa hoje, verdadeiramente, é a possibilidade da gripe das aves se transformar numa tragédia humana”. Por outras palavras, foi este o sentido que quis transmitir.

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Autoridade e autoritarismo

Há uma considerável diferença entre liberdade e libertinagem. A primeira está-nos consagrada na instituição como um direito que nos obriga, também, a determinados deveres. A segunda só nos confere direitos e nesta concepção só existimos nós e nós e nós, sempre só nós. Não há lugar ao outro.
Há, ainda, uma diferença abissal entre autoridade e autoritarismo. Não têm nada a ver. É como confundir a “Obra prima do Mestre com a prima do mestre de obras” ou a “Estrada da Beira com a beira da estrada”.
No entanto os dois conceitos de libertinagem e autoritarismo começam a ser cada vez mais vistos e aplicados na prática.
O Estado, por exemplo, perdeu boa parte da autoridade que deveria ter. No seu lugar começa a surgir o autoritarismo. É frequente vermos um agente da autoridade não ter autoridade nenhuma quando trata com meliantes. Se trata com pessoas respeitadoras e cumpridoras da lei, por norma, assume uma posição de autoritarismo. Não é de espantar: O agente sabe que se usar de autoridade com o meliante o mais certo é que venha a ter de enfrentar a justiça sentando o rabinho num mocho na posição de réu.
Já com quem respeita a lei isso não se passa. O cidadão que respeita a lei, regra geral, é temerário à justiça o que provoca no agente da autoridade uma confiança tal que o leva a tornar-se autoritário.
Há dias enquanto esperava no hall do tribunal para depor num processo em que um amigo está envolvido assisti a este episódio de um agente que esperava a presença de um contrabandista que devia ser “apresentado” ao juiz nesse dia. Era reincidente. E vi no agente todos os cuidados com aquele homem, que não tem deveres e só tem direitos, perguntando-lhe inclusivamente se queria ajuda para transportar os sacos.
Eu e as outras testemunhas, que só temos deveres por sermos temerários à justiça, fomos tratados como “cachorros vadios” e acabaram por nos mandar embora umas horas depois de tanta espera porque, afinal, o julgamento ia ser adiado.
Esta atitude cada vez mais vista no nosso dia a dia começa a despontar em cada um o sentimento que mais vale ser libertino do que livre.
Talvez seja esta uma das razões que leva a que a liberdade seja substituída, levianamente, pela libertinagem e, consequentemente, a autoridade pelo autoritarismo.

sexta-feira, 14 de abril de 2006

Páscoa santa

Trouxeste em Ti um pedaço dos Céus!
Trazias na voz o perdão para dar,
Num rosto d’Homem o rosto de Deus,
No olhar suave uma fome de Amar.

Sandálias com pó nos pés que são Teus
E as mãos abertas para oferecer
Até, se preciso, os Teus simples véus,
Vestindo um corpo feito p’ra morrer,

E um coração bom p’ra ser trespassado.
Tu foste a dádiva do Pai p’ra nós,
Tu foste o Amor feito um raio de Luz!

Porque amavas tanto, f’riram Teu lado;
Por falares demais, calaram-Te a voz;
Por incomodares, pregaram-Te à Cruz!


joão lopes em 1989

segunda-feira, 10 de abril de 2006

O juiz decide!

Fátima Felgueiras disse em tribunal que não pode pagar uma indemnização de 12500€ por difamação. E a razão é simples: segundo as suas declarações ao juiz só aufere por mês 3700 euros de vencimento como presidente de Câmara e uma pensão de 700 euros a acrescer àquele.
Não sei, ainda, qual será a decisão do juiz perante o caso e a sua defesa. Mas não quero imaginar, sequer, que os argumentos de Fátima Felgueiras colham naquele magistrado.
Se porventura tal acontecer começo a ficar à vontade para chamar de nomes menos ortodoxos – aqueles que se costumam chamar às mães dos árbitros - às mães de algumas pessoas que conheço e não admitirei ser punido por isso. É que o meu vencimento não é comparável ao de Fátima Felgueiras. Mais: não recebo mensalmente uma pensão. Portanto, perante tais factos, posso presumir que nada terei a pagar se destravar a língua para a difamação. Venha lá quem vier. Seja lá o difamado quem for.
A minha dúvida é: porque é que ganhando tão mal a Santa Fatinha ainda conseguiu ganhar dinheiro para uma viagem e férias no Brasil?
Que o juiz decida!

sábado, 8 de abril de 2006

Imposto automóvel

Está anunciada para Julho próximo uma redução do Imposto Automóvel (IA), o tal que é o principal responsável pelo nosso mediano parque automóvel e pelos altos preços que custam as viaturas por cá quando comparamos com os nossos congéneres europeus.
Todos os sucessivos líderes partidários e potenciais primeiros-ministros têm elencado o IA como o primeiro imposto a abater em caso de vitória em ciclos eleitorais. E todos faltaram ao compromisso assumido com o eleitorado.
A razão é simples: as finanças públicas arrecadam um valor demasiado importante e apetecível através de um imposto injusto como é este mas do qual ninguém consegue escapar. A menos, claro está, que não compre um automóvel.
E, por isso, todos os governos têm atirado para as calendas uma hipotética mexida no IA.
Sucede que Sócrates, finalmente, quis ser diferente e vai mexer na “vaca sagrada”. É verdade que a medida é por uma margem mínima e só se notará nos carros de baixa cilindrada e, sobretudo, a gasolina. Mas a intenção é boa: despenalizar as viaturas que são mais económicas e menos poluidoras.
Pode ser que este seja um sério ponto de partida para que num futuro breve possamos ter os nossos automóveis ao preço dos espanhóis.

Só para terem uma ideia o Renault Mégane 1.4 a gasolina, um dos carros mais vendidos no seu segmento, aqui custa 21.000€ e em Espanha 17.050€.
Se Sócrates assumir essa coragem até à extinção do IA terá o meu aplauso e, de certeza, o de muitos milhares de portugueses.

quarta-feira, 5 de abril de 2006

Um terço de mulheres!

Consagra a Constituição Portuguesa e a Carta Universal dos Direitos do Homem que todos os cidadãos, independentemente do género, raça ou credo religioso são iguais em direitos e deveres.
Para os deputados do Bloco de Esquerda e do Partido Socialista não é bem assim.
Porquê? Porque, apesar de usarem de boa intenção – e delas está o inferno cheio – estão a ser discriminatórios quando fizeram aprovar uma lei que em matéria política obriga a que pelo menos 1/3 das listas seja representada por mulheres.
Porque é que a meu ver esta situação é profundamente injusta e ofensiva para as mulheres? Simples: numa sociedade em que as mulheres representam 52% da população dar-lhes um terço, como se fosse uma caridade e não um direito, é no mínimo dizer que elas não são tão competentes quanto os homens.
Quem já como eu trabalhou com mulheres sabe que, independentemente dos defeitos que têm umas com as outras, são de uma competência invejável.
E só há necessidade de criar leis proteccionistas quando a competitividade e competência são baixas, o que não é o caso, ou o machismo é alto... E sobre isso não me pronuncio.
De qualquer das formas vale a pena teorizar sobre a possível conspiração que uma lei assim representa: o homem está, tão somente, a assegurar a sua subsistência no futuro nos meandros da política. Ou então esta lei é a aceitação nua e crua de que, afinal, o mundo é mesmo das mulheres e todas as decisões que o homem toma na Assembleia da República resultam do cumprimento das instruções dadas de véspera pela sua companheira lá em casa. Ou fora dela!

Vá lá, e aqui para nós que ninguém nos ouve, estaremos nós homens dispostos a dar-lhes só um terço de outras coisas?

segunda-feira, 3 de abril de 2006

Se conduzir beba... leite?

A TSF noticiou ao fim da tarde que os agricultores portugueses terão que pagar uma multa no valor de cerca de 3 milhões de euros à União Europeia.
A razão está no facto de Portugal ter produzido mais leite do que aquele que devia. A notícia não especificava que tipo de leite e, como é sabido de todos, não há só a fama mas também o proveito. Mas não vou por aí.
Pergunto-me, no entanto, donde terá saído tal produção em excesso? Há assim tantos produtores e tantos animais? E juro-vos que não estou a pensar coisas.
Coitados dos produtores: já perderam dinheiro porque a produção excedentária num mercado normal faz descer os preços e, consequentemente, os lucros. E ainda lhes faltava esta.
Li aqui, este fim de semana, que também os vitivinicultores estão em vias de ser multados pelo apelo ao consumo do vinho que leva ao excesso por parte dos condutores e ao vergonhoso número de acidentes provocados em Portugal. Está tudo grosso. Só pode!
E por falar em álcool e acidentes, de quem é a responsabilidade, por exemplo, quando um condutor é apanhado com uma taxa de alcoolemia superior a 1 grama de álcool por litro de sangue e o agente, depois da respectiva multa, manda seguir o condutor? Conheço, pelo menos, três casos em que isto sucedeu.