quarta-feira, 30 de novembro de 2005

"Baixem os braços do Cristo Rei!"

Ora, aqui está uma associação – a Associação República e Laicidade -, quase desconhecida mas com mais poder do que os mais de 80% de católicos portugueses e a própria Igreja.
Fenomenal. Sou católico. Não sou, contudo, fundamentalista ao ponto de considerar uma heresia o que exige esta associação. Não sou.
Mas também sei, por experiência própria, que não foram negativas nem impeditivas da minha formação as pequenas orações que rezava todas as manhãs na escola primária.
Se for provado que isso é mau para os meninos, então concordo em absoluto que se erradiquem todos os ícones religiosos das escolas. Que se faça uma Santa Inquisição com eles. (É uma provocação!) Que se faça como em França, por exemplo.
Reflicto, todavia, em dois pontos que me suscitam dúvidas e sobre os quais gostava de “escutar” a vossa opinião:

1 - O Estado português é laico, segundo reza a Constituição. E os portugueses?
Já agora: e o que é o Estado? Foi-me ensinado que somos todos nós. Não somos, afinal?
Compreendo e desejo, apesar das minhas convicções religiosas, a absoluta separação e que o Governo da Nação seja neutro ou, se quisermos, laico.

2 - As declarações da Ministra da Educação não foram nada conclusivas. Afinal, não se trata de uma proibição mas, antes, deixar à consciência de cada professor se retira, ou não, os crucifixos.
Um dia destes é deixado à consciência de cada um se deve conduzir pela esquerda ou pela direita, conforme melhor lhe aprouver no momento.

Já agora vale a pena acrescentar que, ao invés do que diz a associação, o crucifixo não é um símbolo católico. É cristão! E isso é muito mais abrangente, como se sabe.
Por último recordo aqui as palavras do Pe. José Luís Borga quando confrontado com esta e a notícia que no próximo passo a associação vai exigir a abolição dos feriados religiosos. Ironicamente disse: “Acho muito bem! E até julgo que devem ir mais longe: façam implodir o Mosteiro dos Jerónimos e baixem os braços ao Cristo Rei que teima em querer abraçar Lisboa”. E acrescentou: “Os verdadeiros cristãos não precisam de nada disso para professar a sua fé!”.

terça-feira, 29 de novembro de 2005

Viva a pirataria!

Estou possesso!
Tenho um aparelho de recepção da TV Cabo por satélite que adquiri há quase três anos, para usufruir dos vários canais que o serviço oferece. E não estou a falar desses que estão a pensar. Não.
O aparelho avariou. Telefonei para o serviço de apoio ao cliente e, normalíssimo, remeteram-me para a loja onde comprei a “powerbox”.
Chegado aí e depois de verificarem que a mesma estava “queimada” e, por conseguinte, boa para reciclar, dizem-me que é normal nos últimos tempos sucederem situações destas. A operadora da TV Cabo num ataque desenfreado às caixas pirata queima, descuidadamente, as suas próprias caixas.
Solução? Diz-me o vendedor: “Bem, temos aqui uma promoção que a TV Cabo está a fazer aos seus clientes. Na apresentação da caixa estragada “só” tem que pagar 120 € por uma nova.” Como quem diz: “Por ser para si que é um gajo porreiro!”
Grande lata! Queimam-me o aparelho, a mim que pago todos os meses quase 40 €, e têm o desplante de me oferecer tamanho negócio.
Gajo porreiro uma ova. Eu sinto-me é um otário.
Os meus amigos (sim, vocês sabem bem que estou a falar de vocês) ainda se riem de mim. Têm mais canais do que eu; não pagam mensalidade porque têm caixas pirata; não recebem “propostas desonestas” como eu recebi; não lhes queimam as caixas porque erram o alvo constantemente.
O que está a dar é ser pirata!

domingo, 27 de novembro de 2005

Intervalo

Recebi isto por e-mail. Gostei e atrevi-me a partilhar convosco. Simples mas com alguma profundeza e muito sentido, não acham?. Atrevam-se, também, a deixar os vossos comentários!

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Assim prega Frei Louçã

Ora vejam lá e pasmem, como eu pasmei.
Aqui está o protótipo do típico anti-tudo. Ele é anti-Cavaco, anti-globalização, anti-vida, anti-ricos, anti-…, anti-… e anti-americano.
Pois é. Agora reparem na marca da camisa. É de fazer inveja a qualquer pró. É verdade, trata-se de uma camisa americana, marca paradigmática da globalização e própria do corpinho de quem tem dinheiro. E, talvez (porque não?) fabricada na China (aquela que nos ameaça, lembram-se?).
E para um anti-religião assenta-lhe que nem uma luva a máxima do Frei Tomás.
Claro que eu não sou contra o facto do homem vestir caro, mas que fico com inveja, lá isso fico. Nem sou contra o homem querer acabar com os ricos até porque era uma forma de se auto-exterminar. Na verdade eu preferia acabar com a pobreza. Mas isto é um sonho.
Como diz o meu amigo Eduardo, assentava-lhe que nem uma luva uma camisolinha da Serra da Estrela e umas calcinhas de serrobeco. Combinava mais com o discurso e dava-lhe mais corpo, digo eu.

quarta-feira, 23 de novembro de 2005

Será assim?

A instrução de Bento XVI não diz respeito a padres já ordenados. A Igreja exclui dos seminários e do sacerdócio quem praticar a homossexualidade, "apresentar tendências homossexuais profundas" ou apoiar a chamada "cultura gay", segundo um documento hoje divulgado. In Sic-Online

Como é que é? Gostava de saber se o documento se resume ao que é aqui colocado. Se é assim, levanta-me duas dúvidas:
1 - Homossexuais são só aqueles que praticam fora da instituição Igreja? Os que já estão dentro da instituição ou não são, ou não perdem o direito adquirido, entretanto. (É desta que os funcionários públicos se mudam de posto de trabalho, com o Sócrates a cortar a eito nos direitos adquiridos!).

2 - Eu pensava que a Igreja condenava a prática sexual, fosse ela qual fosse, dentro do sacerdócio. Pelos vistos terminou o celibato. Ou estou enganado?

É desta que me ordeno! Ah, e já agora, para que não restem dúvidas, sou grande apreciador dos aviões do Azurara.

Grumapa - Comunicado

A pedido do Grumapa publico o comunicado / apelo que se segue:

Como é do conhecimento da maioria dos Mangualdenses, o Grumapa está a terminar a construção da sua sede e pavilhão, num sonho que se torna realidade, mas que não termina, nem pode terminar por aqui.
Tendo em consideração os custos inerentes a tal obra, não obstante os apoios obtidos, em especial da Autarquia, a Associação necessita de mais verbas, não só para cumprir os seus compromissos, mas também para continuar a existir e a prestar o seu apoio na defesa e protecção dos animais, naquele que é, por enquanto, o seu principal objectivo.
Por isso, servimo-nos do presente meio de comunicação (se assim se pode chamar), para apelarmos a todos os Mangualdenses que nos queiram ajudar, quer seja através de donativos(emitimos recibo), quer se tornando associados (€1,00/mês de quota), quer através de materiais de construção, quer auxiliando na limpeza do terreno da nossa sede. Temos projectos que queremos implementar, mas precisamos da ajuda de todos, uma Associação só existe se todos a apoiarmos.
Podem contactar a Associação directamente na sua sede provisória, sita nos Blocos Habitacionais Montes Hermínios, Loja 1-A, Mangualde, ou dos telefones 232611251, 966762816 ou 916722379.

terça-feira, 22 de novembro de 2005

Jantar de Solidariedade BVM

No próximo dia 26, sábado, pelas 20:00 h, no pavilhão da Escola Ana de Castro Osório, haverá um jantar de solidariedade com vista à angariação de fundos para as obras do novo quartel dos Bombeiros Voluntários de Mangualde.
Durante o jantar será feita a apresentação pública do livro - Memorar 75 anos - que contém a história dos BVM.
Vale a pena apoiar esta e outras iniciativas dos bombeiros e reforçar o excelente trabalho e grande esforço que está a ser desenvolvido por toda a direcção para conseguir tamanho desiderato. As inscrições podem ser feitas no Restaurante Moderno ou na sede do BVM.

Quem mente?

A questão do apoio do PS a Mário Soares para candidato à Presidência da República originou esta terça-feira uma autêntica guerra de desmentidos entre o secretário-geral do partido, José Sócrates, e o candidato presidencial independente e dirigente do PS Manuel Alegre. A polémica teve início na 2ª-feira, com uma entrevista de Alegre à Rádio Renascença. In Diário Digital

As perguntas são:
- Quem mente?
- Em que é que isto dignifica os políticos?
- Que mais valia representa isto em tempo de pré-campanha eleitoral?

URBECOM Mangualde


O projecto de requalificação, revitalização e modernização dos espaços comerciais do centro urbano de Mangualde deu mais um importante passo no passado sábado.
Agora, e durante os próximos 30 dias estará aberto um inquérito público para que, provavelmente em Fevereiro do próximo ano, os empresários de Mangualde possam apresentar as suas candidaturas.
A comparticipação dos projectos individuais pode chegar aos 45% e o total global do investimento entre o estado, autarquia e privados, pode ascender aos cinco milhões de euros. Claro que disso depende a vontade, o empenho e determinação dos empresários. Não basta responsabilizar a autarquia por falta de apoios e os mangualdendes por fugirem para Viseu e Nelas. É chegada a hora de mostrarmos que somos tão bons ou melhores do que os nossos vizinhos. Não podemos desperdiçar tamanha oportunidade.
Confesso, no entanto, que gostava de ver outra atitude por parte da nossa autarquia.

sábado, 19 de novembro de 2005

Igreja de Abrunhosa do Mato

Foi ontem assinado e homologado pelo Secretário de Estado das Autarquias Locais, Eduardo Cabrita, o contrato de financiamento, no valor de quase 70 mil euros, destinado a co-financiar as obras de restauração da Igreja do Imaculado Coração de Maria em Abrunhosa do Mato.
O orçamento total da obra cifra quase os 100 mil euros, pelo que 70% deste montante ficam assegurados pelo estado através deste contrato programa, cujo montante já tinha sido objecto de aprovação em Agosto último.
Foi pela intercessão de João Azevedo que o projecto ganhou “pernas para andar”, depois do próprio ter garantido, junto do poder central, o financiamento de 70% do valor global da obra.
Para os elementos da Fábrica da Igreja os nossos parabéns, porquanto não baixaram os braços e foram perseverantes na procura do cumprimento de um sonho e de um objectivo difícil de concretizar. Ao João Azevedo o agradecimento em nome da freguesia e dos abrunhosenses em particular.
Alguns duvidaram. Outros não quiseram acreditar. A verdade é soberana e como o azeite. Ela aí está.

sexta-feira, 18 de novembro de 2005

Soares quase excluído

Soares está tão preocupado em traçar um perfil para Presidente da República que exclua Cavaco que, não tarda, ele próprio não caberá lá. E já roçou essa possibilidade ao dizer que, "no tempo da outra senhora", enquanto ele andava a tratar dos interesses dos portugueses os outros candidatos tratavam dos seus próprios interesses.
Mas alguém neste país, independentemente da sua área política, acredita que os interesses dos portugueses e de Portugal foram devidamente acautelados no processo de independência das ex-colónias?

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Cinema em Mangualde

Nos últimos tempos muito se tem falado de cinema em Mangualde.
Há alguns considerandos que gostaria de partilhar aqui e que podem motivar uma boa troca de opiniões contributivas para o regresso, ou não, da sétima arte à nossa cidade.
Compreendo que os saudosistas (às vezes sou um) gostassem de ver recuperado o velho Cine Teatro. Por uma questão de orgulho, sobretudo. Foi um emblema para Mangualde. Há, no entanto, vários factores que são impeditivos: o imóvel é propriedade privada e a sua aquisição e recuperação custarão muito mais do que a construção de um novo. Claro que esta é uma óptica meramente economicista.
Outra solução pode passar por um protocolo entre a autarquia e o Complexo Paroquial. “Matam-se dois coelhos com uma só cajadada” – voltamos a ter cinema e rentabiliza-se o espaço que já existe. Há uma terceira hipótese que, à semelhança da anterior, passa por rentabilizar o auditório da Biblioteca Municipal. Esta opção parece ser a melhor à priori. Por duas razões importantes: por ser a que acrescenta menores custos no imediato; porque se não resultar é de fácil anulação e se superar as expectativas estudam-se e/ou viabilizam-se as soluções anteriores.

Na minha passagem pela autarquia, estudou-se a possibilidade de tornar exequível esta última opção, que passaria por um protocolo com uma reputada distribuidora de filmes, a exemplo do que fez a autarquia de Santa Comba Dão. Era uma opção deveras interessante, porquanto não acrescentaria custos de aluguer à autarquia e geraria uma pequena receita para minimizar os custos com pessoal e as despesas normais de utilização.
O vereador do pelouro não aceitou. Porque teria outras opções em mente e por considerar que o estudo era uma invasão à sua área. Já lá vão quase dois anos.

Como apontamento final importa dizer que não sou dos que acham que o cinema deve dar lucro à autarquia. Mas, na medida do possível, não deverá ser um fardo financeiro.

terça-feira, 15 de novembro de 2005

A dúvida de Vital Moreira

Só vejo duas razões, professor:

1 - Foi assim que o próprio PS o definiu: Soares é o candidato do PS. Fê-lo para que não restassem dúvidas que Manuel Alegre está por sua conta e risco. É o que dá ter dois candidatos do mesmo partido;

2 - É assim que o próprio Soares o refere, também. Se tem dúvidas leia a sua entrevista à Visão onde diz a determinada altura, a propósito da escolha do PS ter recaído em si e não em Manuel Alegre: "Ele (Sócrates) como secretário-geral do PS, disse que me apoiava e esse elemento teve um peso específico determinado. Não posso ignorar o que diz o secretário-geral do PS. Julga que se ele não tivesse insistido, eu me apresentava? "

Portanto, nesse aspecto, Soares é uma vítima de si próprio e do partido.

segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Cavaco dixit

Cavaco Silva disse numa conversa com Constança Cunha e Sá que ainda é muito cedo para fazer uma avaliação ao governo da Nação. À boa maneira do Jeff eu acrescento: E é...
Já sei que muitos dirão que esta afirmação cavaquista não é senão um esgueirar de olhos à esquerda. Eu, contudo, aposto na seriedade e responsabilidade do candidato. Temos homem! Teremos um bom Presidente. A meu ver e em relação ao governo Cavaco deve permitir, bem, que a legislatura seja concluída. Foi para isso que os portugueses votaram em Fevereiro.
Se, porventura, já se mostram arrependidos, a avaliar pelas sondagens recentes, não podem nem devem esperar que o Presidente da República os substitua nesta matéria.
A menos que algo de grave aconteça, o que não acredito.

O que os jornalistas não viram

No final do debate do orçamento na Assembleia da República realçam, os jornalistas, a ausência de Manuel Alegre, fazendo disso um episódio político pelos piores motivos. A sua preocupação centrava-se no facto de, assim, Alegre não ter votado ao lado da sua bancada, explorando daí um enredo bem ao estilo das foto novelas da revista “Maria”, quando se devia centrar apenas e só na ausência. Manuel Alegre foi eleito por cidadãos que nele depositaram uma missão. O deputado e candidato a Presidente da República deveria ter sido exemplar e cumprir o compromisso que assumiu perante os seus concidadãos. É a eles que deve explicações. Mais, muito mais, que aos seus correligionários.
Estranho é o facto dos jornalistas não terem notado a ausência do Ministro da Economia, Manuel Pinho. Com esta, sim, podiam e deviam criar um facto político. Trata-se, no fundo e por princípio, de uma das principais figuras da “criação” do orçamento que nos regerá no próximo ano.
Também é estranho que os jornalistas não tenham valorizado as declarações de João Cravinho, ex Ministro de Guterres e deputado do PS, na defesa do orçamento. A dada altura dizia que “o governo anterior tinha vendido ao país (a propósito do orçamento deste ano) gato por lebre, como diria o saudoso Cavaco Silva”. Mário Soares que se cuide porque a vontade do PS em ver Cavaco na presidência é grande. Cravinho terá, brevemente, oportunidade de “matar saudades” do professor.

sábado, 12 de novembro de 2005

Os políticos que temos e somos

Juízes, advogados e políticos são as profissões que têm pior imagem segundo o Barómetro DN/TSF/Marktest. No topo das preferências dos portugueses estão médicos, jornalistas e professores. Segundo esta sondagem, 49,7 por cento dos portugueses consideram negativa a acção dos juízes, ao passo que 38 por cento vêem a acção dos advogados como má. Abaixo destes surgem os políticos que são cotados como tendo má imagem por 71,3 por cento dos inquiridos.
No topo das preferências estão os médicos que recolhem opiniões positivas de 67,8 por cento dos portugueses, seguidos de perto por jornalistas e professores. Fonte: TSF Online

Vejo isto. Leio uma… duas… três vezes. Não percebo. Releio. Procuro na ficha técnica uma razão: confirmo se a sondagem foi feita em Portugal. Foi!
Fico, no entanto, com sérias dúvidas que os eleitores de Marco de Canavezes, Amarante, Felgueiras, Gondomar, Oeiras e outros concelhos que não me ocorrem (ou se ocorrem não os cito por vontade) foram inquiridos. Só assim se justifica os políticos se encontrarem no fundo das preferências dos portugueses.
Bem, confesso que também eu prefiro os professores e os jornalistas. Sempre aprendo alguma coisa: com os primeiros como fazer; com os segundos (alguns) como não fazer.
Pergunto-me se estes políticos, de quem os portugueses não gostam, vieram de Marte ou de Júpiter. Parece que não. Saíram do meio de nós e fomos nós (os mesmos que dissemos que não gostamos deles nesta sondagem) que os elegemos e elevámos aos mais altos cargos da Nação.
Não serão eles mais do que o nosso reflexo? Não vale a pena esconder nem optar pelo caminho mais fácil dizendo “eles são isto ou aquilo”. Quando devemos dizer nós.
Não vale a pena inventar desculpas dizendo que “estes são os políticos que temos”. Quando, na verdade, são os políticos que queremos e que somos.
Tudo o que temos em Portugal, bom e mau, é o reflexo do povo que somos. Os políticos não são excepção. Eles não nascem assim. Fazem-se. E nós temos sido demasiado permissivos
.

quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Ignorantes para obedecer?

A democracia é um privilégio de povos instruídos e despidos de valores egoístas e individualistas.
Os 48 anos de ditadura “unipessoal” e fundada em “ignorantes para serem obedientes” tem dado, no caso do nosso querido, país frutos amargos e difíceis de digerir. As recentes eleições autárquicas foram pródigas em matéria para análises políticas, proporcionando leituras variadas e interpretações bem interessantes.

O exemplo de Castelo de Paiva é interessantíssimo: um concelho pequeno, pobre, esvaído das suas gentes produtivas (leia-se dos que produzem para outros), ligado a uma agricultura de subsistência (fraca subsistência) para os que ficam, sem vias de acesso que funcionem cabalmente (numa era em que qualquer pequena vila tem via rápida), foi a votos com apenas duas listas concorrentes (as do costume!).
O PSD apresentou como candidato o Presidente em exercício, que se desdobrou nos últimos anos em realizar obras de qualidade discutível mas de contentamento fácil de quem vota, sem a mínima preocupação em apresentar projectos interligados ou que contribuam para solucionar problemas base do concelho.
O PS lançou no combate autárquico o número dois da Câmara PSD (não é engano!).
Prova-se assim que o que importa não são projectos... colectivos, entenda-se, mas sim projectos individuais, ou na menos má das hipóteses, de pequenos grupos(neste caso, bem pequenos, por sinal).
A democracia (o tal poder do povo) em Castelo de Paiva é como os antigos gelados de chocolate com Baunilha, bons numa primeira ou segunda prova, mas absolutamente entediantes quando no uso continuado. O resultado foi notável – uma diferença de apenas 64 votos – o que equivale a dizer que bastaria que 33 eleitores tivessem alterado o seu sentido de voto, que o sentido se manteria exactamente o mesmo mas com uma mudança de cadeiras...

Lembro-me de Platão que dizia que todos nós intuímos na realidade triste que vivemos a memória escondida das verdades que antes contemplámos, nas suas sombras, quando presos na caverna e de costas voltadas para a luz .
Pobres de nós, que muito provavelmente, não só estávamos de costas voltadas para a luz, como também estávamos vendados pela máxima de Salazar “ignorantes para obedecer”.
Pôr em questão, duvidar, é a atitude mais sábia e o nosso património mais valioso.


Eduardo Leal

terça-feira, 8 de novembro de 2005

As leis que não respeitámos

Lembram-se de Amina Lawal? É a Nigeriana que ajudamos a salvar da morte por lapidação, através da campanha lançada pela Amnistia Internacional. Depois de ter lido o artigo da Visão da passada semana, e de fazer um "flasback" pelos artigos que li sobre a intifada parisiense, achei que podia ser mais um contributo para a reflexão.Deixo-vos o trecho do artigo para poderem fazer os vossos comentários. Se puderem leiam na íntegra.

Ela é só o rosto dentro de um hiyab (véu) verde. Isso e os dedos dos pés são a únicas partes do corpo que deixa ver. Sentada no chão, perante o olhar atento do seu primo Awal, (é ele o responsável pela sua vigilância diária) começa a relatar a sua história, no ponto em que o Ocidente deixou de se interessar por ela, ou seja, o dia da sua absolvição. “Quando me libertaram, voltei para Kurami. Todos me recebem sempre muito bem, nesta aldeia. É a minha casa. Arranjaram-me um marido que não gostava de mim. Casei-me e tive outra menina, Mariam, que estou ainda a amamentar. Após seis meses de casamento, o meu marido abandonou-me. Agora estou outra vez sozinha.”

Maridos à força
A história do último casamento de Amina começou com um curioso casting de maridos, organizado pela WRAPA (Promoção e Protecção Alternativa dos Direitos da Mulher), uma associação de mulheres que financiou, em parte, a defesa de Lawal. As responsáveis da WRAPA reconhecem que cometeram um erro, quando lhe procuraram um marido, mas garantem que o fizeram com a melhor das intenções, procurando assegurar a estabilidade económica de Amina. “Houve vários candidatos”, conta Mariam Imhanobe, uma das chefes da organização. “Primeiro pensámos num homem muçulmano que vinha dos EUA para se casar com ela, mas esse não nos convenceu. Depois num outro, de quem ela gostava muito, mas as suas intenções não eram claras. Finalmente, encontrámos um que já tinha uma mulher e que vivia em Abuja (a moderna capital da Nigéria) e que estava disposto a tomá-la a seu cargo.”

Não foi, também, contra isto que participámos? Não estamos constantemente a achar que todas as pessoas têm direito ao seu credo e a viver em função dos seus usos e costumes? Não é isso que queremos para os imigrantes? Que tenham no país de acolhimento a possibilidade de viver de acordo com as suas leis e os seus costumes? Não somos, estes que defendem isso, os mesmos que votámos contra as leis do país de Amina para a salvar da morte? Eu não estou arrependido disso. Mas há coisas que me deixam confuso.

domingo, 6 de novembro de 2005

Paris - O Inferno à noite

A França está a ferro e fogo, vivendo uma nova “Revolução” e tomada da “Bastilha”.
Esta, porém, não nasce do descontentamento do povo com o rei absolutista, nem da luta por ideais humanistas incutidos por novos filósofos. Provém do desagrado dos delinquentes que por lá grassam e das palavras que o Ministro do Interior lhes terá dirigido.
Mas vamos aos factos e centremo-nos no que terá motivado as palavras do ministro.
Dois jovens delinquentes são perseguidos pela polícia, escondem-se numa cabine de alta tensão e morrem electrocutados. De quem é a culpa? Da polícia, claro. Não devia ter surpreendido os jovens enquanto se apoderavam de bens alheios.
Agora, por culpa da polícia, temos várias cidades francesas em constante sobressalto e os seus habitantes com prejuízos avultados.
Há alturas em que o uso da força é inevitável. Até desejável, não sejamos hipócritas.
Esta situação parece uma dessas alturas. Os delinquentes queixam-se das balas de borracha da polícia. Acho que têm razão. Com balas reais as queixas diminuiriam drasticamente.
É necessária uma actuação vigorosa e determinada, sob pena de incentivar mais delinquentes para a rixa e, pior que isso, desmotivar os cumpridores a respeitar a lei.

Recordo, aqui, o ex “mayor” de Nova Iorque, Rudolph Giulianni, quando assumiu a câmara da grande metrópole mundial, esta encontrava-se no topo do crime. Prometeu mão dura nos criminosos e conseguiu, em tempo recorde, devolver a segurança a quem procurava cumprir as regras.
Podemos discordar dos métodos. Mas tenho dúvidas que outros resultassem tão bem.

Esta nova “revolução francesa” deve ser travada já. Para bem da democracia.

sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Quanto vale a nossa opinião?

Quanto vale a nossa opinião?
Quanto vale aquilo em que acreditamos?
Para mim, que sou um apaixonado pela luta política, pela defesa das causas e pelo combate por convicções, a oportunidade de poder, de 5 em 5 anos, escolher uma pessoa para representar o país como presidente da república é única.
Até porque sou convictamente anti-monárquico (custe ao erário público a república mais ou menos euros que a mais iluminada das coroas). É no que dá acreditar que nascemos todos com os mesmos direitos perante a lei.

Esta é uma das eleições em que importam sobretudo os candidatos. Os partidos políticos, que têm o seu espaço muito específico e útil, têm uma tendência incontrolável para invadir áreas da vida política às quais não só não fazem falta como inclusivamente podem trazer inconvenientes. Isso acontece nas eleições presidenciais e acontece nas eleições autárquicas.
Não gosto da tendência, mas isso não quer dizer que não reconheça nos candidatos o direito ao alinhamento partidário. Desconfio até dos candidatos que se apressam a rasgar os cartões de militante (pecado do qual Sampaio nunca poderá ser acusado).

Mário Soares afirmou que este combate (e referia-se provavelmente apenas à luta Soares vs Cavaco) é um combate ideológico esquerda vs direita.
Acredito que é assim, mas não é só assim... não pode ser assim. Primeiro, porque não há apenas dois candidatos, o que quer dizer que não há apenas um combate ideológico.
Depois, porque não há apenas uma direita e uma esquerda, nem é possível dizer que todo o bem e todo o mal estão apenas num dos lados. Importa nestes combates ideológicos saber que ideias debatemos. Para além dos partidos que temos importa ouvir os candidatos e apreciar as alternativas propostas.

Como eleitor, nestas eleições e porque se trata de presidenciais, pretendo esquecer que tenho um cartão de militante.
Do que conheço dos candidatos propostos tenho uma opção à partida, que não é a opção do meu partido.
Aliás, entristece-me que o meu partido se arvore no direito de fazer de mim bandeira neste acto eleitoral.
Não gosto sobretudo dos que acham que o jogo da política está reservado a algumas famílias (por mais dignas que sejam).
Um candidato só é presidente depois de contados os votos e precisa sempre de mais de 50% dos votos expressos. Não gosto de vitoriosos pelas sondagens, não pelo que as sondagens dizem, mas pelo que elas representam perante um povo que gosta de se encostar aos vencedores.
Não posso deixar de fazer um apelo. Nestas eleições, se vos perguntarem em quem pretendem votar respondam tudo ao contrário. É um tipo de terrorismo que não magoa ninguém e impede alguns tipos de batota.

Viva o voto secreto!

Eduardo Leal

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

Xeque ao Rei?

A notícia sobre as buscas da PJ a casa de Jorge Coelho ontem na abertura dos noticiários e que se encontra publicada na Visão Online, não contribui em nada para “credibilizar” o sistema judicial em Portugal.
Porquê? Porque o episódio é mau demais para ser verdade: arranja-se um mandado de busca para ir à procura de um tabuleiro de xadrez…
Mas, cabe na cabeça de alguém que Jorge Coelho, ou outro político qualquer da sua craveira, se tivesse de se “vender” o faria por um simples tabuleiro de xadrez?
Claro que com esta atitude se “descridibiliza” uma instituição que deve ser um dos garantes do cumprimento da constituição e, ao mesmo tempo, criam-se deuses.
Lembram-se da Senhora de Felgueiras? Talvez a história tivesse um desfecho diferente se o sistema judicial não tivesse agido como agiu.
Na verdade, foi um perfeito disparate usar a medida de prisão preventiva no caso de Felgueiras! Esta medida só deve ser usada nos casos em que o arguido pode repetir o crime ou se houver indícios de fuga.
Sucede que a fuga só aconteceu por existir um pretenso mandado de prisão preventiva e a possibilidade da suspeita repetir o crime era muito remota. Deveria usar-se, a meu ver, outra medida de coacção que não aquela.
Faz-me, este episódio de Jorge Coelho, lembrar a célebre caça aos médicos quando, há uns anos atrás, a PJ decidiu inquirir e “invadir” a casa de alguns clínicos suspeitos de corrupção. Se bem me lembro importunou quem tinha recebido umas pequenas lembranças como perfumes, canetas, vinhos e afins. Os verdadeiros nunca foram importunados.

quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Selo ou não selo - eis a questão

O Eduardo Leal é um amigo que ganhei durante os anos em que estive ligado à Indústria Farmacêutica. Convidei-o para escrever com a assiduídade que lhe for possível para o "O Observatório". Apesar das nossas divergências ideológicas, admiro muito a sua forma de pensar e de agir. Tenho-o como um líder. Gostava de contar com ele mais vezes. Colaborem e estimulem essa participação com os vossos comentários. João Lopes

A questão do selo do carro... e do suposto agravamento dos impostos, suscita uma das questões fulcrais sobre a nossa vida em sociedade: a nossa cidadania, i.e.: a nossa capacidade (entenda-se dos Portugueses) de construir um espaço comum.

Há dias, durante uma breve conversa de café sobre candidatos autárquicos, um conhecido meu vociferava contra a carga fiscal e defendia o princípio do utilizador pagador. Ou seja: pagaria as estradas quem por elas passasse; a educação quem dela necessitasse; a saúde quem tivesse falta dela; e por aí adiante.
Claro está que mantivemos o diálogo em torno dos nossos umbigos...
Nós, Portugueses, não aceitamos de ânimo leve a necessidade de investir no futuro, não estamos preparados para assumir os naturais riscos da vida social, indigitando, por força do voto democrático, em lugares de gestão pública pessoas menos preparadas ou com intenções menos solidárias que as desejadas, mas assumindo sempre que alguns poderão cumprir cabalmente as funções para as quais se propõem.
E como investimos a curtíssimo prazo, acabamos por ser representados muitas vezes pelos mais expeditos, mas nem sempre os melhores.
Esta reflexão gira em torno da máxima antiga que advoga que a democracia é o regime onde a mediocridade toma o poder, legitimada pela força das multidões. Mas esse é um debate mais longo e ao qual voltarei provavelmente (do lado dos que continuam a acreditar na democracia!).

Este tipo de discussões lembra-me numa primeira análise a falta de debate nacional sobre temas políticos e filosóficos.
Este é o tema que deveríamos abordar como ponto de partida, sobre se nós portugueses estamos ou não preparados para viver como povo, ou seja, se temos a necessária consciência social que determina os fundamentos da vida colectiva.
Grande parte dos nossos problemas radica nesta questão. Fugimos aos impostos como se isso fosse uma competência básica da “portuguesalidade”, esquecemos os nossos deveres sociais (mantendo no entanto sempre bem desperta a atenção para o incumprimento da parte do estado do respeito aos nossos direitos), e defendemos os tratantes e os malfeitores, elevando-os muitas vezes à categoria de heróis lusos da nossa banda desenhada de trazer por casa, elegendo-os para nossos “presidentes” e esquecendo que abrimos a porta aos lobos.
Mas voltemos ao selo do carro. A questão deve ser se quem deve pagar é quem usa ou quem possui, até porque, se nada mais mudasse (e não sei se mudará) o estado continuará a receber apenas um pagamento por veículo.
A alteração às regras do imposto mantém uma regra fundamental: o estado centralizador continuará a passar a receita para as autarquias. E este é outro tema que importa discutir – a necessidade de fazer descer as competências (e as receitas) do poder central até ao mais elementar dos poderes: o local.

De facto, não estamos preparados nem para pagar impostos, nem para utilizar os impostos recebidos “a bem da Nação”.

É uma questão de maturidade! Também seria interessante discutir a velha questão da paixão de Guterres – a educação.


Eduardo Leal

terça-feira, 1 de novembro de 2005

Carta de um filho apaixonado

Para descontrair um pouco e competir com o humor do Mocho, publico esta prosa que recebi hoje por e-mail.

O pai entra no quarto do filho e vê um bilhete em cima da cama. Já temendo o pior, começa ler o seguinte: "Querido Pai, é com grande pesar que o informo que eu estou fugindo com o meu novo namorado, Dadinho. Estou apaixonado por ele. Ele é muito lindo, com todos aqueles "piercings", tatuagens e aquela super moto BMW que tem. Mas não é só por isso. Descobri que não gosto de maneira alguma de mulheres e como sei que o senhor não vai consentir isso, vamos fugir e ser muito felizes. É que ele quer adoptar filhos comigo e isso foi tudo que eu sempre quis para mim. Aprendi com ele que "erva" é óptima, é uma coisa natural que não faz mal a ninguém, e ele garante que no nosso pequeno lar não vai faltar marijuana. Dadinho acha que eu, nossos filhos adoptivos e os seus colegas "gays" vamos viver em perfeita harmonia.
Não se preocupe pai, eu sei cuidar de mim, apesar dos meus 15 anos já tive várias experiências com outros rapazes e tenho a certeza que ele é o homem da minha vida. Um dia eu volto, para que o senhor e a mãe conheçam os nossos filhos. Um grande abraço e até um dia. Do seu filho com amor."
O pai quase desmaiando continua a ler:

PS: Pai, não se assuste. É tudo mentira e estou na casa da Mariana, nossa vizinha (que é boa como o milho). Só queria mostrar pro' senhor que existem coisas muito piores na vida que as notas negativas do meu exame que está na primeira gaveta.
Abraços,
Seu filhão, burrinho, mas HOMEM de verdade.