segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Magali: a menina que não chegou a mulher...

A notícia não teve a importância que os escaparates costumam dar às coisas sem importância alguma.
Que importa, pois, ao mundo que a pequena Magali Cortés de 12 anos de idade tenha morrido, vítima de uma infecção provocada por uma intoxicação a estreptococos, apanhada no rio Santa Rosa, na cidade de Tepic no México?
A distância marcada em quilómetros impede que os nossos olhos possam ver a nitidez das palavras de uma menina que, então com oito anos, escreveu uma carta ao prefeito da cidade para lhe construir uma ponte que a levasse à margem onde a escola a esperava todos os dias.
Talvez, logo aos primeiros rabiscos da mão, essa vontade tão grande de ter uma ponte a movesse a aprender depressa as primeiras palavras e prefeitura fosse a primogénita.
Todos os dias Magali atravessava a nado o rio que já a conhecia mas, implacável sem olhar a quem, a matou.
A promessa do prefeito que há quatro anos iniciou a ponte para Magali não vai chegar a tempo. Talvez porque o tempo é, inexoravelmente, o maior inimigo nestas circunstâncias. Ou, pior, muito pior, porque talvez o prefeito não tenha acreditado nunca que isto fosse acontecer a Magali, acalentando a secreta e silenciosa esperança que o tempo se encarregaria de resolver a questão. Porque Magali mulher tornaria inútil a ponte para Magali menina.
Sucede que Magali menina não chegou a mulher. Talvez a mulher que, sabendo das agruras que a ausência de uma ponte provoca a uma menina, se tornaria ela própria, mulher, a construtora de pontes.
Magali… a menina que não chegou a ser mulher porque o prefeito da sua cidade não acreditou que o rio, um dia, poderia devorá-la nas suas águas.
Que semelhanças encontraremos na trágica sorte de Magali nas muitas outras histórias de prefeitos que não acreditam que, um dia, um qualquer rio pode transbordar e deixar à sorte aqueles que dele dependem? Que semelhanças há entre o prefeito de Tepic que esperou que fosse o tempo a resolver um problema e os prefeitos de tantas outras histórias que também acreditam que o tempo tudo decide?

Cruelmente, esta história não foi uma estória.

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sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

(In)consciência

A notícia diz que Suharto, antigo ditador indónesio por mais de 30 anos, está inconsciente.
A pergunta é: e alguma vez o foi?

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