O bufo
Acabei de chegar de um casamento e, confesso, perante a intimação mais recente da Direcção Geral das Contribuições e Impostos, apelando a que cada cidadão seja um fiscal, sinto-me obrigado a delatar aqui as quantias que os noivos gastaram, o número de convidados, o restaurante do copo de água, o número de fotos que o fotógrafo tirou e a quantidade de vestidos super chiques que se cruzavam ante o olhar de desdém das suas donas.
E tenho que ser eu a tratar desta delação para fazer um favor aos meus amigos noivos. É que no meio de tantas coisas interessantes que, enfim, teriam que fazer hoje à noite, não teriam tempo para preencher o questionário. E talvez nem se tivessem dado conta se lá no restaurante havia outras festas, ou não. Bem, festas, festas devem estar eles a ter pelo corpo todo. Claro que só estão nisso, porque eu me encarreguei de fazer de bufo. Sou amigo. Deles e do fisco. E do país. Que patriótico me sinto!
Deparo-me, no entanto com uma dificuldade: pergunta aqui quantos preservativos é que foram usados na noite de núpcias… (deve ser para apanharem as farmácias, também).
Telefonei e fiquei a saber que não compraram preservativos. Apenas Aspirina, por causa das dores de cabeça da minha amiga.
O questionário do fisco falha nesta questão. É grave! Não pensaram em tudo.
Amanhã vou a um funeral. Consta-se que já intimaram o defunto a preencher um questionário sobre as despesas com o funeral. E se não responder vai pagar uma coima.
Enfim, a vida não está nada fácil. Nem a morte, pelos vistos.