quarta-feira, 26 de março de 2008

O bufo

Acabei de chegar de um casamento e, confesso, perante a intimação mais recente da Direcção Geral das Contribuições e Impostos, apelando a que cada cidadão seja um fiscal, sinto-me obrigado a delatar aqui as quantias que os noivos gastaram, o número de convidados, o restaurante do copo de água, o número de fotos que o fotógrafo tirou e a quantidade de vestidos super chiques que se cruzavam ante o olhar de desdém das suas donas.
E tenho que ser eu a tratar desta delação para fazer um favor aos meus amigos noivos. É que no meio de tantas coisas interessantes que, enfim, teriam que fazer hoje à noite, não teriam tempo para preencher o questionário. E talvez nem se tivessem dado conta se lá no restaurante havia outras festas, ou não. Bem, festas, festas devem estar eles a ter pelo corpo todo. Claro que só estão nisso, porque eu me encarreguei de fazer de bufo. Sou amigo. Deles e do fisco. E do país. Que patriótico me sinto!
Deparo-me, no entanto com uma dificuldade: pergunta aqui quantos preservativos é que foram usados na noite de núpcias… (deve ser para apanharem as farmácias, também).
Telefonei e fiquei a saber que não compraram preservativos. Apenas Aspirina, por causa das dores de cabeça da minha amiga.
O questionário do fisco falha nesta questão. É grave! Não pensaram em tudo.
Amanhã vou a um funeral. Consta-se que já intimaram o defunto a preencher um questionário sobre as despesas com o funeral. E se não responder vai pagar uma coima.
Enfim, a vida não está nada fácil. Nem a morte, pelos vistos.

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domingo, 16 de março de 2008

O crime

Fernanda Tadeu, até agora uma ilustre desconhecida, saltou para a ribalta por ter sido apanhada pela objectiva de um fotógrafo que a conhecia como a “esposa de António Costa”.
De imediato a foto correu as parangonas e a notícia foi explorada pelos jornalistas à procura das últimas consequências políticas que tal acto pudesse provocar.
Não sei se Fernanda Tadeu, mulher bonita por sinal, se encontrava no meio de 99.999 professores por ter sido apanhada na avalanche enquanto percorria as ruas da capital olhando as montras, ou se, pelo contrário, lá estava a manifestar-se contra as políticas do governo que o seu marido ajudou a elaborar. E pouco importa.
Acho, contudo, que é muito grave a senhora ter saído à rua sem o consentimento do marido e nisso os jornalistas têm toda a razão. Aliás, acho mesmo que quando chegasse a casa o marido deveria pegar numas listas telefónicas e numas toalhas encharcadas e dar-lhe um bom arraial. A senhora não tem direito a ter uma vida própria.
Até vou um pouco mais longe que os jornalistas: toda a esposa que seja de outro clube de futebol que não aquele pelo qual o marido faz tristes figuras em dias de jogo, deveria ser severamente castigada. E se quer militar num partido diferente o melhor é que pegue nas suas trouxinhas e saia de casa. Acho bem, mesmo muito bem, que sigamos o exemplo das sociedades que consideramos subdesenvolvidas e do terceiro mundo e ponhamos a mulher no seu devido lugar…
Francamente, haja pachorra.

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sábado, 8 de março de 2008

A minha teoria

Tenho uma teoria: as mulheres mandam no mundo!
Que novidade, dirão os leitores... De facto assim é! Muitas mulheres se queixam dos homens machistas, mas na verdade a culpa não é, senão, delas.
São elas que nos carregam paciente e dolorosamente durante nove meses. É, posteriormente, a elas que está confiada a alimentação. E são elas que nos educam, tantas e tantas vezes incutindo em nós esses valores que a sociedade em tempos achava os mais correctos e que hoje já tende a banir.
Depois, uma boa parte da nossa vida são as mulheres que nos orientam. Sempre assim foi e há-de ser.
Lembro-me, em miúdo, o meu avô tinha uma junta de bois. Era agricultor. Como hoje os agricultores modernos trocam de tractor, também ele, naquela época, trocava de junta de bois. Não sei se pela idade, se pelos quilómetros ou horas, ou se porque os mais modernos já vinham equipados com umas orelhas melhores que não era necessário picá-los tantas vezes. Bastava dizer-lhes ao ouvido: vai ao rego! Mas fosse porque fosse, o meu avô, homem exemplar, mas machão como convinha naquele tempo, lá ia seguido da minha avó, trocar a junta de bois. Não fazia, porém, negócio que a minha avó não anuísse discretamente. E, claro está, na hora de pagar discretamente a “bezerreira” aparecia, como por artes mágicas, nas suas mãos, com as notas de conto de reis. Tantas quantas as necessárias para o negócio.
É apenas um exemplo. Da mesma forma enganam-se todos aqueles que pensam que só porque os homens estão em maioria nos lugares de topo, na política e nas empresas, são eles que tomam as decisões e conduzem os destinos do mundo.
Nada mais falso. Diz-se na sabedoria popular que por trás de um grande homem está sempre uma grande mulher. E é, tantas vezes, essa mulher que influencia, discretamente, todas, ou quase todas, as decisões do homem.
Claro que isto também coloca nos ombros das mulheres todos os erros do mundo. Dir-nos-ão elas, daquela forma subtil, inconfundível, ternurenta e convincente que esses erros não são mais do que más interpretações nossas. E, porventura, sê-lo-ão.
Há dias, ao comentar esta minha teoria de algibeira com uma senhora que estava desesperada com esta sociedade machista, contrariava-me ela dizendo que, nesse dia, tinha sido incorrectamente recebida por um funcionário de uma repartição pública e que isso só assim acontecera por virtude da sua condição feminina.
Até aqui, retorqui eu, está a prova de que são as mulheres que mandam no mundo. O mau acolhimento que o referido funcionário colocou na questão da senhora não passa disso mesmo: o reconhecimento que são as mulheres que comandam. Experimentem colocar alguém que sempre foi mandado num posto de chefia e poderemos assistir a verdadeiros actos de tirania por vingança. É como diz o povo: não peças a quem pediu e não sirvas a quem serviu!
Abençoadas sejam as mulheres que connosco convivem!

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quarta-feira, 5 de março de 2008

Que nunca caiam as pontes entre... os rios

Cumprem-se sete anos e muitas longas noites sobre a queda da ponte de Entre os Rios, numa noite de um domingo chuvoso, no regresso de um passeio que nunca chegou ao ponto de partida.
Sete anos no Rio… Duas pontes unem, agora, as duas margens… Aquela que deveria ter sido feita antes da queda e a que se reergueu dos destroços.
Ninguém adivinharia que a ponte viria a ruir impedindo tanta gente de regressar a casa, de chegar à outra margem. Ninguém…
Mas uma coisa se adivinhava há sete anos: as famílias das vítimas iriam sucumbir antes que as indemnizações chegassem…
Outra coisa se adivinhava: mais depressa os arguidos do caso Casa Pia ou do Apito Dourado podem vir a ser indemnizados pelo estado... que as famílias que ruíram com a ponte.
Posso ser só eu a pensar… mal. Que assim seja.
E como diz a música: que nunca caiam as pontes entre nós!

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