Peço perdão ao fisco...
Já disse aqui, uma vez, que nem tenho pais ricos, nem me saiu a lotaria. Mas também não fui ao banco como o homem de Setúbal. Não. A razão é simples: é que eu sou dono de um banco. Quer dizer, disseram-me que sou.
Nesse mesmo dia, em que essa notícia me é transmitida, decidi assumir essa minha condição e, sem demoras, exigi à gerente do meu banco que me eliminasse o “spread” da taxa de juro que me está a ser aplicada. A resposta foi imediata e negativa. Nada feito. A funcionária não obedeceu à voz do patrão. Pensei demiti-la, não fora a crise que grassa por aí. Não espera, contudo, pela demora.
Mas nem tudo é mau na minha nova senda de banqueiro. Fiquei agora a saber, também, que o meu banco e os outros que não são meus, não serão ser penalizados, este ano, por não terem retido na fonte o IRS e IRC de investimentos obrigacionistas porque, na opinião dos técnicos do fisco, não agiram de má fé. Claro que os bancos sabiam bem o que estavam a fazer. Para isso têm os muitos assessores jurídicos que encontram sempre na lei um buraco de uma agulha onde pode passar, à vontade, uma cáfila.
Ora, portanto, eu como dono de um banco estou safo por este ano. Mas pergunto: e eu, cidadão teso e endividado, agindo de boa fé, na minha declaração de IRS dos rendimentos deste ano, posso “esquecer-me” de alguns dos parcos rendimentos que também serei perdoado?