quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

O falhanço

No debate mensal do Governo na Assembleia da República, o Primeiro Ministro escolheu a segurança como principal tema, tendo destacado e anunciado uma série de reformas importantes para esta área vital do Estado, com a reestruturação das forças de segurança.
É, sem dúvida, importante o sector da segurança num estado de direito. É a garantia de que ele o é, efectivamente.
Mas não terá sido em vão que o Primeiro Ministro escolheu este tema. Mais importante do que a razão subjacente é a razão adjacente. É que, desta forma, tentou escamotear o aumento do desemprego no país e, por consequência, esconder o falhanço da sua promessa eleitoral na criação de cento e cinquenta mil postos de trabalho.
É certo que esse compromisso era para uma legislatura que só termina em 2009. Mas dois anos volvidos do seu início era legitimo esperar a criação de pelo menos metade dos postos anunciados.
E se por um lado muitas das medidas anunciadas são, de facto, necessárias ainda que isso nos custe a todos um bocadinho, também não é menos verdade que são sempre os mesmos a suportar o bocadinho que mais dói.
É verdade que o desemprego não acaba por decreto. Nem por decreto se termina uma crise. Mas decrete-se guerra na fuga aos impostos e aos baixos salários. Assim se pode, creio, estimular uma economia estagnada.

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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Venham mais cinco...

Finalmente, compreendo melhor a verdadeira razão que levou o Presidente do Governo Regional da Madeira a demitir-se. O senhor tem razão, coitado. Tirarem-lhe, assim de uma assentada, dois porcento do orçamento é muito para um homem só.
E agora? Como é que vai poder financiar o jornal diário local onde ele tem também uma coluna quase diária? De qualquer das formas o subsídio que deu para o dito não passava de uns trocados. Eu até me envergonhava se desse só cinco milhões de euros – uma miséria – para sustentar um jornal que tem cinco mil exemplares diariamente na rua. Tenha vergonha senhor presidente! O senhor julga que o jornalismo a sério se faz assim com umas cascas de alho?
Bem mais, muito mais, custa a editar este blog que não tem apoios financeiros e só é editado quando “o Rei faz anos” (trata-se de um amigo meu que, tal como o comum dos mortais, faz anos uma vez por ano). E não é lido nem por metade, nem uma décima – ok, talvez uma milésima – parte dos leitores do seu jornal. A única diferença é que os leitores deste espaço pequeno que aqui vê quando não gostam desligam e mudam para outro. Os madeirenses ainda não compreenderam que podem fazer o mesmo!
Ah, e já agora se tiver aí qualquer coisita que me dê para sustentar este blog… Sei lá, uns quinhentos mil euros. Eu sei que é pouco mas já era uma ajudita para pagar a luz… E a água que foi aumentada há pouco tempo…

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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Babel

Se outra razão mais forte não houvesse, o simples facto de ser falado em pelo menos cinco línguas justifica plenamente o título: Babel.
Mas há, de facto, outras razões. O filme conta as histórias despoletadas por um tiro no deserto africano, em Marrocos, à entrada do Saara. A partir daí é um frenético vai vem do deserto africano para o deserto californiano, na fronteira com o México, aqui e em Tóquio. E a trama que se desenrola, entretanto, deixa-nos antever e perceber o quão pequenina pode ser esta aldeia global onde vivemos. Gostei do filme e, sinceramente, sugiro vivamente que passem as mais de duas horas e meia amarrados ao grande ecrã. Fica aqui sinopse. Melhor do que as minhas palavras ela faz uma pequena antevisão do filme.

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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

O Carnaval da Madeira

O melhor Carnaval 2007 foi, sem dúvida, o da Madeira. Não é todos os anos, nem todos os dias, que se pode assistir ao desfilar de um chorrilho de argumentos de Alberto João para pôr termo, mais cedo, ao mandato e esperar que o Presidente da República convoque eleições antecipadas para que o Carnaval se prolongue por mais uns meses.
É certo que não se pode dissociar a Madeira contemporânea do seu quase eterno presidente. Mas o que é demais parece mal. Mesmo no Carnaval, época em que ninguém nem nada se leva a mal. Estou farto de ouvir, sempre, as mesmas cantigas carnavalescas dizendo que a culpa é dos “colunealestas” do “contenete”.
Suspeito, contudo, que continuaremos a gramar com ele nos próximos anos. Talvez ele tenha razão quando diz que os do “contenete” não têm testículos. Se tivéssemos já lhos teríamos feito sentir. E sem vaselina para que ele desse conta.

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sábado, 17 de fevereiro de 2007

A mentira

Decorria o ano de 1999, por esta altura, e Bill Clinton via-se a braços com o caso Monica Lewinsky e o caso da sala Oval. Ou seria oral? Bom, certo é que a sala nunca mais foi a mesma.
Mas o importante nesta questão não é, propriamente, a oral de Mónica, mas sim a extensa oral de Clinton perante um procurador devasso como foi Kenneth Starr e o seu intenso interrogatório sobre o “felatio”. Queria aprender, talvez.
À força e apesar do perdão da grande Hillary, hoje potencial candidata a Presidente dos Estados Unidos podendo ser a primeira mulher a conseguir tal feito, o procurador Starr procurava argumentos e provas (incluindo no vestido azul de Monica) que condenassem Clinton, não tanto pelo facto de se ter relacionado com uma das suas secretárias, mas por ter mentido ou ocultado factos à sua mulher.
Hoje, volvidos um bom par de anos, não vejo nenhum procurador, como o conservador e pudico - mas não casto - Kenneth Starr, a querer condenar o actual presidente, George Bush por ter mentido descarada e despudoradamente, ocultando factos, ao mundo inteiro sobre as armas de destruição massiva que legitimaram a invasão ao Iraque e as consequências que hoje sofremos diariamente nas nossas carteiras.
Contra-senso? Não. Manda o petróleo e as petrolíferas que, ávidas de dinheiro fresco, comandaram na retaguarda a operação.

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sábado, 10 de fevereiro de 2007

A crise autárquica

A crise permanente em que vive a Câmara Municipal de Mangualde desde as últimas eleições e que culminou primeiro na suspensão do mandato do vereador Agnelo Figueiredo e, depois, na demissão do vice-presidente António Silva, impede já que se vejam as graves sequelas que se vêm alastrando há quase dois anos e provocaram danos quer na estrutura autárquica, quer na deriva que tem afastado os autarcas dos seus munícipes porque mais importante, para eles, é a guerra de sucessão que se pode vir a travar brevemente.
Porque conheço bem - bem demais até - o problema e depois de reflectir decidi que estava na hora de fazer uma breve análise a estes últimos tempos de governação autárquica.
Mete-me alguma confusão como é que todos os que apostaram em António Silva para as listas e para a vice-presidência, a começar pelo próprio Presidente da Câmara, se dão agora, volvidos quase dois, conta que afinal ele não representava nenhuma mais valia e apenas serviu para “criar um ambiente de cortar à faca sem que dialogasse com qualquer dos vereadores do executivo”.
Afinal, não foi por esta razão – a da fraca sociabilidade de António Silva e má convivência com outras opiniões – que tantos e tantos mangualdenses disseram ao cabeça de lista à Câmara que o segundo da lista era uma péssima escolha? Não foi, também, pela mesma razão que algumas pessoas de valor se recusaram a apoiar a lista do PSD, incluíndo muitos elementos do próprio partido? Não foi, ainda, pela mesma razão que alguns elementos juraram a pés juntos que nunca aceitariam integrar uma lista onde estivesse António Silva, ainda que mais tarde voltassem atrás nas suas intenções?
Ora, estas simples perguntas, podem levar-nos com legitimidade a pensar nas fraquezas de um líder que aceita subjugar-se à pressão de uma única freguesia, que se dizia representar o alto concelho, e, talvez pior, às ameaças do candidato que queria – e foi – à viva força ser vice presidente.
Ainda assim, e depois de ter aceite todas as condições e condicionantes de António Silva, inclusive a de ficar com a pasta dos Recursos Humanos, o Presidente da Câmara deveria, a meu ver, ter travado a crise, agora quase incontrolável, aos seus primeiros sinais. E recordo que eles aconteceram ainda antes das eleições, durante a campanha eleitoral, quando surgiram, numa noite, graves divergências com o segundo da lista motivando a criação de duas sedes de campanha: a de António Silva e a dos “outros”.
Admito, contudo, que os valores humanos do líder o tivessem influenciado a dar-lhe uma segunda oportunidade. Todas as pessoas a merecem. Mas não tinha sido já dada essa segunda oportunidade a António Silva com a sua inclusão nas listas contra tudo e contra todos e depois do que foi acontecendo ao longo da sua carreira política? Não podemos branquear o que ele fez a todos os líderes que o sucederam no partido. Eram, todos eles, assim tão maus?
Em todo o caso, Soares Marques, decidiu fazer essa aposta que, acredito, no seu íntimo sabia condenada ao fracasso. Não poderia, no entanto, permitir que o mau ambiente se instalasse na autarquia logo após a nomeação de António Silva para a vice-presidência. São daí conhecidas as ameaças, as rupturas, as confusões e “as vinganças” com funcionários que provocava e tornava claro para todos os que iam assistindo por fora que, mais tarde ou mais cedo, a casa viria abaixo.
Era então, creio, a altura certa para dizer: basta! Não direi que agora é tarde demais. Mas é tarde. Muito tarde! Porquê? Perguntem a um médico quando é que se deve retirar um cancro que ameaça perigar a vida de um doente e obterão a resposta. Um bom médico dirá: aos primeiros sintomas.

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domingo, 4 de fevereiro de 2007

O "gaffenhoto"

Da semana que encerrou, retenho duas situações que, não fora todo o folclore que tem rodeado a questão do referendo do dia 11, teriam, com certeza, sido amplamente divulgadas e até escalpelizadas ao limite pelos comentadores da nossa praça.
Ambas se enquadram no contexto da visita à China pela comitiva que acompanhou o Primeiro Ministro.
A primeira resulta das declarações, pouco felizes, do Ministro da Economia, Manuel Pinho, qual vendedor de frigoríficos no Pólo Norte, procurou vender o nosso país considerando como uma vantagem o baixo salário dos portugueses. Esqueceu-se, pois, que estava num dos países mais criticados por esse facto e onde se trabalha, sem hora marcada, por uma malguinha de arroz. Só faltou dizer que aqui a medida é a mesma, mas na variante de arroz doce para que a malta não refile muito.
A segunda resulta da premissa de podermos, nós portugueses, ser parceiros privilegiados nas relações da China com Angola, podendo Portugal ser a porta de entrada de chineses para o mercado angolano. Ora, nada mais hilariante.
A China é, desde 1974, um dos parceiros preferenciais dos angolanos e hoje será, porventura, a maior potência a operar em Angola. Mais: é a própria China que está a servir de porta de entrada de empresas portuguesas naquele país, nomeadamente das que operam no sector da construção civil.
Portanto, arranjem outros, porque estes argumentos não servem.

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