A crise permanente em que vive a Câmara Municipal de Mangualde desde as últimas eleições e que culminou primeiro na suspensão do mandato do vereador Agnelo Figueiredo e, depois, na demissão do vice-presidente António Silva, impede já que se vejam as graves sequelas que se vêm alastrando há quase dois anos e provocaram danos quer na estrutura autárquica, quer na deriva que tem afastado os autarcas dos seus munícipes porque mais importante, para eles, é a guerra de sucessão que se pode vir a travar brevemente.
Porque conheço bem - bem demais até - o problema e depois de reflectir decidi que estava na hora de fazer uma breve análise a estes últimos tempos de governação autárquica.
Mete-me alguma confusão como é que todos os que apostaram em António Silva para as listas e para a vice-presidência, a começar pelo próprio Presidente da Câmara, se dão agora, volvidos quase dois, conta que afinal ele não representava nenhuma mais valia e apenas serviu para “criar um ambiente de cortar à faca sem que dialogasse com qualquer dos vereadores do executivo”.
Afinal, não foi por esta razão – a da fraca sociabilidade de António Silva e má convivência com outras opiniões – que tantos e tantos mangualdenses disseram ao cabeça de lista à Câmara que o segundo da lista era uma péssima escolha? Não foi, também, pela mesma razão que algumas pessoas de valor se recusaram a apoiar a lista do PSD, incluíndo muitos elementos do próprio partido? Não foi, ainda, pela mesma razão que alguns elementos juraram a pés juntos que nunca aceitariam integrar uma lista onde estivesse António Silva, ainda que mais tarde voltassem atrás nas suas intenções?
Ora, estas simples perguntas, podem levar-nos com legitimidade a pensar nas fraquezas de um líder que aceita subjugar-se à pressão de uma única freguesia, que se dizia representar o alto concelho, e, talvez pior, às ameaças do candidato que queria – e foi – à viva força ser vice presidente.
Ainda assim, e depois de ter aceite todas as condições e condicionantes de António Silva, inclusive a de ficar com a pasta dos Recursos Humanos, o Presidente da Câmara deveria, a meu ver, ter travado a crise, agora quase incontrolável, aos seus primeiros sinais. E recordo que eles aconteceram ainda antes das eleições, durante a campanha eleitoral, quando surgiram, numa noite, graves divergências com o segundo da lista motivando a criação de duas sedes de campanha: a de António Silva e a dos “outros”.
Admito, contudo, que os valores humanos do líder o tivessem influenciado a dar-lhe uma segunda oportunidade. Todas as pessoas a merecem. Mas não tinha sido já dada essa segunda oportunidade a António Silva com a sua inclusão nas listas contra tudo e contra todos e depois do que foi acontecendo ao longo da sua carreira política? Não podemos branquear o que ele fez a todos os líderes que o sucederam no partido. Eram, todos eles, assim tão maus?
Em todo o caso, Soares Marques, decidiu fazer essa aposta que, acredito, no seu íntimo sabia condenada ao fracasso. Não poderia, no entanto, permitir que o mau ambiente se instalasse na autarquia logo após a nomeação de António Silva para a vice-presidência. São daí conhecidas as ameaças, as rupturas, as confusões e “as vinganças” com funcionários que provocava e tornava claro para todos os que iam assistindo por fora que, mais tarde ou mais cedo, a casa viria abaixo.
Era então, creio, a altura certa para dizer: basta! Não direi que agora é tarde demais. Mas é tarde. Muito tarde! Porquê? Perguntem a um médico quando é que se deve retirar um cancro que ameaça perigar a vida de um doente e obterão a resposta. Um bom médico dirá: aos primeiros sintomas.Etiquetas: autarquia, câmara, crise, Mangualde